Diante da sociedade atual, a Igreja busca novos meios para anunciar a mensagem do Evangelho
Um dos temas de maior preocupação e interesse dos cardeais reunidos em Roma, no pré-Conclave, é a Nova Evangelização. Diferente do que muitos pensam, e o nome possa de alguma maneira sugerir, a Nova Evangelização não se trata de anunciar um conteúdo novo, mas sim, o mesmo conteúdo anunciado por Jesus, porém de maneira diferente, que seja capaz de alcançar o homem de hoje.
Em entrevista ao jornalista da Canção Nova, Ronaldo da Silva, o bispo responsável mundialmente por esse tema, aprofundou o assunto. Dom Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, lembrou que os dois últimos Papas, João Paulo II e Bento XVI, já disseram que a Igreja deve dedicar-se à Nova Evangelização com todo o esforço.
O bispo, que esteve várias vezes no Brasil e demonstrou simpatia pelo país, destacou que para a eficácia da Nova Evangelização é necessário um coerente testemunho cristão, “o Evangelho nos pede que sejamos coerentes com o nosso testemunho”. Dom Fisichella explicou ainda que a alegria de ter encontrado Cristo deve ser a primeira experiência a ser comunicada e definiu o perfil do Papa que a Igreja precisa para este momento.
Ronaldo da Silva – O que vem a ser esta Nova Evangelização com a qual os cardeais também estão preocupados?
Dom Rino Fisichella – Estão preocupados, porque a evangelização é a missão da Igreja nesses anos. João Paulo II e Bento XVI disseram, de forma clara, que a missão da Igreja, nos próximos anos, é dedicar-se com todos os esforços à Nova Evangelização, isso significa termos um convincente encontro com Jesus Cristo para poder comunicá-Lo a todos os homens e mulheres que encontramos no nosso caminho.
Ronaldo da Silva – Onde, hoje, o senhor enxerga esses exemplos, modelos de Nova Evangelização mundo afora?
Dom Rino Fisichella – Os modelos da Nova Evangelização são os de sempre, antes de tudo devemos encontrar Jesus. Com os nossos olhos devemos olhar nos olhos de Jesus e devemos olhar também a Igreja, apesar das dificuldades que existem, apesar de algumas pessoas não viverem coerentemente sua fé. Mas a Igreja é aquela que nos comunica Jesus Cristo. A sociedade de hoje mudou, é outra, nos encontramos com uma cultura diferente, muitas vezes distante de Deus, que não percebe a falta d’Ele como uma ausência. Nós, portanto, precisamos ser sempre mais capazes de nos aproximarmos uns dos outros para transmitir nossa alegria, mas lembro que este é também o tempo da comunicação, hoje o encontro acontece também com uma nova cultura, a cultura da comunicação.
Ronaldo da Silva – Em alguma parte do mundo, em algum continente isso está acontecendo mais profusamente?
Dom Rino Fisichella – Sim, mas devemos ser capazes de entrar também nesta cultura e saber expressá-la, creio que devemos ter consciência do grande dom que temos e também da grande pobreza presente no mundo.
Ronaldo da Silva – O senhor destacaria algum continente em que esta evangelização está acontecendo de forma admirável?
Dom Rino Fisichella – Sim, posso dizer que a Nova Evangelização diz respeito, sobretudo, ao Ocidente, àquelas nações que, há muito tempo, são cristãs, da Europa ao Brasil, dos Estados Unidos ao Canadá, da Austrália às Filipinas. A Nova Evangelização é nova, porque deve confrontar-se com um método diferente em uma sociedade diferente, porém não nos esqueçamos que Jesus Cristo é sempre o mesmo. A Nova Evangelização, portanto, não é um conteúdo diferente, é sempre o mesmo, Jesus é o mesmo, ontem, hoje e sempre e não muda, nós precisamos é ser capazes de encontrar os homens e mulheres de hoje que são diferentes.
Ronaldo da Silva – Falando diretamente do que está acontecendo no Vaticano nesses dias – o pré-Conclave -, os cardeais reunidos, estão destacando justamente a Nova Evangelização. O senhor está contente de saber que esta também é agora a preocupação máxima da Igreja?
Dom Rino Fisichella – Sim, estou também preocupado, mas o Sínodo que tivemos em outubro mostrou que há uma convergência em toda Igreja sobre a exigência da Nova Evangelização, portanto, estou feliz, porque esta é uma exigência que bispos e cardeais compreendem bem, é um compromisso para toda Igreja, que será também para o próximo Papa.
Ronaldo da Silva – Vamos levar essa preocupação para cada cristão, para cada leigo. Como devem incomodar-se diante dessa exigência da Nova Evangelização?
Dom Rino Fisichella – Antes de tudo, devemos atuar com muita alegria, saber que o que nos é dado é grande, é um grande presente. A alegria, portanto, é a primeira experiência que devemos manifestar, a alegria de ter encontrado Jesus, de sermos por isso felizes por termos encontrado a nós mesmos junto d’Ele e, junto a essa alegria, uma profunda coerência de vida, devemos ser coerentes. O Evangelho nos pede que sejamos coerentes com o nosso testemunho, portanto, devemos levar ao mundo o grande testemunho daqueles que são batizados, que vivam bem como batizados. Apesar das dificuldades, dos nossos limites, das nossas contradições, o que conta, na verdade, é o nosso modo de vida e, por último, eu diria, devemos ‘arregaçar as mangas’ e saber que devemos retomar o conhecimento de Jesus e da Igreja, por isso estamos no Ano da Fé, porque todos devemos conhecer Jesus, e também o conteúdo do que professamos e nisso estamos todos envolvidos, bispos, sacerdotes e leigos.
Ronaldo da Silva – Que Papa nós precisamos para este momento?
Dom Rino Fisichella – Um Papa segundo o coração de Jesus, que saiba estar totalmente a serviço da Igreja; porém, digo uma coisa, quem for eleito, seja quem for, uma vez que se sentará na Cátedra de Pedro é o Sucessor de Pedro, venha de onde vier. Não é importante nem sua língua, nem sua cor, nem sua nação, seja quem for será Pedro, o Sucessor de Pedro, e isso basta.
Fonte: papa.cancaonova.com