«Simeão tomou-O nos braços»

Na oração de quietude, o Senhor começa por nos mostrar que nos ouve e que nos concede o Seu Reino, a fim de que possamos verdadeiramente bendizê-Lo e santificar o Seu nome e de que incitemos todos os homens e mulheres a fazer o mesmo. É qualquer coisa de sobrenatural e que não podemos alcançar pelos nossos esforços, por mais que façamos.

Com efeito, aqui, a alma mergulha na paz ou, melhor dito, o Senhor envolve-a nela com a Sua presença, tal como fez com o justo Simeão. Então, todas as potências da alma se apaziguam e ela compreende, com um tipo de compreensão muito diferente daquele que nos vem por meio dos sentidos exteriores, que está muito perto do seu Deus e que, por um pouco, conseguiria chegar a ser, pela união, uma só coisa com Ele. Não que O veja com os olhos do corpo nem com os da alma; o justo Simeão também não viu, exteriormente, mais do que o augusto Pobrezinho e, pelos panos que O envolviam e pelo pequeno número dos que Lhe faziam cortejo, poderia tê-Lo tomado pelo filho de pessoas pobres, mais do que pelo Filho do Pai celeste. Mas a própria Criança o fez perceber Quem era. Aqui, é da mesma maneira que a alma compreende; ainda assim, apreende-o de forma menos clara, porque ainda não percebe como é que compreende. Sabe apenas que se encontra no Reino ou, pelo menos, perto do Rei que deve dar-lho, e é presa de um tão grande respeito, que não ousa pedir-Lhe nada.

Comentário ao Evangelho de Lucas 2,22-35 feito por :
Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, Doutora da Igreja
O Caminho da Perfeição, Cap. 31/33 (trad. OC, Cerf 1995, p. 814)