Quando lês que Jesus «ensinava nas sinagogas e todos O elogiavam», guarda-te de considerar felizes aqueles que então ouviram Cristo, considerando-te como que privado de ensinamento. Porque, se a Escritura é verídica, o Senhor não falou apenas antigamente, nas assembleias dos judeus, mas fala também hoje, na nossa, e não apenas aqui e agora, mas nas audiências do mundo inteiro. […] Hoje, Jesus é ainda mais «elogiado por todos» do que no tempo em que só era conhecido numa região. […]
«Ele ungiu-me», diz Ele, «para anunciar a Boa-Nova aos pobres», significando que os pobres são os pagãos; com efeito, eram pobres por não terem nada: nem Deus, nem Lei, nem profetas, nem justiça, nem força alguma. Por que foi que Deus O enviou como mensageiro aos pobres? Para «proclamar a libertação aos cativos» – que éramos nós: prisioneiros acorrentados há muito, sujeitos ao poder de Satanás. E para anunciar «aos cegos a recuperação da vista», porque a sua palavra devolve a visão aos cegos. […]
Jesus «enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-Se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nEle». Também agora, se quereis, aqui, na nossa igreja, podeis fixar os olhos no Salvador. Quando diriges o olhar mais profundo do teu coração para a contemplação da Sabedoria e da Verdade, do Filho único de Deus, tens os olhos fixos em Jesus. Bem-aventurada é a assembleia de quem a Escritura diz: «Todos tinham os olhos fixos nele»! Como quereria que a nossa merecesse este mesmo testemunho e que os olhos de todos, catecúmenos e fiéis, mulheres, homens e crianças, vissem Jesus com os olhos da alma! Porque, mal O tenhais contemplado, a vossa face e o vosso olhar serão iluminados pela Sua luz e podereis dizer: «Levantai sobre nós, Senhor, a luz da Vossa face!» (Sl 4, 7).
Comentário ao Evangelho de Lucas 4,14-22 feito por :
Orígenes (v.185-253), sacerdote e teólogo
Homilias sobre São Lucas, n°32 (trad. cf. SC 87, pp. 386-392)