A maternidade de Maria em nossas vidas

A Virgem Maria mantém uma relação materna única e irrepetível com cada um de nós, seus filhos e escravos de amor, por toda a nossa vida.

A Santíssima Virgem Maria é Mãe da Igreja e, em virtude desta maternidade, mantém uma íntima relação com cada um de nós, filhos de Deus, em todos os momentos de nossas vidas. Para compreender esta maternidade espiritual da Virgem Maria sobre nós, podemos compará-la com a maternidade biológica. A maternidade determina sempre uma relação única e irrepetível entre duas pessoas: da mãe com o filho e do filho com a mãe. Mesmo quando uma mulher é mãe de muitos filhos, a sua relação pessoal com cada um deles caracteriza a maternidade na sua própria essência. Cada um dos filhos é gerado de modo único e irrepetível e isto é válido tanto para a mãe quanto para o filho. Cada um dos filhos é cercado, de modo singular, do amor materno, que é a base fundamental da formação e amadurecimento em humanidade.

A Virgem Maria mantém uma relação materna única e irrepetível com cada um de nós, seus filhos e escravos de amor, por toda a nossa vida.

A Virgem Maria e o Discípulo amado aos pés da cruz de Cristo.

Esta maternidade na “ordem da natureza” caracteriza a união da mãe com o filho e é como que um espelho da maternidade na “ordem da graça”. Esta analogia nos ajuda a compreender porque, no testamento de Jesus Cristo no Calvário, a maternidade de sua Mãe Santíssima é por Ele expressa no singular, em relação a um só homem: “Eis o teu filho”1. Além disso, essa comparação com a maternidade biológica nos ajuda a compreender a necessidade de deixar-nos cuidar pela Virgem Maria. Pois, o filho sempre necessita dos cuidados, do carinho, da atenção da mãe. Não precisamos ter medo, pois se uma boa mãe quer o bem ao seu filho, a Mãe de Deus quer para nós o Sumo Bem, que é Jesus Cristo, e fará todo o possível para nos conduzir a Ele. Além disso, como uma mãe amorosa, bondosa, zelosa, a Mãe da Igreja nos ajudará em nossa formação humana e espiritual, “até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo”2.

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A nossa entrega filial a Santíssima Virgem Maria

No testamento espiritual do Filho de Deus3, “está plenamente indicado o motivo da dimensão mariana da vida dos discípulos de Cristo: não só de São João, que naquela hora estava aos pés da Cruz, juntamente com a Mãe do seu Mestre, mas também de todos os demais discípulos de Cristo”4. Jesus Cristo confia a Virgem Maria a cada um de nós e, ao mesmo tempo, entrega a sua Mãe a nós como nossa Mãe. Dessa forma, a maternidade de Maria, que se torna herança do homem, é um dom, que o próprio Cristo faz a cada um de nós pessoalmente. “O Redentor confia Maria a João, na medida em que confia João a Maria. Aos pés da Cruz começou aquela especial entrega do homem à Mãe de Cristo, que ao longo da história da Igreja foi posta em prática e expressa de diversas maneiras”5.

Uma das formas privilegiadas, se não a mais privilegiada, de viver esta entrega é a consagração a Jesus por Maria – segundo o livro “Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem”, de São Luís Maria Grignion de Montfort – que tem em São João Paulo II um dos seus mais ilustres e fiéis consagrados.

São João, o Discípulo amado, depois de escrever as palavras dirigidas por Jesus do alto da Cruz à sua Mãe e a si próprio, acrescenta: “E, a partir daquele momento, o discípulo levou-a para sua casa”6. Esta afirmação quer dizer que ao discípulo foi atribuído um papel de filho e que ele tomou sob seus cuidados a Mãe do Mestre, a quem amava. Maria foi dada pessoalmente ao Discípulo como mãe, o que comporta tudo o que diz respeito a relação íntima de um filho com a mãe. Tudo isso pode resumir-se na palavra “entrega”. Esta entrega filial é a resposta ao amor de uma mãe.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo com o tema: “Consagrados da Virgem, consagrados na Cruz”:

A dimensão mariana da vida em Cristo

A dimensão mariana das nossas vidas exprime-se, de modo especial, nessa entrega filial a Mãe de Cristo, iniciada com o testamento espiritual do Salvador do alto da cruz. Confiando-nos filialmente a Maria, como o Apóstolo São João, acolhemos entre as nossas coisas próprias7, em nossa vida interior, a Mãe de Cristo. Desse modo, nos colocamos sob a caridade materna com a qual a Mãe de Deus cuida de nós, irmãos do seu Filho, cooperando em nossa regeneração e formação, segundo a medida do dom própria de cada um, pelo poder do Espírito de Cristo. Dessa forma, acontece “aquela maternidade segundo o Espírito, que se tornou função de Maria aos pés da Cruz e no Cenáculo”8.

A nossa relação de entrega filial a Virgem Maria tem o seu início em Jesus Cristo e está definitivamente orientada para Ele. Por isso, podemos dizer que Nossa Senhora continua a repetir a todos nós as mesmas palavras que disse outrora na festa de casamento em Caná da Galileia: “Fazei o que ele vos disser”9. Pois, Ele é o único Mediador entre Deus e os homens10; é “o caminho, a verdade e a vida”11; e é aquele que o Pai doou ao mundo, para que cada um de nós “não pereça, mas tenha a vida eterna”12.

A Virgem de Nazaré tornou-se a primeira testemunha deste amor salvífico do Pai e permanece a sua humilde serva, sempre e em toda a parte. Em relação a todos e cada um de nós cristãos e a cada um dos homens de boa vontade, Maria é a primeira na fé: é “aquela que acreditou”13. Justamente com esta sua fé de esposa e de mãe, ela quer atuar em favor de todos que a ela se entregam como filhos e escravos. E, quanto mais perseveramos nessa atitude de entrega e progredimos nela, tanto mais Maria nos aproxima da “insondável riqueza de Cristo”14. Além disso, também reconhecemos cada vez mais a dignidade do humana, em toda a sua plenitude, e o sentido definitivo da nossa vocação, porque “Cristo Redentor […] revela plenamente o homem ao próprio homem”15.

Esta dimensão mariana da vida cristã tem um caráter particular no que diz respeito às mulheres e à condição feminina. Pois, as mulheres encontram-se numa relação singular com a Mãe do Redentor. A figura da Virgem de Nazaré projeta uma luz sobre a mulher pelo fato de Deus, no sublime mistério da Encarnação do seu Filho unigênito, confiar-Se aos bons préstimos, livres e ativos da Mulher. A mulher, olhando para Maria, encontrará o segredo para viver dignamente a sua feminilidade e realizar a sua verdadeira vocação.

Depois de olhar para “Maria, a Igreja vê no rosto da mulher os reflexos de uma beleza, que é espelho dos mais elevados sentimentos que o coração humano pode albergar [conter]: a totalidade do dom de si por amor; a força que é capaz de resistir aos grandes sofrimentos; a fidelidade sem limites, a operosidade incansável e a capacidade de conjugar a intuição penetrante com a palavra de apoio e encorajamento”16.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre “A vida oculta de Jesus”:

Nossa Senhora na compreensão do mistério de Cristo e da Igreja

A Virgem Maria é Mãe da Igreja, “Mãe de todo o povo cristão, tanto dos fiéis como dos Pastores”17. Nós cremos que “a Santíssima Mãe de Deus, nova Eva, Mãe da Igreja, continua no Céu a sua função maternal em relação aos membros de Cristo, cooperando no nascimento e desenvolvimento da vida divina nas almas dos remidos”18.

Devemos estudar cada vez mais estes temas marianos, especialmente na Sagrada Tradição e no Magistério da Igreja, bem como nos escritos dos santos, pois “a verdade sobre a Virgem Santíssima, Mãe de Cristo, constitui um subsídio eficaz para o aprofundamento da verdade sobre a Igreja”19. No entanto, o conhecimento da doutrina mariana não se limita em nos esclarecer em relação a Igreja, mas também no que diz respeito ao próprio Filho de Deus. Pois, “o conhecimento da verdadeira doutrina católica sobre a Bem-aventurada Virgem Maria constituirá sempre uma chave para a compreensão exata do mistério de Cristo e da Igreja”20.

Nossa Senhora está presente na Igreja como Mãe de Cristo e, ao mesmo tempo, como a Mãe que o próprio Cristo, no mistério da Redenção, deu a cada um de nós, na pessoa do Discípulo amado21. Com a sua nova maternidade no Espírito Santo, a Santíssima Virgem abraça todos e cada um de nós na Igreja; e abraça também todos e cada um de nós mediante a Igreja. Neste sentido, a Mãe da Igreja é também modelo da Igreja. Por isso, devemos “buscar na Virgem Mãe de Deus a forma mais autêntica da perfeita imitação de Cristo”22.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre a “Consagração a Nossa Senhora, um caminho de santidade”:

Maria, Mãe e modelo para a Igreja e para todos nós cristãos

Portanto, graças ao vínculo especial, que une a Mãe de Cristo a Igreja, esclarece-se melhor o mistério daquela “Mulher”23 que, do livro do Gênesis ao do Apocalipse, acompanha a revelação do desígnio salvífico de Deus em relação à humanidade. A Virgem Maria está presente na Igreja como Mãe do Redentor, e participa maternalmente naquele “duro combate contra os poderes das trevas […] que se trava ao longo de toda a história humana”24.

Em virtude da sua identificação eclesial com a “Mulher vestida de sol”25, podemos dizer que “a Igreja alcançou já na Virgem Santíssima aquela perfeição, que faz que ela se apresente sem mancha nem ruga”26. Entretanto, nós que estamos de passagem neste mundo, levantando os olhos com fé para a Virgem Maria e, ao longo da nossa peregrinação terrestre, continuamos a esforçar-nos por crescer na santidade, para chegarmos um dia à Jerusalém celeste.

Maria Santíssima, a Mãe da Igreja, ajuda a todos nós, seus filhos, independentemente da nossa condição, a encontrar em Cristo o caminho para a casa do Pai. Entretanto, sua solicitude é maior com os mais necessitados, aqueles que sofrem no corpo ou na alma. Por isso, como nos indicou São Bernardo, invoquemos sempre Nossa Senhora, principalmente em nossas necessidades: “Se se levantarem os ventos da tentação, se vires aproximar-se o escolho das provações, olha para a estrela, invoca Maria! Se te sentires sacudido pelas vagas do orgulho, da ambição, da maledicência ou do ciúme, eleva os olhos para a estrela, invoca Maria. […] Se te sentires perturbado pela enormidade dos teus pecados, humilhado pela vergonha da tua consciência, assustado pelo temor do julgamento, se estiveres a ponto de naufragar nas profundezas da tristeza e do desespero, pensa em Maria. No perigo, na angústia, na dúvida, pensa em Maria, invoca Maria!”27 Assim, todos e cada um de nós em particular mantemos, em toda a nossa vida, uma ligação com a Mãe de Deus que abraça, no mistério salvífico de Cristo, o passado, o presente e o futuro; e veneramos Nossa Senhora como Mãe espiritual e Advogada na ordem da graça28. Virgem Maria, Mãe da Igreja, rogai por nós!

Natalino Ueda, escravo inútil de Jesus em Maria.

Links relacionados:

FORMAÇÃO CANÇÃO NOVA. Na maternidade, revela-se o mistério da mulher.

EVENTOS CANÇÃO NOVA. A maternidade Divina de Maria.

TODO DE MARIA. A maternidade de Maria na vida da Igreja.

TODO DE MARIA. Maria, o feminino e a maternidade.

Referências:

1 Jo 19, 26.

2 Ef 4, 13.

3 Jo 19, 25-27.

4 PAPA JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptoris Mater, 45.

5 Idem, ibidem.

6 Jo 19, 27.

7 O que se exprime no texto grego com “είς τά ίδια” vai além do simples acolhimento de Maria por parte do Discípulo, no sentido só do alojamento material e da hospedagem em sua casa; tal expressão designa principalmente uma comunhão de vida (em família) que se estabelece entre os dois, em virtude das palavras de Cristo antes de morrer: Cf. S. Agostinho, In Ioan. Evang. tract. 119, 3: CCL 36, 659: “O discípulo recebeu-a em casa, não num prédio de sua propriedade, porque não possuía nada de seu, mas sim entre o que era objecto dos seus cuidados, a quem ele atendia com dedicação”.

8 PAPA JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptoris Mater, 45. Cf. Jo 19, 25-27; cf. At 1, 14.

9 Jo 2, 5.

10 Cf. 1 Tm 2, 5.

11 Cf. Jo 14, 6.

12 Jo 3, 16.

13 Lc 1, 45.

14 Ef 3, 8.

15 PAPA JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptor Hominis, 10.

16 PAPA JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptoris Mater, 46.

17 Idem, 47. Cf. Papa Paulo VI, discurso de 21 de Novembro de 1964: AAS 56 (1964) 1015.

18 Idem, ibidem. Paulo VI, Solene Profissão de Fé (30 de Junho de 1968), 15: AAS 60 (1968) 438 s.

19 Idem, ibidem.

20 Idem, ibidem. Paulo VI, Discurso de 21 de Novembro de 1964: AAS 56 (1964) 1015.

21 Cf. Jo 19, 27.

22 PAPA JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptoris Mater, 47. Paulo VI, Discurso de 21 de Novembro de 1964: AAS 56 (1964) 1016.

23 Cf. Gn 3, 15; cf. Jo 2, 4; 19, 26; cf. Ap 12, 1-18.

24 Idem, ibidem. Cf. CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Pastoral Gaudium et spes, 37.

25 Ap, 12, 1.

26 PAPA JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptoris Mater, 47. CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen gentium, 65.

28 Cf. Idem, ibidem.

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