“Podem os convidados de um casamento jejuarem enquanto o noivo se encontra presente entre eles” (Lc 5,34).
Estas foram as palavras de Jesus em resposta aos fariseus e mestres da Lei ao censurarem os seus discípulos sobre a falta da prática do jejum entre os seus seguidores. Sabemos que Jesus não estava negando o valor nem abolindo sua prática. Na realidade estava pondo em ordem, em seu devido lugar já que Ele mesmo era o foco, a razão, e o “a quem” se dirigia o próprio jejum: Ele é Deus Criador com o Pai e o Espírito Santo. Por isso, Ele mesmo se chama o Noivo desta festa de casamento que é sua vinda ao mundo, sua entrega à cruz em prol de sua Noiva – a Igreja (a esta festa muitos são seus convidados, todos nós).
Jesus nos ensina o verdadeiro valor da prática do jejum, de modo novo mesmo sendo uma prática antiga. No Evangelho mesmo – Lc 5,36-39 – Jesus nos fala de “retalho novo na roupa velha” ou “vinho novo em odres velhos”. Seu ensinamento é novo, mas nós, como odres velhos. Por isso vai dizer “vinho novo em odres novos”, Jesus trás um vinho que fermenta vida nova (Cf. A. Schökel).
Jesus que “não veio abolir a Lei, mas levá-la à perfeição”, repito, vem dar-nos pleno sentido a respeito da prática penitencial do jejum. Os Israelitas jejuavam para reviver, “rememorar” acontecimentos dolorosos acontecidos no passado como forma de ação de graças (Eu-cháritas – Eucaristia), no presente em expectativa de futuro (espera do Messias – Libertação). Neste sentido se continua o mesmo modo de jejuar só que, com Cristo, se toma uma nova proporção. Ele realizou uma interrupção histórica (“o noivo se encontra presente”) para fazer-nos alcançar o novo.
Em Jesus nós agora jejuamos com propriedade: queremos reviver, “rememorar” (em nossa carne) tudo o que Ele sofreu por nós no passado, como forma de ação de graças neste momento presente, em vista de seu retorno futuro – salvação. Aqui se insere nossos desejos, intenções onde tantas vezes apresentamos ao Senhor por meio desta prática. E a isto podemos chamar, em sentido amplo, de Eu-cháritas – Ação de graças – Eucaristia.
PE. ELENIO DE B. ABREU
Vigário da Paróquia de São Benedito
em Campos dos Goytacazes
Homilia, sexta-feira da XXII – tempo comum.