Deus quer confiar em cada um de nós. Para isso faz um chamado pessoal e intransferível. Essa confiança pede uma atitude de sintonia, de obediência, de escuta. Hoje, o som que vem do céu, alcança também nossos sentidos, entra pelos nossos ouvidos e espera que possamos responder: “Sim, Senhor! Eis-me aqui.”
Porém, para nós, uma das coisas mais difíceis é esperar. Deus é o Todo-Poderoso e cumpre suas promessas, mas o tempo está nas mãos d’Ele. Nós é que precisamos aprender a esperar. Talvez você esteja esperando uma resposta importante, um sinal, grandes graças e milagres, esteja angustiado, desesperado… Mas precisamos aprender a esperar, a aguardar pela hora de Deus. Ele sabe qual é a hora.
Durante a espera, é preciso discernir. O discernimento é uma habilidade ou capacidade dada por Deus de se reconhecer a identidade (e muitas vezes, a personalidade e a condição) dos “espíritos” que estão por detrás de diferentes manifestações ou atividades. Este dom, essencial à Igreja, é geralmente concedido aos pastores do rebanho de Deus e aos que estão em posição de guardar e de guiar os santos.
Leia abaixo, o trecho da palavra que está em Gênesis 22,1-19
“Depois desses acontecimentos, Deus pôs Abraão à prova, e lhe disse: “Abraão, Abraão!” Ele respondeu: “Estou aqui”. Deus disse: “Tome seu filho, o seu único filho Isaac, a quem você ama, vá à terra de Moriá e ofereça-o aí em holocausto, sobre uma montanha que eu vou lhe mostrar”. Abraão se levantou cedo, preparou o jumento, e levou consigo dois servos e seu filho Isaac. Rachou a lenha do holocausto, e foi para o lugar que Deus lhe havia indicado. No terceiro dia, Abraão levantou os olhos e viu de longe o lugar.
Então disse aos servos: “Fiquem aqui com o jumento; eu e o menino vamos até lá, adoraremos a Deus e depois voltaremos até vocês”. Abraão pegou a lenha do holocausto e a colocou nas costas do seu filho Isaac, tendo ele próprio tomado nas mãos o fogo e a faca. E foram os dois juntos. Isaac falou a seu pai: “Pai”. Abraão respondeu: “Sim, meu filho!” Isaac continuou: “Aqui estão o fogo e a lenha. Mas onde está o cordeiro para o holocausto?” Abraão respondeu: “Deus providenciará o cordeiro para o holocausto, meu filho!” E continuaram caminhando juntos.
Quando chegaram ao lugar que Deus lhe indicara, Abraão construiu o altar, colocou a lenha, depois amarrou seu filho e o colocou sobre o altar, em cima da lenha. Abraão estendeu a mão e pegou a faca para imolar seu filho. Nesse momento, o anjo de Javé o chamou lá do céu e disse: “Abraão, Abraão!” Ele respondeu: “Aqui estou!” O anjo continuou: “Não estenda a mão contra o menino! Não lhe faça nenhum mal! Agora sei que você teme a Deus, pois não me recusou seu filho único”. Abraão ergueu os olhos e viu um cordeiro, preso pelos chifres num arbusto; pegou o cordeiro e o ofereceu em holocausto no lugar do seu filho. E Abraão deu a esse lugar o nome de “Deus providenciará”.
Assim, até hoje se costuma dizer: “Sobre a montanha, Deus providenciará”. O anjo de Deus chamou lá do céu uma segunda vez a Abraão, dizendo: “Juro por mim mesmo, palavra de Deus: porque você me fez isso, porque não me recusou seu filho único, eu o abençoarei, eu multiplicarei seus descendentes como as estrelas do céu e a areia da praia. Seus descendentes conquistarão as cidades de seus inimigos. Por meio da descendência de você, todas as nações da terra serão abençoadas, porque você me obedeceu”. Abraão voltou até seus servos, e juntos foram para Bersabéia. E Abraão ficou morando em Bersabéia.”
Palavra do Senhor, graças a Deus!
No trecho, Abraão revela o quanto somos transformados a medida que somos dóceis ao chamado de Deus. Em seus atos, percebemos um Abraão no início e outro no final: um provado e outro comprovado. Um homem que após ter alcançado muitos dons, uma “mulher fiel” e filho, mesmo na velhice, não deixa as conquistas lhe subir a cabeça e mantêm-se fiel Aquele que tudo providenciou: Deus. Isaac era um filho amado, resultado de uma promessa cumprida e que ele reconhece: seu primogênito, sua esperança.
Contudo, Deus o convida a uma ruptura: sacrificar uma experiência já recebida por Deus para abrir-se a uma nova, através do mistério. Abrir mão de um passado-presente, pelo amor e pela fé, lançando-se na busca de um novo futuro.
Se tiver um tempinho (25min), assista essa animação sobre “Abraão e Isaac”. Recomendo!
Hoje, nós também podemos identificar no caminho percorrido por eles, uma similaridade com a subida do calvário. Uma caminhada consciente por parte do pai e, de certa forma, inconsciente por parte do filho que o acompanha. Nisso, a responsabilidade do pai é imensa, pois como autoridade terá de prestar contas a vida do filho.
A escuta faz toda a diferença na intimidade com Deus.”
A escuta da voz de Deus torna-se elemento central e fundamental. Já pensou se o pai (Abraão) tivesse se enganado? E se, ele não fosse capaz de perceber os sinais de Deus? Quem garante a infalibilidade daqueles constituídos em autoridade para comunicá-lo?
Neste trecho, a acolhida à voz do anjo que o visitou pela segunda vez, o impediu de sacrificar seu filho, revelando assim o propósito e os desígnios de Deus nesta provação. Talvez, neste momento, seu coração está diante de uma situação que está exigindo um grande decisão racional e um grande passo na fé: não tenha medo de orar e decidir. Mas, saiba um discernimento bem feito desmascara a mentira do pecado. Esforce-se para ouvir a voz de Deus. Ainda que seja um sussurro na leitura orante da palavra de Deus.
A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade.” (Beato João Paulo II)
Então, como fazer na prática?
O discernimento nos permite agir de forma correta em um fato ou situação que temos em mãos, no momento. Permite-nos identificar a causa dessa situação especial, podendo, assim, nos levar à raiz, ao princípio que a move, que a origina, encaminhando à situação acertada e feliz.
O uso do dom nos ajuda, portanto, a conhecer o espírito, isto é, o princípio animador (anima = o que anima, move, movimenta, etc.). Com ele, podemos chegar, com facilidade, à origem de uma inspiração e confirmar de onde esta pode vir:
- Se provém de Deus (ou de Deus por meio de Seus anjos, os Seus mensageiros);
- Se tem origem na mente humana (a qual pode estar sã, doentia, desequilibrada ou alterada);
- Se provém dos espíritos maus (do demônio ou de influências espirituais maléficas).
O discernimento ajuda-nos, ainda, a distinguir o certo do errado, o verdadeiro do falso, orientando nossas vidas na fé e doutrina de Jesus Cristo. O Senhor tem para nós esse grande dom, esse precioso dom, que é o discernimento dos espíritos. Embora ele seja um dom, embora nos seja dado gratuitamente, é resultado, também, da nossa caminhada. Precisamos caminhar e amadurecer e o que nos torna maduros é a perseverança, a oração, a Palavra de Deus e a docilidade. E com a maturidade vem também o discernimento dos espíritos.
Senhor Jesus, peço o discernimento dos espíritos. Preciso muito desse dom para não confundir todas as coisas. Não quero saber de nada de mau, não quero saber confundir. Quero ser guiado, conduzido, orientado pelo Senhor. Dá-me, Senhor, o dom do discernimento dos espíritos. Amém!
Vinde, Espírito Santo, e dai-nos o dom de discernir.
Sejamos, dóceis a voz de Deus: no ouvir as pessoas ou na observação dos fatos e acontecimentos. Peço para você a graça da caminhada, do crescimento, para que venha a trilhar o seu caminho com perseverança. Peço que, amadurecido, crescido e arraigado em Jesus, que você tenha todo discernimento para poder servir ao Senhor cada vez melhor; como bom e prudente e a quem o Senhor pode confiar o que tem de mais precioso. Que a Virgem Maria, a mulher que soube ouvir a voz do Espírito Santo, nos ajude a sermos cheios também deste dom.
Que Deus nos abençoe.
Cleber dos Santos Rodrigues
Comunidade Canção Nova
Veja também:
- O que é o discernimento dos espíritos? (Padre Luizinho)
- Fé e a razão (Padre Paulo Ricardo)
- Carta Encíclica Fides et Ratio (Beato João Paulo II)