Que a carne se aproxime do verbo encarnado hoje, para com Ele desaprender o que é a carne e com Ele aprender a passar, pouco a pouco, da carne ao Espírito. Portanto que nos aproximemos hoje porque um novo sol brilha mais do que de costume. Até então fechado em Belém na estreiteza de uma manjedoura e conhecido por um pequeno número de pessoas, Ele vem agora a Jerusalém, ao Templo do Senhor; é apresentado a mais do que uma pessoa. Até então, tu, Belém, alegravas-te sozinha com a luz que tinha sido dada a todos; orgulhosa dum privilégio e de uma notícia inaudita, podias rivalizar com o próprio Oriente pela tua luz. Melhor ainda, coisa inacreditável de se dizer, havia em ti, numa manjedoura, mais luz do que a que o sol deste mundo pode espalhar, quando nasce. […] Mas hoje, o Sol eleva-se para irradiar sobre o mundo. Oferecemos ao Templo de Jerusalém o Senhor do Templo.
Como são felizes os que se oferecem a Deus tal como Cristo, como uma pomba, no íntimo de um coração tranquilo! Esses estão preparados para celebrar com Maria o mistério da purificação. […] Não foi a Mãe de Deus que foi purificada neste dia, porque nunca consentiu no pecado. É o homem, manchado pelo pecado, que hoje é purificado pelo filho que Ela teve e pela sua consagração voluntária. […] Foi a nossa purificação que, por Maria, foi obtida. […] Se nos abraçarmos com Fé ao fruto das suas entranhas, se nos oferecermos com Ele no Templo, o mistério que celebramos nos purificará.
Comentário ao Evangelho de Lucas 2,36-40 feito por :
Adão de Perseigne (? -1221), Abade cisterciense
Sermão 4 para a Purificação (trad. Pain de Citeaux 26, pp. 15 rev. Tournay)