Três missões de Nossa Senhora na Igreja

Nossa Senhora exerce três missões essenciais na vida da Igreja e de cada um de nós em particular.

Como consequência da sua participação no Mistério de Jesus Cristo e da Igreja, Nossa Senhora assumiu três missões fundamentais no desígnio de salvação da humanidade e de cada um de nós em particular. A primeira missão da Santíssima Virgem Maria é ser modelo no seguimento de seu Filho Jesus Cristo, de união com Ele, de discípula missionária, de membro supereminente da Sua Igreja. A segunda, é sua missão de intercessora nossa junto ao seu Filho Jesus. Estas duas missões não são exclusivas da Santíssima Virgem, pois também os santos são para nós modelos de vida a serem imitados e, ao mesmo tempo, intercessores junto a Cristo, único mediador entre os homens e Deus1. No entanto, a Virgem Maria é modelo e intercessora de modo singular extraordinário na Igreja, pois sua participação no Mistério da Salvação é única e irrepetível. Dessa forma, compreendemos que a presença de Nossa Senhora na vida de Cristo e da Igreja não é comparável à de nenhum dos outros santos ou santas. Ademais, a terceira missão da Virgem Maria no mistério de Cristo e da Igreja, que é a sua maternidade espiritual, a torna ainda mais importante para nós. Pois, o seu ser modelo e intercessora pode não nos dizer respeito diretamente, se não recorremos a Virgem Maria. Entretanto, a sua maternidade espiritual diz respeito a todos nós cristãos e até mesmo à humanidade inteira, ainda que não a aceitemos como tal.

Nossa Senhora exerce três missões essenciais na vida da Igreja e de cada um de nós em particular.

Nossa Senhora das Vitórias

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Nossa Senhora como modelo para toda a Igreja

A Virgem Maria não se compara a Jesus Cristo, que é o modelo divino de toda a perfeição, que pregou a santidade de vida, de que Ele é autor e consumador, a todos e a cada um dos seus discípulos2. No entanto, se “na Santíssima Virgem, a Igreja alcançou já aquela perfeição sem mancha nem ruga que lhe é própria3, os fiéis ainda têm de trabalhar por vencer o pecado e crescer na santidade; e por isso levantam os olhos para Maria, que brilha como modelo de virtudes sobre toda a família dos eleitos”4. Pois, a Mãe de Deus reúne em si e reflete os imperativos mais altos da nossa fé, ao ser exaltada e venerada, atrai-nos ao Filho, ao Seu sacrifício e ao amor do Pai. “Por sua parte, a Igreja, procurando a glória de Cristo, torna-se mais semelhante àquela que é seu tipo e sublime figura, progredindo continuamente na fé, na esperança e na caridade, e buscando e fazendo em tudo a vontade divina”5. Na sua ação apostólica, a Igreja tem como modelo por excelência aquela que gerou Jesus Cristo, que foi concebido pela ação do Espírito Santo e nasceu da Virgem, precisamente para nascer e crescer também no coração de cada um de nós, por meio da Igreja. Em sua vida, a Virgem de Nazaré deu o exemplo do afeto maternal que deve animar a todos que cooperam na missão apostólica da Igreja na regeneração dos homens. O ser modelo de Nossa Senhora torna-se ainda mais eminente pelo dom e missão da maternidade divina, que a une a seu Filho Redentor. Além disso, pelas suas singulares graças e funções, a Virgem está também intimamente ligada à Igreja: “a Mãe de Deus é o tipo e a figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo”6. Enfim, a Bem-aventurada Virgem Maria brilha extraordinariamente no Mistério da Igreja como modelo eminente e único de virgem e de mãe7.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre a “Devoção à Santíssima Virgem Maria”:

A Santíssima Virgem como intercessora junto a Jesus Cristo

Desde os primórdios, a Igreja sempre acreditou que os apóstolos e mártires de Cristo que, derramando o próprio sangue, deram o supremo testemunho de fé e de caridade, estão mais ligados conosco em Cristo e os venera com particular afeto, juntamente com a Bem-aventurada Virgem Maria e os santos Anjos, e sempre implorou o auxílio da sua intercessão. No entanto, a Mãe de Deus se diferencia nessa intercessão, pois ela foi elevada aos Céus de corpo e alma, o que os outros santos não foram e foi coroada como Rainha de todos os anjos e santos. Depois de chegar à gloria do Reino dos Céus, a Santíssima Virgem não abandonou sua missão salvadora. Pela abundância da graça recebida em vista de ser Mãe de Deus e por seus méritos quase infinitos na participação do Mistério da Salvação, a humilde oração de Maria é “mais poderosa junto de Deus que as preces e as intercessões de todos os anjos e santos do Céu e da Terra”8. Com sua multiforme intercessão, continua a alcançar para nós os dons da salvação eterna. Dessa forma, Nossa Senhora cuida, com amor materno, de todos nós, irmãos de seu Filho, que caminhamos aqui na Terra, entre perigos e angústias, até chegarmos à Pátria bem-aventurada e definitiva, no Reino dos Céus. Em vista de sua intercessão por cada um de nós, seus filhos, diante do Filho do Altíssimo, a Virgem Santíssima é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira. Todavia, esta mediação da Virgem Maria nada tira nem acrescenta à dignidade e eficácia do único mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo9. “Efetivamente, nenhuma criatura se pode equiparar ao Verbo encarnado e Redentor; mas, assim como o sacerdócio de Cristo é participado de diversos modos pelos ministros e pelo povo fiel, e assim como a bondade de Deus, sendo uma só, se difunde variavelmente pelos seres criados, assim também a mediação única do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas cooperações diversas, que participam dessa única fonte”10. Desse modo, a Igreja não hesita em proclamar esta mediação subordinada de Maria, sente-a constantemente em sua história ao longo dos séculos e recomenda-a a todos nós, para mais intimamente aderirmos, com esta ajuda materna, ao nosso Mediador e Salvador Jesus Cristo.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo, que responde: “A Virgem Maria é onipresente? E os anjos? E os demônios? E os santos?”:

A maternidade da Mãe da Igreja sobre a humanidade

A Virgem Santíssima foi predestinada desde toda a eternidade para ser Mãe de Deus. “Por disposição da divina Providência foi na terra a nobre Mãe do divino Redentor, a Sua mais generosa cooperadora e a escrava humilde do Senhor11. Concebendo, gerando e alimentando o Cristo, apresentando-O ao Pai no templo12, padecendo com Ele quando agonizava na cruz13, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por esta razão nossa mãe na ordem da graça”14. Esta maternidade da Nossa Senhora na ordem da graça diz respeito não somente à Igreja, mas à toda a toda a humanidade15. Pois, a “maternidade de Maria na economia da graça perdura sem interrupção, desde o consentimento, que fielmente deu na anunciação16 e que manteve inabalável junto à cruz17, até à consumação eterna de todos os eleitos”18. A Mãe de Cristo ― encontrando-se na irradiação direta do Mistério Pascal do Redentor, que abrange todos e cada um dos homens ― é dada a toda a humanidade e a cada um de nós em particular como Mãe. “Esta ‘nova maternidade de Maria’, portanto, gerada pela fé, é fruto do ‘novo’ amor, que nela amadureceu definitivamente aos pés da Cruz19, mediante a sua participação no amor redentor do Filho”20.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre “A Mãe do Salvador e a Nossa Vida Interior”:

De Maria nunca se dirá o suficiente

Assim, a Santíssima Virgem Maria participou de modo extraordinário e único no Mistério de Jesus Cristo e continua exercer suas missões no Mistério da Igreja. Aqui ressaltamos aquelas que julgamos as mais importantes: Nossa Senhora como modelo, intercessora, Mãe da Igreja e de toda a humanidade. No entanto, como dizia São Bernardo de Claraval e outros santos, em latim podemos dizer que: “de Maria nunquam satis”, que pode ser traduzido por: “de Maria nunca se dirá o suficiente”. À vista disso, sem querer esgotar minimamente o assunto, pois a Virgem Maria permanece insuficientemente conhecida até nossos dias21, tratamos destas três missões da Mãe de Deus para que nos recordemos destas verdades que, se não são ditas sempre, vão se tornando esquecidas por nós. Em dias nos quais carecemos de modelos de entrega de vida e de santidade, depois de Jesus Cristo, a Santíssima Virgem brilha como modelo insuperável de entrega total aos desígnios de Deus22, de vivência radical da santidade e de virgindade perpétua por amor ao Reino dos Céus. Olhemos para ela e nos espelhemos em seus exemplos, especialmente nas virtudes teologais: a sua fé inabalável, a sua esperança firme e a sua caridade ardente. Além disso, invoquemos com confiança a intercessão da Mãe de Deus, em todas as nossas necessidades materiais e espirituais, principalmente na intenção da nossa conversão pessoal e de nosso crescimento espiritual. A este respeito, alguns podem objetar dizendo que somente Deus é onipotente e consequentemente poderia ter salvo a humanidade sem a intervenção de ninguém, o que é uma verdade inquestionável. Entretanto, Deus Pai concedeu a Nossa Senhora a máxima dignidade dada à humanidade, que é gerar seu Filho Unigênito, e em vista disso deu também a ela o poder máximo dado a uma pessoa humana: ser para nós a “onipotência suplicante” e a “medianeira de todas as graças”. O Altíssimo fez da Virgem Maria uma mulher cheia do Espírito Santo23, em vista da sua missão no Mistério da Redenção e a constituiu nossa grande mediadora junto ao seu Filho Jesus Cristo, que é o único Mediador junto do Pai. Por fim, peçamos a Mãe de Deus que gere seu divino Filho em nós e, ao mesmo tempo, nos gere em seu Corpo Místico, que é a Igreja. Pois, “se Jesus Cristo, cabeça dos homens, nasceu d’Ela, todos os predestinados, membros desta cabeça, também d’Ela devem nascer, por uma consequência necessária”24. Sendo assim, se queremos ser verdadeiramente filhos da Igreja, deixemo-nos ser gerados pela Mãe da Igreja. Nossa Senhora das Vitórias, rogai por nós!

Natalino Ueda, escravo inútil de Jesus em Maria.

Links relacionados:

PADRE PAULO RICARDO. Caminho de Perfeição.

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Referências:

1 1 Tim 2, 5.

2 Cf. CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, 40.

3 Cf. Ef 5, 27.

4 CONCÍLIO VATICANO II. Op. cit., 65.

5 Idem, ibidem.

6 Idem, 63. Cf. Santo Ambrósio, Expos. U. II, 7: PL 15, 1555.

7 Idem, ibidem. Cf. Ps. – Pedro Dam., Serm. 63: PL 144, 861 AB. – Godofredo de S. Victor. In nat. B. M., Ms. Paris, Mazarine, 1002, fol. 109 r. – Gerhohus Reich, De gloria et honore Filii hominis, 10: PL 194, 1105 AB.

8 Cf. SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 27.

9 1 Tim 2, 5.

10 CONCÍLIO VATICANO II. Op. cit., 62.

11 Cf. Lc 1, 48.

12 Cf. Lc 2, 22-39.

13 Cf. Jo 19, 25.

14 CONCÍLIO VATICANO II. Op. cit., 61.

15 PAPA JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, 968.

16 Cf. Lc 1, 38.

17 Cf. Jo 19, 25.

18 CONCÍLIO VATICANO II. Op. cit., 62.

19 Cf. Jo 19, 25-27.

20 PAPA JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptoris Mater, 23.

21 Cf. SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 13.

22 Cf. Lc 1, 38.

23 Cf. Lc 1, 28.

24 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 32.

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