O fetiche da perfeição!

A busca por uma perfeição pode esconder na verdade o desejo de endeusamento de si e abrir a porta para o pior dos pecados, a soberba.

A nota na facul tem que ser a melhor, o concurso é bom se passar nos 3 primeiros lugares, a confissão pode ser anual afinal de contas sou perfeito. O fetiche da perfeição nunca esteve tão na moda. E o pior é quando este fetiche atinge nosso relacionamento com Deus, consigo e com o outro.

Um relacionamento com Deus baseado numa “perfeição” é ao mesmo tempo um ideal inalcançável e frustrante. A própria relação com Deus é imperfeita pois em sua essência trata-se do Criador perfeito com a criatura imperfeita. Ele o grande e eu o pequeno. Ele o santo e eu o pecador. Ele o Deus e eu o homem! Com isso não quero dizer que devemos deixar a vida nos levar já que não temos “recuperação” mesmo. Não é isso. Mas pelo contrário entrar na dinâmica de um relacionamento que Ele sempre sai ganhando me coloca na condição que devo estar: a do necessitado. Isso cria a oportunidade da santidade. 

Quando pego minhas imperfeições e apresento ao perfeito, nisso consiste a santidade. Assumir meu nada diante do tudo é o caminho dos santos. A busca por uma perfeição pode esconder na verdade o desejo de endeusamento de si e abri a porta para o pior dos pecados a soberba.

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O ser deseja e anseia se revelar 

Quando tenho para com Deus um relacionamento baseado na “perfeição” e não na santidade corro o risco de negar minha humanidade e não olhá-la como lugar de integração. Não tenho paciência para com o caminho trilhado e toda queda torna-se o abismo de minha autodestruição. Na busca da “perfeição” do estar sempre “acabado” e “pronto” vou mostrando uma vida que é aparência e não essência. Caminho certo para autoilusão e autodestruição, pois somos incapazes de manter “ad eternum” a aparência. O ser deseja e anseia se revelar. 

É preciso harmonizar o interior, jogar luz sobre as sombras internas é um caminho tanto quando saudável quanto o verdadeiro itinerário para santidade. Caiu? Fique de joelhos diante do sacerdote se confesse e recomece. Não queira bancar o perfeito, pois isso não é honesto para com sua condição humana.

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Não queira ser perfeito, queira ser santo.

E uma vez que somos auto-exigentes com nossa sede de “perfeição” podemos projetá-la aos outros e assim colocaremos a perder não só relacionamentos, mas vidas. Exigir do outro algo que não está posto a sua realidade de gente é no mínimo não agir de forma empática e caridosa. Tudo tende a se corromper e não estabeleceremos intimidades e sim profundas distâncias interiores e exteriores. 

É preciso ir ao encontro do outro sabendo que ali está diante de nossos olhos um ser humano. Rico em experiências humanas e estas muitas vezes trazem no combo os limites, os pecados e até mesmo as sombras da humanidade. Não ter medo e sim abrir espaço para que o outro entre e possa ser acolhido em sua totalidade!

Enfim o fetiche da perfeição, o estar pronto a todo momento é não entender que a vida vai sendo a cada escolha, que só na eternidade teremos o peso do que vivemos e ali tudo será medido. O momento do agora é a melhor oportunidade para ir atrás daquilo e naquilo que precisamos dar passos e buscar o devido crescimento. Não queira ser perfeito, queira ser santo.

 

Adriano Gonçalves

Comunidade Canção Nova

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