A comunidade religiosa e a maturidade pessoal
A comunidade religiosa pelo fato de ser uma «Schola Amoris» (Escola de Amor), que ajuda a crescer no amor para com Deus e para com os irmãos, torna-se também lugar de crescimento humano. O caminho é exigente, pois implica a renúncia de bens certamente muito apreciáveis, mas não é impossível. Isso o demonstra a multidão dos santos e santas e as maravilhosas figuras de religiosos e religiosas que mostraram como a consagração a Jesus Cristo «não se opõe ao verdadeiro progresso da pessoa humana, mas por sua natureza lhe é de grandíssima ajuda».
O caminho para a maturidade humana, premissa para uma vida de irradiação evangélica, é um processo que não conhece limites, porque comporta um contínuo «enriquecimento» não somente dos valores espirituais, mas também dos de ordem psicológica, cultural e social.
As grandes mudanças acontecidas na cultura e nos costumes, orientadas mais para as realidades materiais do que para os valores espirituais, exigem especial atenção a algumas áreas nas quais as pessoas hoje parecem particularmente vulneráveis.
A identidade
O processo de amadurecimento acontece na própria identificação com o chamado de Deus. Uma identidade incerta pode impelir, especialmente nos momentos de dificuldade, para uma auto-realização mal-entendida, com necessidade extrema de resultados positivos e da aprovação da parte dos outros, com exagerado medo do fracasso e depressão pelos insucessos.
A identidade da pessoa consagrada depende do amadurecimento espiritual: é obra do Espírito, que impele a conformar-se a Jesus Cristo, conforme aquela particular modalidade que é dada pelo «carisma originário, mediação do Evangelho aos membros de um determinado instituto». Muito importante é, pois, a ajuda de um guia espiritual, que conheça bem e respeite a espiritualidade e a missão do instituto, para «discernir a ação de Deus, acompanhar o irmão nas vias do Senhor, nutrir a vida de sólida doutrina e de oração vivida». Particularmente necessário na formação inicial, esse acompanhamento é útil também por todo o resto da vida para um «crescimento em Cristo».
Também o amadurecimento cultural ajuda a afrontar os desafios da missão, assumindo os instrumentos necessários para discernir o movimento do vir-a-ser e para elaborar respostas adequadas, por meio das quais o Evangelho se torna continuamente proposta alternativa às propostas mundanas, integrando-lhes as forças positivas e purificando-as dos fermentos do mal.
Nessa dinâmica, a pessoa consagrada e a comunidade religiosa são propostas evangélicas que manifestam a presença de Cristo no mundo.
A afetividade
A vida fraterna em comum exige da parte de todos um bom equilíbrio psicológico, dentro do qual possa amadurecer a vida afetiva de cada um. Componente fundamental desse amadurecimento é, como já lembramos anteriormente, a liberdade afetiva, graças à qual o consagrado ama sua vocação e ama de acordo com sua vocação. É justamente essa liberdade e maturidade que permitem viver bem a afetividade, tanto dentro como fora da comunidade.
Amar a própria vocação, sentir o chamado como uma razão válida de vida e colher a consagração como realidade verdadeira, bela e boa que proporciona verdade, beleza e bondade também à própria existência: tudo isso torna a pessoa forte e autônoma, segura da própria identidade, não necessitada de apoios e compensações várias, mesmo de natureza afetiva. Reforça também o vínculo que liga o consagrado aos que com ele compartilham o mesmo chamado. Com eles, antes de tudo, ele se sente chamado a viver relações de fraternidade e de amizade.
Amar a vocação é amar a Igreja, é amar o próprio instituto e sentir a comunidade como a verdadeira própria família.
Amar de acordo com a própria vocação é amar com o estilo de quem, em cada relacionamento humano, deseja ser sinal límpido do amor de Deus, não usurpa e não possui, mas quer bem e quer o bem do outro com a mesma benevolência de Deus.
É necessária, pois, uma formação específica da afetividade que integre o aspecto humano com o mais propriamente espiritual. A tal propósito aparecem amplamente oportunas as diretivas do Potissimum Institutioni a respeito do discernimento «sobre o equilíbrio da afetividade, particularmente do equilíbrio sexual» e sobre a «capacidade de viver em comunidade».
Todavia as dificuldades nessa área são, muitas vezes, a caixa de ressonância de problemas nascidos em outros lugares: uma afetividade-sexualidade vivida com atitude narcisístico-adolescencial ou rigidamente reprimida, pode ser conseqüência de experiências negativas anteriores à entrada na comunidade, mas também conseqüências de frustrações comunitárias ou apostólicas. Importante é, portanto, a presença de uma rica e calorosa vida fraterna, que «leva o peso» do irmão ferido e necessitado de ajuda.
Se é, de fato, necessária certa maturidade para viver em comunidade, também o é uma cordial vida fraterna para o amadurecimento do religioso. Diante da eventual constatação de uma diminuída autonomia afetiva no Irmão ou na Irmã, deveria vir a resposta da comunidade em termos de um amor rico e humano, como o do Senhor Jesus e de tantos santos religiosos; um amor que compartilha os temores e as alegrias, as dificuldades e as esperanças, com aquele calor que é próprio de um coração novo que sabe acolher a pessoa inteira. Esse amor solícito e respeitoso, não possessivo mas gratuito, deveria levar a fazer sentir próximo o Amor do Senhor, aquele Amor que levou o Filho de Deus a proclamar, por meio da cruz, que não se pode duvidar de ser amado pelo Amor.
As dificuldades
Ocasião particular para o crescimento humano e a maturidade cristã é conviver com pessoas que sofrem, que não se encontram à vontade na comunidade e que, por isso, são motivo de sofrimentos para os irmãos, perturbando a vida comunitária.
É preciso, antes de mais nada, perguntar-se de onde se originam esses sofrimentos: de deficiências de caráter, de trabalhos sentidos como muito gravosos, de graves lacunas na formação, das transformações demasiadamente rápidas destes anos, de formas demasiadamente autoritárias de governo, de dificuldades espirituais.
Pode haver até diversas situações em que a autoridade deve fazer presente que a vida em comum exige, por vezes, sacrifícios e pode tornar-se uma forma de «maxima poenitentia» (penitência máxima).
No entanto, existem situações e casos nos quais é necessário o recurso às ciências humanas, sobretudo quando alguns são claramente incapazes de viver a vida comunitária por problemas de maturidade e de fragilidade psicológica ou por fatores prevalentemente patológicos.
O recurso a tais intervenções tem se revelado útil não só no momento terapêutico em casos de psicopatologia mais ou menos manifesta, mas também no momento preventivo para ajudar a uma adequada seleção dos candidatos e para acompanhar, em alguns casos, a equipe de formadores a afrontar específicos problemas pedagógico-formativos.
Em todo o caso, na escolha dos especialistas, deve-se preferir uma pessoa de fé e conhecedora da vida religiosa e de suas dinâmicas. Tanto melhor se for uma pessoa consagrada.
O uso desses meios, enfim, será verdadeiramente eficaz se for discreto e não generalizado, tanto mais porque não resolvem todos os problemas e, portanto, «não podem substituir uma autêntica direção espiritual».
Fonte: (“A Vida Fraterna em Comunidade“)