29. dezembro 2014 · Comentários desativados em Corrupção: Um cristão pode fazer "caixa dois"? · Categories: Artigos, Igreja

A corrupção traz graves consequências morais aqueles que a cometem

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O “caixa dois é um dinheiro não contabilizado, não oficializado. Você percebeu como, cada vez, os termos “improbidade administrativa, irregularidades, desvio de verbas, contratos sem licitação, gestão fraudulenta, esquemas, maquiagem dos números”,… tem aparecido nos noticiários em matérias sobre corrupção? Mas, o que está por trás disto? Quais as consequencias morais deste tipo de atitude? Qual o papel do cristão diante de propostas tentadoras em seu local de trabalho, na gestão do condomínio ou até mesmo em seus trabalhos pastorais na Igreja?

Mas afinal, o que significa corrupção? 

A corrupção é o ato ou efeito de se corromper, oferecer algo para obter vantagem em negociata onde se favorece uma pessoa e se prejudica outra. É tirar vantagem do poder atribuído. Originada do latim corruptus, a palavra “corrupção” significa “quebrado em pedaços”. O verbo “corromper” significa “tornar-se podre”. Em outras definições, observa-se que a palava deriva também de “corrumpere” (ou “rumpere“) é que da mesma origem latina vem a palavra “rota“, através de “ruptura“, que virou “rupta” no latim vulgar, um caminho aberto ou batido, e que está na origem do francês “route“, de “rota” e de “rotina”. A corrupção pode fazer parte da rotina, da caminhada, da vida de um cristão?

Já o termo “caixa dois” refere-se a recursos financeiros não contabilizados e não declarados aos órgãos de fiscalização competentes. A prática do caixa dois é ilegal, no entanto, a mesma é caracterizada quando uma determinada empresa deixa de emitir ou emitem notas fiscais com valor menor ao da transação realizada, para que sejam devidos menos impostos (ou tributos). Em outras palavras, trata-se de um mecanismo para fazer “sobrar” dinheiro no “caixa um” (declarado) e guardar no “caixa dois” (não declarado) e sua finalidade é a sonegação fiscal, que é crime técnico-financeiro no Brasil, com pena prevista na lei nº 7.492 de 16 de junho de 1986. De forma mais ampla, aplica-se o artigo 1º da Lei 8.137 de 1990 para relações tributárias, econômica e de consumo.

Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22,21)

Essa foi resposta dada por Jesus, quando um grupo de fariseus e herodianos, preparando uma armadilha, o questionou se devia pagar ou não os impostos: Ele pediu uma moeda, perguntou de quem era a inscrição… “Então, se usais a moeda de César, é porque César é quem manda de fato! Dai, pois, a César o que é de César!”  Mas, ficou por isso mesmo? Não. Claro que não, pois Jesus, porém, complementou: “Mas, dai a Deus o que é de Deus!” Pronto! Creio que está respondida, de modo esclarecido, a questão do “caixa dois”: não é moral ao Cristão ter atitudes corruptivas, nem participar de “esquemas financeiros. Deve-se, sim, pagar corretamente os impostos devidos por se tratar de princípios morais e normas da justiça social. Pode acontecer porque somos pecadores, mas não é correto.

Em um primeiro momento, Jesus estaria separando o mundo, as realidades, em dois blocos: um para Deus e outro para César? Deus e César, um ao lado do outro e com a mesma importância? Não, nada disso! Ao ensinar a dar a César o que é de César, o Senhor nos convida a compreendermos as estruturas, as complexidades e os contrastes da sociedade em que vivemos. O “César”, neste contexto, pode ser compreendido como tudo aquilo que diz respeito a nossa condição humana, que pode e deve ser apreciado e respeitado pelos cristãos – sem medo nem temor! – mas, ao ensinar e exortar a dar a Deus o que é de Deus, o Senhor nos recorda com toda seriedade que somente Deus é Deus. E para Deus, devemos dar tudo!

No documento de Bento XVI, intitulado “Caritas in Veritate”, é citado no parágrafo 22, que “infelizmente a corrupção e a ilegalidade estão presentes tanto no comportamento de sujeitos econômicos e políticos dos países ricos, antigos e novos, como nos próprios países pobres. No número de quantos não respeitam os direitos humanos dos trabalhadores, contam-se às vezes grandes empresas transnacionais e também grupos de produção local. As ajudas internacionais foram muitas vezes desviadas das suas finalidades, por irresponsabilidades que se escondem tanto na cadeia dos sujeitos doadores como na dos beneficiários.”

“Pecadores sim, corruptos não”, exortou Papa Francisco em uma de suas homilias. “O político corrupto, o homem de negócios corrupto e o eclesiástico corrupto, quando inicia a estrada da corrupção, mata, usurpa e vende-se continuamente (…) os três prejudicam os inocentes, os pobres, porque são os pobres que pagam a festa dos corruptos! A conta é apresentada a eles”. Praticamente “é como se deixasse de ser uma pessoa e se tornasse uma mercadoria”. Aliás, o corrupto “é precisamente uma mercadoria! Compra e vende: “este homem custa tanto: tu podes comprá-lo e depois vendê-lo!” Esta é a definição: “é uma mercadoria!”. Certamente, quando dizemos “este homem é um corrupto…”, devemos refletir, perguntando-nos se temos provas de quanto afirmamos. Porque “afirmar que uma pessoa é corrupta é dizer que está condenada, que o Senhor a expulsou”. Ela arrisca incorrer na “maldição de Deus” porque explorou os inocentes, e o “fez com luvas brancas, de longe, sem sujar as mãos”.

Portanto, de modo simples e direto: o arrependimento e o pedido de perdão é a porta de saída para os corruptos. Que possamos, juntos, rezar pela nossa conversão pessoal, pedindo perdão para aqueles que se deixaram corromper a fim de que obtenham a graça do arrependimento. Afinal, a partir de um coração corrupto chegou a traição às coisas de Deus – como a de Judas que traiu Jesus por trinta moedas.

Qualquer semelhança com a realidade é mera… falta de transparência.

Que Deus nos abençoe!

Um abraço,
Cleber Rodrigues

 

 Dica: Para aprofundar nesta reflexão, recomendo que ouça: “Deus Proverá” (por Mons Jonas Abib)


Referências:
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/cotidie/2014/documents/papa-francesco_20140617_meditazioni-72.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Corrup%C3%A7%C3%A3o
http://www.infoescola.com/economia/caixa-2/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Caixa_dois
http://www.etimologista.com/2012/10/a-origem-da-corrupcao.html
http://www.significados.com.br/erario-publico/