«Vós também haveis de dar testemunho»

A missão de Cristo na terra estava cumprida, mas era necessário que nos tornássemos «participantes da natureza divina» do Verbo (2Ped 1, 4), isto é, que a nossa vida anterior fosse abandonada para se transformar numa nova […]. De facto, enquanto viveu visivelmente entre os seus, Cristo surgia-lhes, segundo julgo, como o dispensador de todos os bens. Mas quando chegou o momento em que teve de subir ao Pai celeste, foi necessário que Ele continuasse presente entre os seus fiéis por meio do Espírito e que habitasse pela fé nos nossos corações (Ef 3, 17).

Aqueles em quem habita o Espírito são transformados e recebem d’Ele uma vida nova, como facilmente podemos demonstrar pelos exemplos tanto do Antigo como do Novo Testamento. Samuel, dirigindo-se a Saúl, diz: «O espírito do Senhor virá então sobre ti» (1Sam 10,6). E São Paulo afirma: «E nós todos que, com o rosto descoberto, reflectimos a glória do Senhor, somos transfigurados na Sua própria imagem, de glória em glória, pelo Senhor que é Espírito» (2 Cor 3, 18).

Vês como o Espírito transforma em outra imagem aqueles em quem habita? Facilmente os faz passar da consideração das coisas terrenas ao olhar voltado unicamente para as realidades celestes, e os conduz da tibieza à vida heróica. Foi o que sucedeu com os discípulos: fortalecidos pelo Espírito, não se deixaram intimidar pelos seus perseguidores, permancendo unidos a Cristo pelo vínculo de um amor invencível. Facto indubitável. É pois verdade o que nos diz o Salvador: «É melhor para vós que Eu vá» (Jo 16, 7). Pois esse é o momento da descida do Espírito Santo.

Segunda-feira da 6ª semana da Páscoa :
Comentário ao Evangelho de Jo 15,26-27.16,1-4 feito por
S. Cirilo de Alexandria (389-444), Bispo e Doutor da Igreja
Comentário ao Evangelho de S. João, 10 (trad. bréviaire)