Obviamente, é uma palavra «certa e digna de toda a aceitação» (1Tim 1,15), porque a Tua Palavra é omnipotente, Senhor! Descida de um imenso e profundo silêncio, do alto, das moradas reais do Pai (Sb 18,14-15), para repousar numa manjedoura de animais, esta Palavra fala-nos melhor, por agora, através do Seu silêncio. «Quem tiver ouvidos, oiça» o que nos diz este santo e misterioso silêncio do Verbo eterno […]
Com efeito, haverá alguma coisa que inculque a regra do silêncio com tanta força e autoridade, que reprima o mal inquieto da língua e das tempestades de palavras […], como a Palavra de Deus, silenciosa entre os homens? «A palavra ainda não me chegou à boca» (Sl 138, 4), parece proclamar a Palavra omnipotente, desde que se submete a Sua mãe. E nós, com que loucura dizemos: «confiamos na força da nossa língua; os nossos lábios nos defenderão; quem nos poderá dominar?» (Sl 11, 5) Que doçura seria para mim, se me fosse permitido guardar silêncio, apagar-me e calar-me, sem ter sequer de falar sobre o bem, para poder prestar mais atenção, para ficar mais recolhido, para escutar as palavras secretas e os significados sagrados deste silêncio divino! Como gostaria de ir à escola do Verbo por tanto tempo quanto o que o próprio Verbo guardou silêncio, na escola de Sua mãe. […]
«O Verbo fez-se homem e veio habitar connosco» (Jo 1,14). Ponhamos então toda a nossa devoção, irmãos, em meditar sobre Cristo envolto nos panos com os quais Sua mãe O cobriu, para que vejamos, na alegria eterna do Reino, a glória e a beleza com a qual Seu Pai O terá revestido.
Beato Guerric d’Igny (c.1080-1157), abade cisterciense
5º sermão para o Natal (trad. cf. SC 166, pp. 227 e R. Thomas, Pain de Cîteaux)