10. junho 2014 · Comentários desativados em Eu não torço desta vez! · Categories: Artigos, Cotidiano

 Importante: esse artigo foi publicado dia 10/06/2014 as 11h17min, ou seja 2 dias antes do abertura oficial (12 de junho) e 33 dias antes do término (13 de julho). Obviamente, não sabia que o Brasil teria o péssimo desempenho que teve (ficando em 4º lugar na classificação e o vergonhoso 7×1 contra a Alemanha) e muito menos a repercussão negativa que esse evento tem tido desde então: os casos de corrupção na entidade organizadora, sucateamento da infraestrutura construída as pressas em muitos lugares, a baixa popularidade do governo federal daquela ocasião. Assim, o texto original deste artigo será mantido para preservar a intuição profética do mesmo. Boa leitura.

“Eles vendem o justo por dinheiro, o indigente, por um par de sandálias; esmagam a cabeça dos fracos no pó da terra e tornam a vida dos oprimidos impossível”(Amós 2, 6-7)

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Recentemente, escrevi aqui sobre o legado da Jornada Mundial da Juventude e também partilhei uma proposta para solucionarmos o Brasil. Hoje, porém, quero apenas compartilhar alguns dados e a minha irrelevante opinião sobre o campeonato mundial de futebol, que acontecerá nos próximos dias aqui no Brasil. Diante das notícias que tenho lido sobre os gastos e o andamento das obras, minha vontade é fazer igual Jesus fez: trançar um chicote com cordas e “ir para as ruas”. Porém, vontade é uma coisa que dá e passa, por isso, não vou trançar nada, nem sairei para as ruas. Continuarei vivendo, normalmente, trabalhando e fazendo minha parte com fé em Deus e pé na estrada. 

Durante sua visita ao Brasil, Papa Francisco insistiu que vivêssemos, cada vez mais, a cultura do encontro, pautada no diálogo e buscando conversar sobre os problemas para solucionarmos de maneira conjunta. Eu quero conversar com você! Para começarmos a conversa, partirei do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que é uma medida para comparar e classificar os países de acordo com seu desenvolvimento (considerando “expectativa de vida ao nascer”, “educação” e “PIB”) e da premissa que o Brasil é uma nação que, embora tida como “em desenvolvida”, tem sérios problemas internos a serem resolvidos. Segundo a Wikipedia, uma “nação, do latim natio, de natus, é uma comunidade estável, historicamente constituída por vontade própria de um agregado de indivíduos, com base num território, numa língua, e com aspirações materiais e espirituais comuns”. Quero partilhar numa visão na.cio.nal, como nação e desconsiderando as desigualdades regionais ou bairrismos, ok?

Recentemente, li a seguinte afirmação no relatório “Refletir Brasil”, que “temos muitas das características de um país “pós moderno”, de vanguarda, inovador, contudo… precisamos fortalecer nossa autoestima e a participação política para acreditar que somos capazes. Precisamos ser protagonistas do presente e do futuro que bate à nossa porta e assumir a corresponsabilidade pelo Brasil, o país que vivemos e amamos.” Li e concordo. Que a autoestima do brasileiro precisa ser fortalecida, eu não tenho a menor dúvida. Mas enquanto isso não acontece, sinto-me tímido para entoar o clássico: “Ah, eu sou brasileiro, com muito orgulho e muito amor!” Sinto, sim que ele está aqui preso na garganta, mas não sai… Sai no máximo um: “Ah, sou brasileiro…” Antes que me julgue, não estou sendo antipatriota ou “sei-lá-o-nome” que você queira dar. Nem evocando jargões do tipo: “Brasil, ame-o ou deixe-o!”. Nada disso! Mas, quero propor uma reflexão sobre o nosso futuro. Colocar um pouco mais de lenha na fogueira. Se somos a pátria de chuteiras e estamos as margens de “copear” mais uma vez, penso que uma reflexão agora acerca do nosso futuro, seja um dos maiores legados deste eventos. Eu tenho um sonho!

Eu busco um mundo de sol.
Eu busco um mundo de luz.
Procuro a Pátria do amor, Meu Deus,
procuro sem descansar.”

Os visitantes estão chegando e a casa não está pronta. Não sei você, mas eu sinto uma boa pitada de “vergonha alheia”. Está chegando (ou melhor, já chegou) o mundial de futebol e todo esse investimento em obras faraônicas e com qualidade duvidosa. Se era pra ser um torneio “virtual”, melhor seria realizá-la daqui uns 10 anos: pelo menos com o avanço tecnológico já estariam popularizados aqueles óculos de realidade aumentada. “Ok, óculos! Hide errors, please…”

Pra começo de conversa: eu não torço pra nenhum time. Não tenho nada contra quem torce, quem lucra com isso ou joga sua “pelada” aos finais de semana. Não me interessa porque não é minha praia. Pois, penso que no “frigir dos ovos” pouco ou nada me impacta quem é o campeão municipal, estadual ou nacional de futebol. Mesmo sendo um entretenimento tido como “paixão nacional”, ainda assim, sinto que muito pouco (ou nada) me agrega. Mas, como eu disse: eu tenho um sonho. Sonho em ver o Brasil, pelo menos, disputando nas modalidades: saúde, educação, distribuição de renda, produtividade, segurança… Eu sonho porque na realidade já estamos perdendo. E perdendo feio.

Agonizando. Você já entrou em um posto de saúde público este ano? Eu já. Dê ao menos, uma espiadinha e veja onde está sendo “reinvestido” o dinheiro dos nossos impostos. Penso que seja hora de fazermos uma operação para tirar o sistema de saúde da UTI, pois está agonizando em todos os sentidos: quem atende, quem precisa de atendimento, quem sustenta. Que o Brasil vença, em saúde!

Mal educado. Quando foi a última vez que você entrou em uma escola pública? Se sua resposta foi no dia de votação das ultimas eleições, eu lamento. Pois, talvez sua relação com a escola seja 1) afetiva, pois deve ser a escola que você estudou e, atualmente, 2) somente como uma seção eleitoral. Repito: quando foi a última vez que você entrou em uma escola pública? E não me refiro às escolas-modelo e de carácter inovador e experimental considerada “uma escola democrática, para todos, em que se dá protagonismo ao aluno”, me refiro aquele “quarteirão murado” (normalmente pixado, mal cuidado e isolado) ocupando espaço no seu bairro, que se mais parece com um galpão de estoques do que com um “centro de educacional”. Outra pergunta: você sabia que, por mais um ano, a educação brasileira caiu no ranking mundial e está amargando na 37ª  posição dentre 40 países? Isso mesmo: infelizmente estamos nos piores lugares do ranking. Lembrei da música do Gabriel, o Pensador, onde rimava: “Futebol não se aprende na escola: é por isso que brazuca é bom de bola”. (Aliás, isso não precisa nem de pesquisa para comprovarmos!) Penso que é preciso investir formação para aumentar nossa exigência na qualidade de produtos e serviços. Precisamos ter mais qualidade na formação para sermos mais produtivos. Que o Brasil vença, em educação.

Desigual. Sabe qual o perfil sócio-econômico dos torcedores de um torneio mundial como esse? Não vou falar. Pesquise. Me responda: quantas pessoas você conhece que vão assistir a, pelo menos, um jogo nos estádios que ajudaram ($) a construir? Se você quisesse ir, você teria condições financeiras reais de ir e levar sua família? Pense nisso. Outro exemplo, partindo da premissa que, segundo IBGE, a maior parte da população brasileira é composta por pessoas que se auto declararam “negros ou pardos”, me responda: aonde estava este % durante o jogo final da copa das confederações? Se acha que estou exagerando: faça você mesmo o “teste do pescoço” e/ou procure nesta foto. Que o Brasil vença, em distribuição justa de renda.

Finalizo, portanto, apenas expressando minha opinião. Não tenho a pretensão de transformar um evento futebolístico no principal culpado por todas as mazelas de nossa sociedade, que vem de séculos e séculos. Se eu ainda tenho esperança no futuro? Minha resposta é “sim”.

Porque Ele vive, eu posso crer no amanhã
Porque Ele vive, temor não há
Mas eu bem sei, que o meu futuro
Está nas mãos do meu Jesus
Que vivo está”

Pra você ter a noção da importância deste evento mundial, em 1985, Joseph Ratzinger escreveu o livro “Buscar o que é do alto” e inseriu um texto intitulado “O jogo e a vida” onde cita que “o jogo transcende, em certo sentido, a vida cotidiana; mas, sobretudo na criança, tem ainda antes outro caráter: é um exercício para a vida, simboliza a própria vida”, em outro trecho citou “Naturalmente, tudo isso pode se perverter por um espírito comercial que submete tudo à sombria seriedade do dinheiro, e o jogo deixa de ser tal para se transformar em uma indústria que suscita um mundo de aparência de dimensões horrorosas.”

Portanto, podemos perceber que trata-se de uma questão de definição de prioridades. Peço a Deus que, iluminados pelos dons do Espírito Santo, tenhamos a capacidade de investir o nosso “pouco” dinheiro – (#sqn > somos a 7ª maior economia mundial… rs) – naquilo que é prioridade para o momento: educação, saúde, geração de empregos, etc. E por falar em cifras, penso que a causa de um “senso de indignação”, não deveria ser somente os 20 centavos (R$0,20) do “busão” ou os 30 bilhões estimados com as obras do campeonato mundial (R$ 30.000.000.000,00), mas sim, estimular um igual acompanhamento do reinvestimento dos 1,7 trilhão (R$ 1.700.000.000.000,00) arrecadados somente no ano de 2013 em impostos. Assim, desculpe “canarinhos”, eu não torço desta vez.

Oremos.

Um abraço,
Cleber Rodrigues