“Lavai-me de toda a iniquidade e purificai-me de todas as faltas” (Salmo 50,4)
Hoje vamos conversar sobre banho: existe alguma relação entre o tempo no banho e a sensação de sujeira na alma? Recentemente, tem sido noticiado que devido ao longo tempo de estiagem (e a falta de planejamento), os níveis dos reservatórios tem estado abaixo da média. Um exemplo deste fenômeno está acontecendo em São Paulo (em 11/05/14, o Sistema Cantareira caiu para 8,9%, menor nível registrado desde 1974) e a companhia que administra o sistema de abastecimento, passou a divulgar campanhas educativas para estimular o uso racional da água como, por exemplo, tomar banhos de no máximo 5 minutos e manter o registro fechado ao se ensaboar. A economia em cada banho pode chegar em até 90 litros (casa) e 162 litros (apartamento).
A ideia deste assunto, veio enquanto assistia uma matéria na TV sobre a questão do uso racional da água. Uma equipe de reportagem simulou a rotina de uma casa dentro das sugestões de consumo econômico e, na hora do “banho”, uma moradora entrevistada afirmou: “é impossível tomar banho em 5 minutos”. Pra mim, a matéria terminou neste momento e, buscando conectar essa afirmação a outras leitura anteriores, num primeiro momento emiti mentalmente a sentença: essa jovem está equivocada e é possível sim, tomar banho em 5 minutos (basta pesquisar, por exemplo, como são os banhos em regiões desérticas ou nas organizações militares).
No entanto, sem ter a pretensão de evaporar o assunto, te convido a passear comigo pela história do banho e perceber como esse hábito também está relacionado com vivência cristã. E aí, quanto tempo dura seu banho?
Banho é um hábito que vem do Antigo Egito, chegou até nós pelos indígenas e hoje faz parte do dia a dia dos brasileiros, principalmente por sermos um país tropical. Muitas pessoas tomam, inclusive, mais de uma chuveirada por dia, sobretudo ao acordar e antes de dormir. Assim, a concepção de limpo, saudável e esteticamente agradável está sujeita a mudanças culturais e assim, transformar-se constantemente: um longo caminho foi – e continua sendo – percorrido até chegarmos ao conceito atual de higiene.(2)
Cosmético é tudo aquilo que é relativo à higiene e beleza humana. São preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo nas diversas partes do corpo humano – pele, sistema capilar, órgãos genitais externos, unhas, lábios, com o objetivo exclusivo ou principal de limpá- las, perfumá-las, alterar sua aparência, corrigir odores corporais, protegê-las ou mantê-las em bom estado, além de embelezar. O termo “cosmético” foi criado no século XVI a partir do grego kosmêticos, que significa “relativo ao adorno”, sendo a raiz da palavra kosmos = “ordem”. Já a palavra “higiene” surgiu do nome da deusa grega Higéia, a qual atribuíam a função de conservar da saúde.
Ao longo da história, a concepção de limpeza se transformou conforme o contexto social, o clima, a religiosidade e os costumes de cada época. Os produtos de higiene foram se incorporando ao cotidiano conforme a evolução histórica dos hábitos de asseio.
Agora, virando a página, certa vez Jesus e seus discípulos arrumaram encrenca (pra variar) com os fariseus justamente por causa deste assunto: a tal higiene pessoal. Mateus relatou isso no capitulo 15, veja um resumo:
Aconteceu assim: “Alguns fariseus e diversos doutores da Lei, de Jerusalém, se aproximaram de Jesus, e perguntaram: “Por que os teus discípulos desobedecem à tradição dos antigos? De fato, comem pão sem lavar as mãos!” Jesus respondeu: “Por que é que vocês também desobedecem ao mandamento de Deus em nome da tradição de vocês? (…) Em seguida, Jesus chamou a multidão para perto dele, e disse: “Escutem e compreendam. Não é o que entra na boca que torna o homem impuro, mas o que sai da boca, isso torna o homem impuro” (…) Vocês não compreendem que tudo o que entra na boca passa pelo estômago e acaba indo para a privada? Ao contrário, as coisas que saem da boca vêm do coração e essas é que tornam o homem impuro. Pois é do coração que vêm as más intenções: crimes, adultério, imoralidade, roubos, falsos testemunhos, calúnias. São essas coisas que tornam o homem impuro; mas comer sem lavar as mãos não torna o homem impuro.” (cf Mt 15,1-20)
Obviamente, o uso da água como elemento para purificação espiritual não é algo exclusivo do Cristianismo, mas a partir de Jesus Cristo, a Igreja Católica dispõe dos Sacramentos.
O Sacramento da iniciação cristã é o Batismo. É o primeiro e possui esse nome por causa do rito central com que se realiza: batizar (baptizeis, em grego) significa “mergulhar”, “imergir”. Por isso, que Jesus foi batizado por João Batista não porque Ele estivesse sujo no pecado, mas para humildemente nos ensinar que as palavras podem até convencer, mas o testemunho arrasta. Seu testemunho era: que mesmo sendo Filho de Deus acolheu sua missão e desceu ao nível dos pecadores por amor. Batista, portanto, é um sobrenome que denota a função daquele João: batizador.
Não sei se você sabia, mas este sacramento é também chamado “banho da regeneração e da renovação no Espírito Santo” (Tt 3, 5), porque dá significado e realiza aquele nascimento “da água e do Espírito”, sem o qual “ninguém pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3, 5).
Agora, que você aprendeu o significado, lembre-se: a “imersão” na água simboliza que o catecúmeno (a pessoa pronta para o Batismo) foi mergulhada na morte de Cristo e pela ressurreição com Ele tornou-se uma “nova criatura” (2 Cor 5, 17; Gl 6, 15).
É tão bom compreender os ritos e dar sentido a fé, não?
Voltando ao banheiro. Resumindo, o banho é um hábito cultural – adquirido e adaptado conforme as culturas a partir de uma necessidade de manter-se saudável. Jesus, em seus ensinamentos, foi além e afirmou que a limpeza fundamental ao ser humano é a higienização do coração. O que mata pra valer são das maldades do coração. #tenso
Da sujeira no corpo à sujeira na alma. Mas ainda, não estou satisfeito e volto a pergunta inicial: o hábito frequente de banhos (excessivamente) demorados não podem ser reflexo de alguma situação mal-resolvida interiormente? Não seria mais honesto buscar um especialista de “cardiohigienização” no confessionário mais próximo e lavar a alma? E aí, quanto tempo você demora no banho?
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Talvez ninguém nunca tenha te ensinado as técnicas sobre como tomar um banho corretamente, mas espero que essa breve reflexão, provoque em você o desejo de, assim que puder, tomar um bom e revigorante banho – no corpo e na alma. Crie o hábito de tomar banhos rápidos, usando a menor quantidade de água possível e orando em línguas. No final do mês, você terá cuidado da sua pele e economizado um bom dinheiro que poderá usar em outra finalidade: por exemplo, fazer uma ação de caridade, investir em um curso formativo ou quem sabe colaborar com o projeto “Dai-me Almas” da Canção Nova.
Banho é bom. Banho é muito bom!
Que Deus nos abençoe. Até a próxima!
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Cleber dos Santos Rodrigues
Comunidade Canção Nova