Conheça a extraordinária história de Bartolo Longo: um homem transformado pelo Rosário e pela devoção a Nossa Senhora.
O Beato Bartolo Longo (1841-1926), fundador do magnífico Santuário Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, na Itália, foi um leigo que teve sua vida transformada e, em consequência dessa mudança radical, viveu de forma exemplar a sua vocação na Igreja Católica. O Beato tornou-se um grande apóstolo do Rosário e da devoção a Nossa Senhora. Além disso, “Bartolo Longo foi instrumento da Providência para a defesa e o testemunho da fé cristã e para a exaltação de Maria Santíssima, num período doloroso de ceticismo e anticlericalismo”1. Posições estas que, por ironia do destino, ele havia assumido anteriormente como projeto de vida.
Bartolo foi uma dessas pessoas que não consegue viver as coisas pela metade. Por isso, na sua juventude, depois de ter contato com a universidade, onde foi contaminado pela onda de racionalismo e ateísmo que se espalhou por toda a Europa no século XIX, ele perdeu a fé e a piedade que nutrira desde a infância e, consequentemente, passou a viver conforme o espírito do mundo e a perseguir a Igreja Católica.
Homem inteligente e aplicado, Bartolo Longo fez-se um advogado bem sucedido e tinha uma carreira promissora pela frente. Muito elegante, educado e de fácil relacionamento, tinha muitos amigos e era muito admirado e querido na alta sociedade da época. No entanto, ele não se sentia em paz, pois sua consciência lhe dizia que estava no caminho errado. Foi neste contexto de crise de fé e de vazio interior que Bartolo viveu uma experiência extraordinária de fé, que mudou radicalmente a sua vida.
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De incrédulo a fiel devoto da Virgem Maria e propagador do Rosário
Na infância, Bartolo teve a influência da Igreja Católica e uma vida de piedade profunda. No entanto, tudo mudou quando decidiu estudar direito em Nápoles. Pois, longe de favorecer a fé católica, o meio acadêmico levava os estudantes à negação da fé em Deus e até mesmo ao ataque aberto contra a Santa Igreja. Como acontece em nossos dias, já naquela época, os professores usavam das cátedras universitárias para difundir filosofias ateias. Desse modo, o racionalismo e o anticlericalismo devastavam a fé da juventude, até mesmo dos mais piedosos.
Em 1872, Bartolomeu Longo, agora advogado e incrédulo, com o coração inquieto e cheio de dúvidas, vagueava em Pompeia, sozinho, em busca da verdade e da paz de espírito. Então, ele ouve uma voz interior dizendo: “Se queres achar a paz, propaga o Rosário, porque é segura a salvação de quem espalha a devoção do Terço”2. A reação de Bartolo foi imediata. Ele respondeu à voz celeste: “Se essa promessa é certa, estou salvo, porque não deixarei este vale sem ter propagado o Rosário”3.
Desde então, Bartolo Longo mudou de vida. Homem de decisões radicais, “recusou vantajosas propostas de casamento, abandonou a carreira advocatícia e se dedicou às obras de caridade e ao estudo da Religião”4. A conversão de Bartolo tornou-se conhecida e, com isso, passou a ser “alvo de grosseiras chacotas daqueles mesmos que antes aplaudiam e estimulavam suas atividades antirreligiosas. Mas elas produziram como único resultado um ato de reparação: ‘Devo reparar pelos meus pecados’, dizia o convertido”5.
Bartolo Longo: o homem de Nossa Senhora
Bartolo teve uma vida longa, inspirada por uma fé simples e heroica, rica de episódios marcantes, durante a qual brotou e se desenvolveu o milagre de Pompeia. Sua obra começou pela humilde catequese aos aldeões do Vale de Pompeia, passou pela oração do Terço diante do famoso quadro de Nossa Senhora do Rosário, chegando à construção do magnífico Santuário de Pompeia e à instituição das obras de caridade para os filhos e filhas dos presos. “Bartolo Longo promoveu, com intrépida coragem, uma obra grandiosa que ainda hoje nos deixa assombrados e perplexos”6.
Depois de sua conversão, Bartolo Longo dedicou toda a sua existência num intenso e constante serviço a Igreja, em nome e por amor de Maria:
Bartolo Longo, Terceiro da Ordem Dominicana e fundador da Instituição das Irmãs ‘Filhas do Santo Rosário de Pompeia’, pode-se verdadeiramente definir ‘o homem de Nossa Senhora’: por amor de Maria tornou-se escritor, apóstolo do Evangelho, propagador do Rosário, e fundador do célebre Santuário no meio de enormes dificuldades e adversidades; por amor de Maria criou institutos de caridade, fez-se mendicante em favor dos filhos dos pobres e transformou Pompeia numa viva cidadezinha de bondade humana e cristã; por amor de Maria suportou em silêncio tribulações e calúnias, passando através de um longo Getsêmani, sempre confiando na Providência, sempre obediente ao Papa e à Igreja7.
O Beato Bartolo Longo, como o fez outrora, com a coroa do Rosário na mão, diz também a nós, cristãos do início do século XXI, tempo igualmente marcado pelo ceticismo e pelo anticlericalismo: “Desperta a tua confiança na Santíssima Virgem do Rosário… Deves ter a fé de Jó… Santa Mãe muito querida, eu deponho em Ti toda a minha aflição, toda a esperança e toda a confiança!”8.
Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre “Memória de Nossa Senhora do Rosário”:
Os primeiros milagres e a devoção a Nossa Senhora do Rosário de Pompeia
Depois da sua conversão, a Providência divina aproximou o Beato Bartolo Longo e a Beata Catarina Volpicelli, fundadora das Servas do Sagrado Coração de Jesus. “Esta o pôs em contato com outras pessoas de grande fervor, entre as quais a Condessa Mariana Fonseca, viúva do Conde de Fusco, proprietária de terras no Vale de Pompeia”9. Dessa forma, a Virgem Maria conduziu Bartolo para a realização da grande missão para a qual o havia escolhido. “Em 1872, a Condessa de Fusco confiou-lhe a administração de suas propriedades nos arredores de Pompeia. Lá chegando, ele ficou profundamente chocado ante a miséria humana e religiosa dos pobres camponeses da região”10. À vista disso, dedicou-se prontamente à tarefa nobre e humilde de lhes ensinar o Catecismo, e a oração do Santo Rosário.
Nada havia naquelas terras, a não ser uma pequena igreja, já muito arruinada e tão pobre que não tinha sequer uma imagem. Por ser um homem profundamente mariano, Bartolo começou a procurar uma imagem de Nossa Senhora do Rosário para a igreja. Certo dia, uma religiosa soube disso e apresentou a Bartolo uma pintura da Virgem do Rosário, mas em péssimo estado. Por isso, a Condessa não se entusiasmou com a imagem. No entanto, na falta de outra melhor, a estampa foi enviada à Pompeia. O Bispo de Nola, do qual dependia a região, decidiu construir uma igreja maior e incumbiu Bartolo de arrecadar doações para a construção. Com o dinheiro arrecadado, a imagem da Virgem do Rosário foi restaurada e emoldurada, sendo exposta pela primeira vez para veneração pública no dia 13 de fevereiro de 1876. “Desse dia até o 19 de março seguinte, oito grandes milagres realizaram-se diante da modesta estampa. Os milagres tiveram ampla repercussão em toda a Itália”11.
Além de piedoso, Bartolo Longo era um homem de visão. Viajou pela Europa pedindo donativos, não só para o novo santuário, mas também para outras obras. Em 1884, fundou um periódico chamado ‘O Rosário e a nova Pompeia’, para o qual montou uma tipografia em que empregou crianças pobres da cidade. Criou um orfanato para os filhos e depois para as filhas dos encarcerados. Em 1897, para a formação destas crianças e jovens, fundou a congregação das Filhas do Santo Rosário da Ordem Terceira Dominicana. Em 1922, perto do fim de uma longa vida dedicada à Igreja Católica, Bartolo fundou o Instituto Feminino Sagrado Coração.
Beato Bartolo Longo: apóstolo do Rosário da Virgem Maria
Assim, a devoção a Santíssima Virgem Maria de Pompeia cresceu rapidamente e os milagres se multiplicavam. Quando, em 5 de outubro de 1926, faleceu Bartolo Longo, sua obra já atingia proporções grandiosas. O Santuário Nossa Senhora do Rosário de Pompeia tornou-se um centro internacional de propagação do Rosário, e foi elevado à categoria de Basílica Pontifícia, para onde os peregrinos acorrem ainda hoje aos milhares. Além disso, em torno do Santuário foi construída uma cidade mariana, com numerosos institutos de beneficência.
O Beato Bartolo Longo foi um simples leigo que fundou comunidades religiosas, um dos poucos casos na história da Igreja. Em nossos dias, nos quais vivemos as consequências do ceticismo e anticlericalismo da época de Bartolo, sua vida é um exemplo luminoso do que é capaz um homem convertido, um homem todo de Nossa Senhora, que reza e propaga o Santo Rosário. Bartolo foi um verdadeiro apóstolo do Rosário, que teve o seu caminho de santidade fundado numa inspiração ouvida no fundo do coração: “Quem difunde o Rosário, salva-se!”12.
No itinerário espiritual do Rosário, fundado na incessante contemplação da face de Jesus Cristo, na companhia da Virgem Maria, alcançamos este ideal exigente de configuração com Ele. Dessa forma, o Rosário nos introduz na vida de Cristo e nos impulsiona a realizar a Sua obra. Essa configuração aconteceu na vida do Beato Bartolo Longo, o que é uma prova inquestionável daquilo que ele ensinava:
Tal como dois amigos, que se encontram constantemente, costumam configurar-se até mesmo nos hábitos, assim também nós, conversando familiarmente com Jesus e a Virgem, ao meditar os mistérios do Rosário, vivendo unidos uma mesma vida pela Comunhão, podemos vir a ser, por quanto possível à nossa pequenez, semelhantes a Eles, e aprender destes supremos modelos a vida humilde, pobre, escondida, paciente e perfeita13.
Em 26 de outubro de 1980, no início de seu pontificado, o Papa João Paulo II reconheceu esta grande obra nele realizada e beatificou Bartolo Longo. Mais de vinte anos depois, em 2002, já nos seus últimos anos na Cátedra de Pedro, São João Paulo II citou várias vezes o Beato na Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, e terminou esta com a sua célebre súplica a Nossa Senhora, nos recordando da importância do Rosário e da devoção mariana em nossas vidas:
Ó Rosário bendito de Maria, doce cadeia que nos prende a Deus, vínculo de amor que nos une aos Anjos, torre de salvação contra os assaltos do inferno, porto seguro no naufrágio geral, não te deixaremos nunca mais. Serás o nosso conforto na hora da agonia. Seja para ti o último beijo da vida que se apaga. E a última palavra dos nossos lábios há de ser o vosso nome suave, ó Rainha do Rosário de Pompeia, ó nossa Mãe querida, ó Refúgio dos pecadores, ó Soberana consoladora dos tristes. Sede bendita em todo o lado, hoje e sempre, na terra e no céu. Amém14.
Iluminados pela vida do Beato Bartolo Longo, de São João Paulo II e de tantos outros santos e santas, façamos do Santo Rosário a nossa oração de todos os dias e propaguemos esta extraordinária e eficaz, mas ao mesmo tempo simples, devoção a Jesus Cristo e a sua Mãe Santíssima. Nossa Senhora do Rosário, rogai por nós!
Natalino Ueda, servo inútil de Jesus por Maria.
“Pequena Súplica” do Beato Bartolo Longo a Nossa Senhora do Rosário
Virgem do Santo Rosário, Mãe do Redentor, mulher da nossa terra elevada aos céus, humilde serva do Senhor, proclamada Rainha do mundo, do profundo das nossas misérias recorremos a Ti. Com confiança de filhos, contemplamos o teu rosto dulcíssimo.
Coroada por doze estrelas, tu nos conduzes ao mistério do Pai, tu resplandeces de Espírito Santo, tu nos dais o teu Menino divino, Jesus, nossa esperança, única salvação do mundo. Mostrando-nos o teu Rosário, nos convidas a fixar o seu rosto. Tu nos abres o seu coração, abismo de alegria e de dor, de luz e de glória, mistério do Filho de Deus, que se fez homem por nós. Aos teus pés, nas pegadas dos Santos, sentimo-nos família de Deus.
Mãe e modelo da Igreja, tu és nossa guia e sustento seguro. Tu nos tornas um só coração e uma só alma, povo forte a caminho para a pátria do céu. Nós te apresentamos as nossas misérias, os tantos caminhos do ódio e do sangue, as antigas e novas pobrezas, sobretudo os nossos pecados. A ti confiamos, Mãe de Misericórdia! Obtém-nos o perdão de Deus! Ajuda-nos a construir um mundo, segundo o teu coração.
Ó Rosário bendito de Maria, doce corrente que nos liga a Deus; corrente de amor, que nos faz irmãos, não te deixaremos jamais. Nas nossas mãos serás a arma da paz e do perdão, estrela do nosso caminho. O nosso beijo a ti, com o último respiro, nos imergirá em um mar de luz, na visão da amada Mãe e do seu Filho divino, anseio e alegria do nosso coração, com o Pai e o Espírito Santo. Amém15.
Links relacionados:
TODO DE MARIA. Os Papas e o Rosário de Nossa Senhora.
TODO DE MARIA. O Rosário: a oração da família.
TODO DE MARIA. O Rosário e os males do nosso tempo.
Referências:
1 PAPA JOÃO PAULO II. Homilia: 26 de Outubro de 1980, 4.
2 ENCONTRO COM CRISTO. Conheça a devoção de Nossa Senhora de Pompeia – Itália.
3 CATOLICOS VIA LUMINA. Nossa Senhora do Rosário de Pompeia.
5 Idem.
6 PAPA JOÃO PAULO II. Homilia: 26 de Outubro de 1980, 4.
7 Idem, ibidem.
8 Idem, ibidem.
9 ARAUTOS. Beato Bártolo Longo: De devoto do demônio a apóstolo do Rosário.
10 Idem.
11 CATOLICOS VIA LUMINA. Op. cit.
12 PAPA JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, 8. Beato Bártolo Longo, História do Santuário de Pompeia, (Pompeia 1990), p. 59.
13 Idem, 15. Cf. BARTOLO LONGO. Os Quinze Sábados do Santíssimo Rosário, 27 (ed. Pompeia 1916), p. 27.
14 Idem, 43.
15 RÁDIO VATICANA. Papa em Pompéia: “Pequena Súplica” a Nossa Senhora do Rosário. Em 21 de Março de 2015, o Papa Francisco recitou, diante da imagem de Nossa Senhora do Rosário, a “Pequena Súplica”, extraída da histórica oração, composta pelo Beato Bartolo Longo, que, em 1875, levou aquela imagem ao Santuário de Pompeia.