«Cala-te e sai desse homem»

«Jesus ameaçou o demónio dizendo: «Cala-te e sai desse homem.»». A Verdade não necessita do testemunho do Mentiroso. […] «Não necessito do reconhecimento daquele que condeno. Cala-te! Que a Minha glória resplandeça no teu silêncio. Não quero que seja a tua voz a fazer o Meu elogio, mas o teu tormento; pois a tua condenação é o Meu triunfo. […] Cala-te e sai desse homem!» Ele parece dizer: «Sai de Mim; que fazes sob o meu tecto? Eu desejo entrar: por isso, cala-te e sai desse homem, do homem, este ser dotado de razão. Abandona este lugar preparado para Mim. O Senhor deseja entrar em Sua casa, sai desse homem». […]

Vede até que ponto a alma do homem é preciosa. Isto contraria os que pensam que nós, os homens, e os animais somos dotados de uma alma idêntica e animados por um mesmo espírito. Noutro momento, o demónio é expulso de um só homem e enviado para dois mil porcos (Mt 8, 32); o espírito precioso opõe-se ao espírito vil, um é salvo, o outro perde-se. «Sai desse homem, vai para os porcos, vai para onde quiseres, atira-te ao abismo. Abandona o homem, ou seja, aquilo que Me pertence por direito; não permitirei que possuas o homem, porque seria uma injúria para Mim se te estabelecesses nele em Meu lugar. Assumi um corpo humano, habito no homem: esta carne que tu possuis faz parte da Minha carne. Sai do homem.»

Comentário ao Evangelho de Marcos 1,21-28 feito por :
São Jerónimo (347-420), presbítero, tradutor da Bíblia, Doutor da Igreja
Comentário sobre o Evangelho de São Marcos, 2; PLS 2, 125ss. (trad. DDB 1986, p. 48)