O ser humano é um complexo de espiritual e do material. Ambos os elementos se complementam, mas, por uma questão mesmo de hierarquia dos valores, somos levados a reconhecer a primazia do espiritual sobre o material.Sob este aspecto, o conceito de vida jamais poderia restringir-se, apenas, à dimensão física e corporal. Já que dotada, igualmente, de alma imortal, a criatura humana traz consigo todo um potencial para a vida eterna, e que ultrapassa a realidade de uma vida apenas terrena. Basta considerarmos o irresistível anseio pela vida, profundamente arraigado em nosso ser, a fazer-nos reconhecer a insuficiência da vida terrena, tão efêmera e inconsistente.
As promessas do amor infinito de Deus nos levam, pois., a colocar, de fato, a ordem nas coisas, já que o projeto divino nos predestina à felicidade plena, só mesmo viável no gozo da vida eterna. Chegamos, assim, ao momento decisivo, e no qual saberemos distinguir o prioritário do secundário. Muito oportuna a prudente admoestação de Jesus: “ Que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida?” ( Mc 8, 36).
Para uma autêntica vivência na fé é de máxima importância a certeza que se professa na fundamental verdade: “ Creio na Vida Eterna”. O evangelista São Lucas nos descreve o episódio relevante na vida de Jesus ao advertir a Marta: “ Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária.” ( Lc 10,41)
Entre outras possíveis interpretações, o único necessário, lembrado por Jesus, refere-se à aquisição da vida eterna, como coroamento da salvação para nós preparada pela infinita misericórdia do Senhor. No empenho de nos despertar para a devida ordem nas coisas, a carta aos Hebreus recomenda: “ Enquanto permanece a promessa de entrarmos no descanso de Deus, tenhamos cuidado de não corrermos o risco de sermos excluídos” ( Hb 4,1).
Sim, a exclusão da vida eterna! Que amarga frustração! Saibamos, por conseguinte, imitar o exemplo de Maria, irmã de Marta, sentada aos pés do Senhor, e a escutar a sua palavra. Apesar de envolvidos com os afazeres diários, na busca do essencial e do indispensável, reservemos o tempo necessário para reavivarmos na fonte viva do Evangelho, o interesse pelos valores eternos, tanto na vida pessoal, como também em toda a sociedade.
Dom Roberto Gomes Guimarães
Bispo Diocesano de Campos – RJ