A Solenidade de Maria Santíssima, Mãe de Deus, e o dom da paz.
No primeiro dia do ano celebramos a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, a primeira festa litúrgica mariana da Igreja do Ocidente, e o Dia Mundial da Paz, instituído pelo Papa Paulo VI em sua Mensagem do dia 8 de Dezembro de 1967. Por ocasião desta data mariana, é significativo refletirmos sobre o tema da paz à luz da Palavra de Deus, a partir da Homilia do Papa Emérito Bento XVI, de 1º de janeiro de 2013. O Santo Padre nos ensina que a paz é um dom de Deus e, ao mesmo tempo, obra humana. Apesar das dificuldades e incertezas, Nossa Senhora soube acolher este dom de Deus em sua vida. Ainda que não compreendesse como se realizaria o Mistério da Encarnação do Verbo, Jesus Cristo, a Virgem Maria não perdeu a paz. Por isso, a Mãe de Deus nos ensina a acolher não somente o dom da paz, mas também o próprio Deus da paz!
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Temos uma vocação natural à paz. Em cada pessoa, o desejo de paz é uma aspiração essencial, que diz respeito ao anseio por uma vida humana plena, feliz e bem sucedida. O desejo de paz corresponde a um princípio moral fundamental, ao direito e dever, necessário para o desenvolvimento integral, social, comunitário, que faz parte dos desígnios que Deus para o gênero humano. “O homem é feito para a paz, que é dom de Deus”. Neste sentido, a Palavra de Deus nos recorda: “Bem-aventurados os obreiros da paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5, 9). A Palavra nos diz que a paz é, ao mesmo tempo, “dom messiânico e obra humana; é paz com Deus, vivendo conforme à sua vontade; é paz interior consigo mesmo, e paz exterior com o próximo e com toda a criação”. A paz é bem por excelência, dom de Deus, que deve ser construído com todo o esforço.
Diante da nossa situação particular, podemos nos perguntar: “como podemos sentir paz apesar dos problemas, da escuridão e das angústias? Na contemplação da paz interior da Virgem Maria, a Mãe de Jesus, podemos encontrar a resposta à questão. Nos dias em que estava para dar à luz o seu Filho (cf. Lc 2, 7), Maria passou por muitos acontecimentos imprevistos: a difícil viagem de Nazaré à Belém; a falta de um lugar na hospedaria; o nascimento do Filho em um abrigo improvisado; o cântico dos anjos; a visita inesperada dos pastores. No entanto, Nossa Senhora não se perturba com todos estes fatos, não se agita, não se abala com acontecimentos, ainda que não os compreenda. A Mãe de Deus simplesmente considera, em silêncio, tudo o que acontece, guardando na sua memória e no seu coração, refletindo com calma e serenidade. “É esta é a paz interior que queremos ter em meio aos acontecimentos às vezes tumultuosos e confusos da história, acontecimentos cujo sentido muitas vezes não conseguimos compreender e que nos deixam abalados”.
A Palavra de Deus nos recorda que a paz é um dom de Deus e está ligada ao esplendor da face de Deus: “O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti. O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz” (Nm 6, 24-26). A paz é o ponto culminante dessas seis ações de Deus em nosso favor. Contemplar a face de Deus é a felicidade suprema (cf. Sl 21, 7). “Da contemplação da face de Deus nascem alegria, paz e segurança”. No Novo Testamento, “contemplar a face de Deus significa conhecê-Lo diretamente, tanto quanto é possível nesta vida, através de Jesus Cristo, no qual Deus se revelou”. Admirar-se com o esplendor da face de Deus significa penetrar no mistério de seu Nome, manifestado a nós por Jesus, compreender algo da sua vida íntima e da sua vontade, para que possamos viver de acordo com seu desígnio de amor para a humanidade. Esta contemplação de Deus se faz presente nos escritos de São Paulo, quando ele diz que o Espírito, no íntimo dos nossos corações, clama: “Abá! Ó Pai” (Gl 4, 4-7). Este é o clamor que brota da contemplação da verdadeira face de Deus Pai, da revelação do mistério do seu Nome por Jesus: “Manifestei o teu nome aos homens” (Jo 17, 6). “O Filho de Deus feito carne nos deu a conhecer o Pai, nos fez perceber no seu rosto humano visível a face invisível do Pai; através do dom do Espírito Santo derramado em nossos corações, nos fez conhecer que n’Ele nós também somos filhos de Deus”.
O fundamento da nossa paz é este: “a certeza de contemplar em Jesus Cristo o esplendor da face de Deus, de ser filhos no Filho e ter, assim, na estrada da vida, a mesma segurança que a criança sente nos braços de um Pai bom e onipotente. O esplendor da face do Senhor sobre nós, que nos dá a paz, é a manifestação da sua paternidade; o Senhor dirige sobre nós a sua face, se mostra como Pai e nos dá a paz”. Esta paternidade de Deus é o princípio da paz profunda, da paz com Deus, que está intimamente ligada à fé e à graça (cf. Rm 5, 2). “Nada pode tirar daqueles que creem esta paz, nem mesmo as dificuldades e os sofrimentos da vida”. Os sofrimentos, as provações e a escuridão não destroem, mas aumentam a nossa esperança. Esta esperança não decepciona porque “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5, 5). Que a Virgem Maria, venerada “com o título de Mãe de Deus, nos ajude a contemplar a face de Jesus, Príncipe da Paz. Que Ela nos ajude e nos acompanhe neste novo ano; que Ela obtenha para nós e para o mundo inteiro o dom da paz. Amém!”