por Rosiane Marques
No dia 03 de Outubro comemora-se o dia dos Primeiros Mártires Brasileiros ou Protomártires do Brasil. Antes de saber como isso aconteceu é importante entender um pouco do contexto histórico da época. O Brasil havia sido invadido pelos holandeses que tinham grande cobiça pela Capitania do Rio Grande do Norte, que possuia uma localização geográfica estratégica e o Engenho de Cunhaú: o mais importante centro da economia do estado, por sua grande produção de açúcar. Além disso era de interesse dos holandeses, a implantação do Calvinismo naquelas terras. Ao redor do engenho viviam cerca de 70 famílias descendentes de portugueses, católicos autênticos que não aceitariam renunciar a sua fé.
Um dia antes do primeiro morticínio, chegou naquela região Jaco Rabé (um alemão que trabalhava para o Governo holandês). Ele mandou fixar nas portas da Igreja um edital, convocando a todos para ouvirem as Ordens do Supremo Conselho, que seriam dadas após a Missa. E assim, na manhã de Domingo, do dia 16 de Julho (dia de Nossa Senhora do Carmo), os fiéis participavam da Missa, na Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho Cunhaú (município de Canguaretama, Zona Agreste do Rio Grande do Norte).
No momento em que o Sacerdote, Padre André de Soveral eleva o Corpo e o Sangue do Senhor; Jaco Rabé com seus 200 soldados Holandeses e muitos índios ferozes invadem a pequena Igreja. O Padre André de Soveral, encorajou os 69 fiéis que lá estavam a bem morrerem e rezaram apressadamente o Ofício da Agonia. Com as portas trancadas, fazem em pedaços homens, mulheres e crianças. Contam-se os relatos que com o Padre fizeram coisas tão horríveis que davam vergonha de serem escritas, pois os calvinistas sabiam muito bem o que significava ser um Padre.
Alguns moradores de Cunhaú naquele Domingo não foram para a Capela, uns por medo do que pudesse acontecer devido a presença de Jaco Rabé, outros porque providencialmente naquela manhã, caía uma chuva torrencial; se não fosse isso, com certeza o número teria sido maior. Estes fugiram e foram abrigar-se nas margens do Rio Potengi (em Uruaçu, São Gonçalo do Amarante – 18 km de Natal, litoral do RN).
Logo as notícias do que havia acontecido em Cunhaú, chegaram aos moradores da Vila de Natal. Na época, na Capitania do Rio Grande, existiam duas Paróquias: uma no Engenho de Cunhaú e outra na Vila de Natal. Um grupo de 12 pessoas juntamente com o Pároco Pe. Ambósio Francisco Ferro, buscaram refúgio no Forte dos Reis Magos. O restante da população foi para Uruaçú e se juntou aos poucos que haviam escapados do primeiro morticínio.
Três meses depois, no dia 03 de Outubro de 1645, os holandeses invadem o Forte e levam Pe. Ambósio juntamente com os outros 12 paroquianos, para o local onde se encontravam os outros em Uruaçu. Eram por volta de 80 pessoas.
Os fíeis foram obrigados a despirem-se e a renunciarem a sua fé. Como ninguém teve coragem de assim fazer, preferiram morrer. E ainda vivos, foram- lhes arrancados os olhos, orelhas e língua . O leigo Mateus Morreira, ainda vivo teve seu coração arrancado pelas costas e morreu dizendo: “ Louvado seja o Santíssimo Sacramento”.
Contam-se as crônicas da época, que foi oferecido a dois Jovens irmãos, a opção de terem suas vidas preservadas, caso optassem por renunciar ao catolicismo e assumissem o calvinismo; ao que eles responderam ser vergonhoso tal atitude diante do tamanho testemunho de fé que haviam dado seus outros companheiros e assim também foram violentamente trucidados. Cerca de 150 pessoas morreram nestes dois morticínios, destes só foram possíveis identificar: o Padre Pe. André de Soveral, Pe. Ambósio Francisco Ferro, Mateus Morreira e outros 27 companheiros.
Os Mártires de Cunhaú e Uruaçu ou Protomártires do Brasil, foram Beatificados no dia 05 de Março do ano 2000, pelo Papa João Paulo II, cuja festa se celebra todo dia 03 de Outubro. Em 2005 a CNBB elegeu Mateus Morreira como o Patrono dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão no Brasil. O Postulador da causa, Monsenhor Francisco de Assis Pereira (In Memoriam), acompanhou o processo de Beatificação junto ao Vaticano, por mais de dez anos, reunindo documentos e pesquisas realizadas em Portugal, Holanda e aqui no Brasil.
Alguns livros contam a História destes heróis: Protomártires do Brasil – Monsenhor Francisco de Assis Pereira; Terras de Mártires – Auricéia Antunes de Lima, e Mártires de Cunhaú e Uruaçu – Pe. Eymard L’E. Monteiro.
Rosiane Marques é missionária na Comunidade Canção Nova