A Anunciação do Senhor

A Anunciação do Senhor

Naquele tempo, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da Virgem era Maria. O anjo entrou onde ela estava e disse: ‘Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!’

Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. O anjo, então, disse-lhe: ‘Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim’.

Maria perguntou ao anjo: ‘Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?’ O anjo respondeu: ‘O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, porque para Deus nada é impossível’. Maria, então, disse: ‘Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!’ E o anjo retirou-se.”

Lucas 1, 26-38

Na Solenidade da Anunciação do Senhor, celebramos o Anúncio do Anjo Gabriel a respeito do plano de amor de Deus, revelando que o Salvador viria ao mundo e que Deus havia escolhido Ela, Maria, para gerar o Salvador e trazê-Lo a nós, para nos salvar. Celebramos o mistério da Encarnação do Verbo, do Deus que se fez carne para salvar a humanidade, salvar a todos nós.

Segundo Paulo VI na Exortação Apostólica Marialis cultus, de 1974, diz que a “Anunciação do Senhor” se trata da festa conjunta de Cristo e da sua Mãe. E de fato não é possível separar, pois é o mistério da Encarnação do Verbo, mas também do “Sim”, do “Faça-se” de Maria, através do qual o Plano de Deus foi concretizado.

Esse “Sim”, esse “Faça-se” de Maria, dado fiel e livremente, foi o início de uma nova etapa da relação entre Deus e os homens. Da Sua resposta dependeu toda a humanidade. Maria faz parte da nova aliança de Deus com os homens.

O Catecismo da Igreja nos diz que A Anunciação da Vinda do Senhor a Maria, inaugura a “plenitude dos tempos” (Gl 4,4), isto é, o cumprimento das promessas e das preparações. Maria é convidada a conceber Aquele em quem habitará “corporalmente a plenitude da divindade” (Cl 2,9).

“O Filho de Deus, que existe desde todos os séculos — Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro —, veio e quis amar-nos, quis derramar sobre nós a sua caridade divina, o seu amor infinito amando-nos com uma alma humana, com um Coração humano! Deus criou para si corpo e alma, uma natureza humana. Esse é o mistério que celebramos hoje, o mistério da Encarnação. Deus veio, já não estamos mais sozinhos, como diz […] o profeta Isaías: Ele é ‘Emanuel, Deus conosco.’ Deus está conosco, está presente entre nós, mas de uma forma diferente. Sim, Deus está presente em todos os lugares; sim, Deus já estava presente no coração dos justos antes de Cristo vir ao mundo, agora porém Deus está presente na nossa humanidade de outro modo, porque a humanidade de Cristo tornou-se o instrumento da nossa salvação. É nele e por Ele que somos salvos. Que beleza esse mistério! Por isso nós católicos nos prostramos e nos ajoelhamos para adorar o corpo humano, a alma humana, a natureza humana viva que está no sacrário. Ali não há somente um homem como nós, pois Ele é Deus — Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro. Que grande mistério, que maravilha! Ora, o primeiro sacrário — poderíamos até dizer: o único e verdadeiro — foi Nossa Senhora, que acolheu de Coração agraciado ao Deus que vem.”- Padre Paulo Ricardo, Homilia de 25.03.2021.

A Solenidade nos convida a refletir sobre a grandeza do amor de Deus por nós, que decide mesmo na sua grandeza e poder, se fazer homem, ser gerado no ventre de uma mulher para nos salvar. Mas nos convida também a refletirmos e imitarmos duas virtudes bem presentes em Jesus Cristo e em Maria: a humildade e a obediência.

Maria é humilde porque reconhece a Sua total pertença a Deus, se entregando a Ele inteiramente como escrava, esquece-se de si mesma e é isto que atrai o olhar de Deus sobre Ela e, assim, o Verbo, Nosso Senhor Jesus Cristo deseja fez Nela morada e assumiu a carne e o sangue Dela para nossa salvação.

Jesus Cristo se faz humilde, pois mesmo sendo Deus, não se engrandece por isso, mas aceita se tornar homem, se encerra por nove meses no ventre santo da Virgem Maria, ali é gerado e, vindo ao mundo, sofre tudo que tinha de sofrer por amor a nós.

Jesus Cristo e Maria são obedientes a Deus ao dizerem sim a Ele. Eles fazem prevalecer não a vontade Deles, mas a vontade do Pai. Eles obedecem a vontade de Deus para a vida Deles, aquilo que Deus esperava, desejava que Eles fizessem.

Maria, sendo totalmente humana, e Jesus, sendo totalmente Deus, utilizam da liberdade dada a Eles, não para satisfazerem-se, mas para comprometerem-se em seguir, em tudo, o plano de amor traçado pelo Pai para a vida Deles e para todos nós.

Tenhamos um coração agradecido a Deus por Seu plano de amor e salvação; a Jesus Cristo que sendo Deus se fez homem para nos salvar e a Santíssima Virgem que aceitou colaborar no plano de salvação, pois Deus quis depender do consentimento dela para executar Seu plano e Ela aceitou.

Mas façamos nosso agradecimento com a vida, correspondendo a esse grande amor do Pai, imitando a Maria e a Cristo com humildade, pois somente quando nos fazemos humildes diante de Deus, reconhecendo que Ele e só Ele é Deus e que só Ele pode todas as coisas em nós, damos a Ele a possibilidade de encontrar espaço no nosso coração e de se doar a nós sem medida, como já disse Santa Teresinha do Menino Jesus.

Que também busquemos viver imitando a Maria e a Jesus Cristo com a virtude da obediência hoje tão banalizada no mundo, pois a obediência a Deus nos leva à santidade e ser santo nada mais é que cumprir a vontade de Deus, conforme nos diz outra grande Santa Da Igreja, Santa Teresa D’Ávila.

E a vontade de Deus não nos é oculta, basta vivermos os Seus Mandamentos, vivermos de acordo com a Sagrada Escritura.

Para refletirmos a respeito da importância do “Sim” de Maria, segue uma das homilias de São Bernardo de Claraval sobre a espera do mundo inteiro pela resposta Dela, durante o episódio da Anunciação:

O mundo inteiro espera a resposta de Maria

Ouviste, ó Virgem, que vais conceber e dar à luz um filho, não por obra de homem — tu ouviste — mas do Espírito Santo. O Anjo espera tua resposta: já é tempo de voltar para Deus que o enviou. Também nós, Senhora, miseravelmente esmagados por uma sentença de condenação, esperamos tua palavra de misericórdia.

Eis que te é oferecido o preço de nossa salvação; se consentes, seremos livres. Todos nós fomos criados pelo Verbo eterno, mas caímos na morte; com uma breve resposta tua seremos recriados e novamente chamados à vida.

Ó Virgem cheia de bondade, o pobre Adão, expulso do paraíso com a sua mísera descendência, implora a tua resposta; Abraão a implora, Davi a implora. Os outros patriarcas, teus antepassados, que também habitam a região da sombra da morte, suplicam esta resposta. O mundo inteiro a espera, prostrado a teus pés.

E não é sem razão, pois de tua palavra depende o alívio dos infelizes, a redenção dos cativos, a liberdade dos condenados, enfim, a salvação de todos os filhos de Adão, de toda a tua raça.

Apressa-te, ó Virgem, em dar a tua resposta; responde sem demora ao Anjo, ou melhor, responde ao Senhor por meio do Anjo. Pronuncia uma palavra e recebe a Palavra; profere a tua palavra e concebe a Palavra de Deus; dize uma palavra passageira e abraça a Palavra eterna.

Por que demoras? Por que hesitas? Crê, consente, recebe. Que tua humildade se encha de coragem, tua modéstia de confiança. De modo algum convém que tua simplicidade virginal esqueça a prudência. Neste encontro único, porém, Virgem prudente, não temas a presunção. Pois, se tua modéstia no silêncio foi agradável a Deus, mais necessário é agora mostrar tua piedade pela palavra.

Abre, ó Virgem santa, teu coração à fé, teus lábios ao consentimento, teu seio ao Criador. Eis que o Desejado de todas as nações bate à tua porta. Ah! se tardas e ele passa, começarás novamente a procurar com lágrimas aquele que teu coração ama! Levanta-te, corre, abre. Levanta-te pela fé, corre pela entrega a Deus, abre pelo consentimento. Eis aqui, diz a Virgem, a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1, 38). ” – Das Homilias em louvor da Virgem Mãe, de São Bernardo, abade (Hom. 4,8-9: Opera omnia, Edit. Cisterc. 4, [1966], 53-54).

O “Sim”, a obediência de Maria venceu o “não”, a desobediência de Eva e fez a religação do homem a Deus, por isso Ela é chamada de Co-Redentora, já que cooperou ‘de modo singular, com sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador’.

Segundo Santo Agostinho, “Maria […] cooperou com sua caridade para que, nós, fiéis, nascêssemos para a vida da graça […].”

Portanto, sejamos, a exemplo de Nossa Senhora e com ela, instrumentos eficazes para a construção do Reino de Deus, para a salvação da humanidade.

FONTES:

www.padrepauloricardo.org

www.cleofas.com.br

www.schoenstatt.org.br