A Senhora do Carmo e as aparições de Fátima

Conheça a ligação entre Nossa Senhora do Carmo e as aparições de Fátima, e entre o Escapulário, o Rosário e a consagração ao Imaculado Coração.

A aparição de Nossa Senhora do Carmo a São Simão Stock, na Inglaterra, a princípio, parece não ter nenhuma ligação com as aparições da Virgem do Rosário, em Fátima, em Portugal, aos três pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta. Afinal, não podemos negar que sete séculos separam essas duas aparições marianas. Entretanto, nestas a Mãe da Igreja deixou-nos auxílios preciosos, que marcam profundamente as devoções ligadas a esses dois títulos marianos: o Escapulário da Ordem do Carmo, o Santo Rosário e a consagração ao seu Imaculado Coração.

Conheça a ligação entre Nossa Senhora do Carmo e as aparições de Fátima, e entre o Escapulário, o Rosário e a consagração ao Imaculado Coração.

Nossa Senhora do Carmo e São Simão Stock

Essas três devoções, o Escapulário, o Rosário e a consagração ao Coração Imaculado, que marcam essas duas aparições de Nossa Senhora, são muito desejadas por ela para cada um de nós, seus filhos, servos e escravos de amor. Estas três devoções foram unidas pela Virgem Santíssima em suas aparições em Fátima, como um auxílio nas tribulações, principalmente nesses dias, por vezes sombrios, nos quais vivemos hoje, como reparação pelos nossos próprios pecados e também pelos de toda a humanidade.

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A Virgem Maria e a entrega do Escapulário

No dia 16 de Julho de 1251, Nossa Senhora do Carmo apareceu ao frei carmelita Simão Stock, na cidade de Cambridge, na Inglaterra. Naqueles dias, a Ordem dos Carmelitas passava por grandes tribulações e perseguições. Por isso, o frei Simão recitou uma belíssima oração, por ele mesmo composta, suplicando o auxílio da Virgem Maria: “Flor do Carmelo, Vinha florífera, Esplendor do céu, Virgem fecunda, singular. Ó Mãe benigna, sem conhecer varão, aos Carmelitas dá privilégio, Estrela do Mar!”1. Mal terminara a sua oração, o Carmelita levanta os olhos, cheios de lágrimas, e vê sua cela encher-se de luz.

Nossa Senhora do Carmo aparece a Stock, rodeada de anjos, revestida de esplendor, e entrega-lhe o Escapulário, dizendo estas palavras cheias de ternura materna:

Recebe, diletíssimo filho, este Escapulário de tua Ordem como sinal distintivo e a marca do privilégio que eu obtive para ti e para todos os filhos do Carmelo; é um sinal de salvação, uma salvaguarda nos perigos, aliança de paz e de uma proteção sempiterna. Quem morrer revestido com ele será preservado do fogo eterno2.

Desde então, o Escapulário é um sinal da proteção materna e da consagração a Nossa Senhora do Carmo, não somente para a Ordem dos Carmelitas, mas também para todos que usam devotamente este “hábito”, que nos une espiritualmente ao Carmelo.

Na sua origem, o Escapulário é feito com dois pedaços de pano marrom, unidos por um cordão. Um dos pedaços de tecido tem a imagem de Nossa Senhora do Carmo e o outro, a do Sacratíssimo Coração de Jesus. O nome “Escapulário” deriva da palavra, em latim, “scapulas”, que significa “ombros”. Dessa forma, compreendemos que o Escapulário recebe esse nome justamente porque, sobre os ombros, ele é imposto, como um hábito, que liga-nos à Ordem de Nossa Senhora do Carmo.

O Escapulário é um hábito, por isso, o primeiro deve ser de pano, e imposto por um Carmelita, ou um Padre, através de uma oração própria para a imposição. Do segundo em diante, pode-se substituir o Escapulário de tecido por um feito de outros materiais. Além disso, não é necessário fazer o rito de imposição, que é feito somente na primeira vez. No entanto, não devemos esquecer de pedir para um Padre ou Diácono abençoar o Escapulário antes de o usar.

Os religiosos carmelitas usam o Escapulário como símbolo da sua consagração na Ordem de Nossa Senhora do Carmo. Mas, para o restante dos filhos, servos e escravos, o Escapulário é um símbolo da nossa consagração à Virgem do Carmo.

As aparições de Fátima e a devoção a Nossa Senhora do Carmo

No dia 13 de Outubro de 1917, na última aparição de suas aparições na Cova da Iria, em Fátima, a Virgem Maria uniu três devoções marianas: a espiritualidade do Escapulário; oração do Santo Rosário; e a consagração ao seu Imaculado Coração. Logo depois da aparição, os três pastorinhos de Fátima tiveram visões. Na primeira delas, ao lado de São José, apareceu Nossa Senhora do Rosário, com o Menino Jesus ao colo. Em seguida, surgiu como Nossa Senhora das Dores, junto com seu Filho, o Homem das dores (cf. Is 53, 3), que passava por grandes sofrimentos. Na terceira e última visão, “gloriosa, coroada como Rainha do Céu e da Terra, a Santíssima Virgem apareceu como Nossa Senhora do Carmo, tendo o Escapulário à mão”3.

No ano de 1950, perguntaram a Irmã Lúcia o motivo da Virgem do Carmo aparecer com o Escapulário nas mãos. Em resposta, ela disse: “É que Nossa Senhora quer que todos usem o Escapulário”4. Pouco tempo depois, no dia 11 de fevereiro de 1950, o Santo Padre, Papa Pio XII, providencialmente convidou toda a Igreja Universal a “’colocar em primeiro lugar, entre as devoções marianas, o escapulário, que está ao alcance de todos’; entendido como veste mariana, esse é de fato um ótimo símbolo da proteção da Mãe celeste”5.

A Irmã Maria Lúcia do Imaculado Coração, carmelita como São Simão Stock, disse que o Escapulário agrada o Coração da Virgem Maria e, por isso, deseja que esta devoção seja propagada. Sendo assim, compreendemos que o Escapulário faz parte da Mensagem de Fátima e que certamente este e o Rosário são devoções inseparáveis. Além disso, “o Escapulário é o sinal da consagração a Nossa Senhora”6. Ao perguntarem a Irmã Lúcia se podemos ter a certeza que a Mãe de Deus queria o Escapulário como parte da Mensagem de Fátima, ela respondeu que “’Sim’, e acrescentou: ‘Agora já o Santo Padre [Papa João Paulo II] o confirmou a todo o mundo, dizendo que o Escapulário é sinal de consagração ao Imaculado Coração’”. Segundo Lúcia, o Escapulário é uma das cláusulas da Mensagem de Nossa Senhora em Fátima. Consequentemente, podemos dizer que usar o Escapulário é tão importante quanto a recitação diária do Terço Mariano. Segundo Lúcia, “o Terço e o Escapulário são inseparáveis!”7.

Dom José Alves Correia da Silva, então Bispo de Leiria, em Portugal – que bem sabia do vínculo existente entre as devoções do Escapulário e do Santo Rosário – por ocasião do VII Centenário do Escapulário, disse aos devotos de Fátima:

Os antigos guerreiros vestiam-se com uma armadura de ferro para resistirem aos ataques dos seus inimigos, e como nós todos temos de combater os inimigos da nossa alma, porque diz a Sagrada Escritura ‘a vida do homem é uma guerra’, a Santíssima Virgem entregou o emblema do Santo Escapulário para também nos defendermos. […] Nossa Senhora recomendou também às videntes que espalhassem a devoção do Escapulário. Compete-nos, pois, como cristãos, […] a obrigação de nos afervorarmos na devoção do Escapulário. O Escapulário tem privilégios especiais. O primeiro é a promessa que a Santíssima Virgem fez àqueles que o trouxessem e observassem as devidas instruções, que os preservaria do fogo eterno. E claro que deveremos trazer o Escapulário não por orgulho ou superstição, mas por esperarmos, com um sincero sentimento de confiança, que a bondade de Maria Santíssima nos fará a graça da conversão e da perseverança final8.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre “Como usar o escapulário de Nossa Senhora do Carmo?”:

A espiritualidade carmelitana e o seu legado para a Igreja Católica

Santa Teresa de Jesus, mais conhecida como Santa Teresa d’Ávila, grande reformadora da Ordem dos Carmelitas, disse certa vez às suas irmãs: “Todas nós, que trazemos este sagrado hábito do Carmo, somos chamadas à oração e à contemplação. Foi esta a nossa origem”9. A história dos primeiros carmelitas comprova esta ligação com a vida contemplativa. No entanto, esta tradição se perdeu ao longo do tempo. A reforma que Santa Teresa e, depois, São João da Cruz, realizaram na Ordem do Carmo tinha como objetivo principal recuperar esta vocação à vida contemplativa, que tem como fim a santificação e a comunhão com Deus. Nesse processo de santificação e de união com o Senhor, é necessário esvaziar-nos totalmente de nós mesmos, dispondo ativamente o nosso coração para que Ele o purifique.

Nesta purificação, a devoção a Maria Santíssima é fundamental. “Desde o princípio, os carmelitas – repetindo que Carmelus totus Marianus est [O Carmelo é todo de Maria] – já se consagravam a Nossa Senhora, chegando a falar, séculos antes de São Luís de Montfort, de ‘escravidão’ à Virgem”10. Quando fazem seus votos de obediência, os carmelitas fazem-no não somente ao Senhor, mas também a Nossa Senhora do Carmo. Usando o Escapulário como veste mariana, eles recordam esse compromisso e a amizade que devem ter com a Mãe de Deus, imitando as suas virtudes e consagrando-se totalmente a ela. Pois, a Santíssima Virgem não é somente modelo de santidade, mas também coopera diretamente em nosso processo santificação. Dessa forma, para quem, de algum modo, está ligado aos carmelitas, Nossa Senhora do Carmo não é somente um modelo a imitar, mas também uma doce presença de Mãe, na qual podemos confiar.

Segundo o saudoso Papa São João Paulo II, “esta intensa vida mariana, que se exprime em oração confiante, em entusiástico louvor e em diligente imitação, leva a compreender como a forma mais genuína da devoção à Virgem Santíssima, expressa pelo humilde sinal do Escapulário, seja a consagração ao seu Coração Imaculado”11. Desse modo, em nossos corações realiza-se uma crescente comunhão e familiaridade com Maria Santíssima, como um novo modo de viver para Deus e de continuar, aqui na Terra, o amor de Jesus Cristo à sua Mãe.

Este rico patrimônio de espiritualidade mariana dos carmelitas, transmitido a nós através da propagação da devoção do Santo Escapulário, tornou-se um tesouro valiosíssimo para toda a Igreja Católica. Pela sua simplicidade desta devoção e pela ligação com o papel de Nossa Senhora em relação à Igreja e à humanidade, o Escapulário foi profunda e amplamente acolhido pelos fiéis, a ponto de encontrar a sua máxima expressão na festa de 16 de Julho, na Liturgia da Igreja Católica.

O Escapulário, o Rosário e a consagração ao Imaculado Coração

A Mensagem de “Fátima é, portanto, uma confirmação óbvia das antigas devoções do Rosário e do Escapulário de Nossa Senhora do Carmo, ambas vindas da Idade Média, quando o amor por Ela impregnava toda a vida do cristão”12. Além disso, a estas devoções, acrescenta-se a devoção ao Imaculado Coração de Maria, já conhecida na Igreja, mas agora revelada em Fátima de uma forma nova. A consagração ao Coração Imaculado da Santíssima Virgem, de certa forma, apresenta-se a nós como uma nova expressão da devoção a Nossa Senhora das Dores, que foi uma das visões dos três pastorinhos na última aparição de Fátima.

Na segunda aparição, em 13 de Junho de 1917, a Virgem Maria disse à pequena Lúcia: “Ele [Jesus] quer estabelecer no mundo a devoção do meu Imaculado Coração”13. Nossa Senhora falou também que voltaria para pedir esta devoção. Para cumprir sua promessa, no dia 10 de Dezembro de 1925, em Pontevedra, na Espanha, Nossa Senhora apareceu a Irmã Lúcia com o Coração na mão, cercado de espinhos. Este Coração é o mesmo que foi transpassado pela espada da dor, no sacrifício de Jesus Cristo no altar da Cruz. Os sofrimentos da Virgem das Dores não foram causados somente por causa dos padecimentos do seu Filho. Desde os seus dias de vida terrena até hoje, Nossa Senhora continua sofrendo por causa dos nossos pecados. Isto nos é revelado pelo próprio Senhor, na mesma aparição, em Pontevedra, quando o Menino Jesus disse a Irmã Lúcia: “Tem pena do Coração de sua SS. Mãe que está coberto de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos lhe cravam sem haver quem faça um ato de reparação para os tirar”14.

Depois de mostrar seu Coração Imaculado, cercado de espinhos, Nossa Senhora revelou à então postulante Lúcia, a devoção reparadora dos cinco primeiros sábados:

Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos, que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar, e dize que todos aqueles que durante cinco meses, no primeiro sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço, e Me fizerem quinze minutos de companhia, meditando nos quinze mistérios do Rosário, com o fim de me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas15.

Assim, depois aprofundar nosso conhecimento das aparições marianas, podemos concluir que a devoção ao Escapulário de Nossa Senhora do Carmo está intimamente ligada com a espiritualidade do Santo Rosário e com a consagração ao Imaculado Coração de Maria, da qual faz parte de devoção reparadora dos cinco primeiros sábados. Estas devoções já faziam parte do tradicional patrimônio de espiritualidade mariana da Igreja Católica. Entretanto, pela Providência divina, nos foram dados a conhecer que estas devoções não são somente queridas por Deus e pela Virgem Maria, mas também são os meios que nos são dados em nossos dias para nos aproximar de Jesus Cristo e de sua Mãe Santíssima, e reparar as ofensas cometidas contra os seus Sagrados Corações. Sendo assim, somos chamados a usar com fé e amor o Santo Escapulário, a rezar com atenção e devoção o Santo Rosário, a consagrar-nos ao Imaculado Coração de Maria e, por fim, a praticar a devoção reparadora dos primeiros sábados. Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós!

Natalino Ueda, escravo inútil de Jesus por Maria.

Links relacionados:

PADRE PAULO RICARDO. O que é o escapulário?

PADRE PAULO RICARDO. A Espiritualidade Carmelitana e a Virgem Maria.

TODO DE MARIA. A consagração a Maria como escola espiritual.

TODO DE MARIA. A reparação ao Imaculado Coração de Maria.

TODO DE MARIA. Nossa Senhora e a Nova Ordem Mundial.

Referências:

2 Idem, ibidem.

3 Idem, ibidem.

4 Idem, ibidem.

5 Idem, ibidem.

7 Idem, ibidem.

8 Idem, ibidem.

9 SANTA TERES A DE JESUS. Castelo Interior, Quintas Moradas, I, 2

11 PAPA JOÃO PAULO II. Mensagem do Santo Padre à Ordem do Carmelo por ocasião da dedicação do Ano 2001 à Virgem Maria, 4; (cf. Pio XII, Carta Neminem profecto later [11 de Fevereiro de 1950: AAS 42, 1950, pp. 390-391]; Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 67)

12 ORDEM DO CARMO EM PORTUGAL. Op. cit.

13 SANTUÁRIO DE FÁTIMA. A segunda aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria (13.06.1917), p. 4.

14 FRANCESCO BAMONTE. A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos, p. 128.

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