A Apresentação de Nossa Senhora e a consagração

Recordamos a importância da consagração a Deus no dia da Apresentação de Nossa Senhora.

A Apresentação de Nossa Senhora e a consagração

Apresentação de Nossa Senhora

Na celebração da Apresentação de Nossa Senhora no Templo de Jerusalém, somos convidados a meditar sobre o mistério de uma vida totalmente consagrada a Deus. A memória da Apresentação da Bem-Aventurada Virgem Maria, uma das festividades mais queridas da tradição oriental desde o século IV, passou a ser celebrada também no Ocidente a partir do século XIV. Celebramos memória da Apresentação de Nossa Senhora no dia 21 de Novembro. Neste dia, “Maria mostra-se-nos como o templo em que Deus depositou a sua salvação e como a serva que se consagra completamente ao Senhor”1. Por ocasião desta celebração, comemoramos também o dia da Vida Contemplativa, ou dia Pro Orantibus, que foi instituído pelo Papa Pio XII em 21 de novembro de 1953. Nesta ocasião, a Igreja Católica recorda as comunidades religiosas de clausura, que abraçaram uma vida totalmente contemplativa e vivem daquilo que a Providência divina lhes concede mediante a generosidade dos fiéis. A celebração da consagração de Maria deste ano torna-se ainda mais significativa por ocasião do Ano da Vida Consagrada, que começa no dia 30 de novembro e se encerra em 02 de Fevereiro de 2016. Nesta data, recordamos igualmente aquelas pessoas que se consagram através santa escravidão de amor2, à semelhança da Virgem Maria, que também se fez “escrava do Senhor”3.

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A celebração da consagração total da Virgem de Nazaré ao Senhor no Templo é uma ocasião oportuna para agradecer Deus pelo dom de tantas pessoas que, nos mosteiros e nas clausuras, se dedicam totalmente a Ele na oração, no silêncio e no escondimento do mundo. Ao voltar o nosso pensamento para estas vocações, podemos perguntar: que sentido e que valor tem uma consagração tão radical em nosso tempo? Pois, hoje são numerosas e urgentes as situações de pobreza e de necessidade que afligem um número incalculável de pessoas. “Por que ‘fechar-se’ para sempre dentro dos muros de um mosteiro e privar assim os outros da contribuição das próprias capacidades e experiências? Que eficiência pode ter a sua oração para a solução dos numerosos problemas concretos que continuam a afligir a humanidade?”4.

Não obstante estes questionamentos, muitas pessoas deixam suas famílias e abandonam carreiras profissionais promissoras para abraçar a regra austera de um mosteiro de clausura, suscitando a admiração de amigos e conhecidos. O que leva essas pessoas a dar um passo tão difícil e exigente? Certamente, o que leva essas pessoa a entrega tão radical é a compreensão de que o Reino dos Céus é um “tesouro” pelo qual vale verdadeiramente a pena abandonar tudo5. “Estes nossos irmãos e irmãs testemunham silenciosamente que no meio das vicissitudes quotidianas, por vezes bastante agitadas, o único apoio que jamais vacila é Deus, rocha inabalável de fidelidade e de amor”6. Por vezes, sentimos necessidade de sair da rotina quotidiana das grandes cidades em busca de espaços propícios para o silêncio, a oração e a meditação. Para estes momentos, os mosteiros de vida contemplativa oferecem-se a nós como verdadeiros “oásis”, nos quais nós, que somos peregrinos nesta Terra, podemos chegar melhor às fontes do Espírito e matar a nossa sede ao longo do caminho para a Pátria Celeste. “Estes lugares aparentemente inúteis, são ao contrário como os ‘pulmões’ verdes de uma cidade: fazem bem a todos, também a quantos não os frequentam e talvez ignorem a sua existência”7. O mesmo podemos dizer das Novas Comunidades e dos Novos Movimentos, que surgiram depois do Concílio Vaticano II na Igreja Católica. Neles, o Espírito Santo tem saciado a sede de muitos homens e mulheres, que padecem neste mundo sequioso.

Por todas as vidas consagradas, demos graças ao Senhor, que na sua Providência, quis as comunidades de clausura e as congregações, masculinas e femininas, as novas comunidades e movimentos, para o bem da Igreja e da sociedade. Por isso, não deixemos faltar a estas obras de Deus o nosso apoio espiritual e também material, para que elas possam realizar bem a sua missão, que consiste em manter viva na Igreja a fervorosa expectativa da segunda vinda de Cristo8. Além disso, para que não lhes falte o necessário, invoquemos com confiança a intercessão da Virgem Maria que, na memória litúrgica da sua Apresentação no Templo, contemplamos como Mãe e modelo da Igreja. Nós a veneramos como Mãe e modelo da Igreja poque a Virgem Maria reúne em si todas as vocações: para a virgindade consagrada e para o matrimônio, para a vida contemplativa e para a ativa.

Na Apresentação de Maria no Templo, recordamos também aquelas pessoas que se consagram inteiramente a Jesus Cristo, pelas mãos da Santíssima Virgem9. Pois, a Mãe do Filho do Altíssimo foi a primeira consagrada a Jesus Cristo, a primeira “escrava do Senhor”10. Mais ainda, ela foi o primeiro templo vivo do Senhor, a primeira casa de Deus não construída por mãos humanas11. À semelhança da Virgem Maria, somos chamados a entregar toda a nossa vida por amor a seu Filho Jesus Cristo. Esta consagração total a Jesus já acontece no sacramento do Batismo. Todavia, somos chamados a renovar nossa consagração a Jesus, na escravidão de amor, ou seja, pelas mãos de Maria. Isto significa que devemos entregar não somente o nosso corpo e tudo o que temos e fazemos: os bens materiais e as boas obras; mas também a nossa alma: a nossa inteligência, os nossos pensamentos, a nossa vontade; e o nosso coração: os nossos sentimentos, os nossos desejos, as nossas paixões; a Nossa Senhora, para pertencermos de modo mais perfeito a Jesus Cristo. Entregamos a Virgem Maria inclusive os valores satisfatório e meritório das nossas orações, penitências, jejuns, sacrifícios e boas obras, o que não é pedido nem mesmo aos membros de ordens religiosas12.

Assim, no dia que celebramos a Apresentação de Nossa Senhora no Templo de Jerusalém, recordemos com grande alegria a consagração total da Virgem de Nazaré, pois esta entrega de corpo e alma ao Senhor tornou possível que ela fosse o primeiro tabernáculo vivo do Filho de Deus13. Esta consagração total faz da Virgem Maria modelo por excelência da vida consagrada, pois ninguém se entregou mais perfeitamente ao seu Filho do que ela. A Mãe do Senhor foi a primeira monja, a primeira contemplativa da Igreja, depois do Pentecostes14, e também o primeiro Templo vivo de Deus, no mistério da Encarnação do Verbo15. Nela, o Filho do Altíssimo se fez homem e, durante a gestação, encontrou as suas delícias. Na sua casa humilde, em Nazaré, Jesus Cristo passou a maior parte de sua vida terrena. Todos esses motivos nos ajudam a compreender que a vida escondida de uma consagração, longe de nos afastar dos desígnios do Pai, nos faz cumprir mais fielmente a Sua vontade, a exemplo de Jesus16 e de Maria17, que Lhe foram fiéis até o fim18. Por fim, recordamos que no dia 21 de novembro de 1964, o Papa Paulo VI renovou a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria e declarou-a Mãe da Igreja19. Por isso, esta data é para nós mais do que um convite para que nos consagremos totalmente a Santíssima Virgem e nos coloquemos sob a sua maternal proteção, como admoestou-nos Paulo VI: “exortamos todos os filhos da Igreja a renovar pessoalmente a sua própria consagração ao Coração Imaculado da Mãe da Igreja, e a viver este nobilíssimo ato de culto com uma vida cada vez mais conforme à Vontade Divina, e em espírito de serviço filial e de devota imitação da sua celeste Rainha”20. Nossa Senhora, Mãe da Igreja, rogai por nós!

Referências:

2 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 68-77.

3 Lc 1, 38.

5 Cf. Mt 13, 44.

6 PAPA BENTO XVI. Op. cit.

7 Idem.

8 Cf. At 1, 10-11; cf. 1 Tes 4, 16-17.

9 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 123.

10 Lc 1, 38.

11 Cf. At 17, 24.

12 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 123.

13 Cf. Lc 1, 35.

14 Cf. At 2, 1-13.

15 Cf. Lc 1, 26-38.

16 Cf. Lc 22, 42; cf. Mt 26, 39.

17 Cf. Lc 1, 38.

18 Cf. Jo 19, 25.

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