A devoção a Virgem Maria como a nova Eva e a sua cooperação na obra da Salvação.
A Tradição da Igreja testemunha que a devoção e a invocação da Santíssima Virgem Maria como nova Eva está presente desde os primeiros séculos do cristianismo: “Com efeito, já no século II, esta doutrina de Maria, nova Eva, está universalmente admitida, e os Padres que a expõem não o fazem como se fosse uma especulação pessoal, mas como doutrina tradicional na Igreja, que se apoia nas palavras de São Paulo, em que ele chama Cristo de novo Adão e o contrapõe ao primeiro, como a causa da salvação se opõe à da queda (cf. 1 Cor 15, 45ss; Rm 5, 12ss; 1 Cor 15, 20-23). Os Padres relacionam estas palavras de São Paulo com o relato da queda, da promessa da redenção e da vitória sobre o demônio (cf. Gn 3, 15) e com o relato da Anunciação (cf. Lc 1, 26-28), onde se fala do consentimento de Maria na realização do mistério da Encarnação redentora. […] Pode-se, pois, e ainda se deve ver nesta doutrina de Maria – nova Eva associada à obra redentora de seu Filho – uma tradição divino-apostólica”1.
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No princípio, Eva cooperou moralmente para a queda, cedendo à tentação do demônio, por um ato de desobediência e induzindo Adão ao pecado (cf. Gn 3, 1ss). Maria, a nova Eva, ao contrário, cooperou moralmente para a nossa redenção, conforme o desígnio de Deus. Pois, a Virgem de Nazaré acreditou nas palavras do arcanjo Gabriel e consentiu livremente para a realização do mistério da Encarnação redentora do Verbo (cf. Lc 1, 26-38), aceitando também, como consequência, todos os sofrimentos para ela (cf. Lc 2, 35) e seu Filho.
Maria cooperou livremente no desígnio divino de salvação para a humanidade. Entretanto, a nova Eva não é a causa principal e efetiva da redenção que nos foi alcançada por seu Filho Jesus Cristo. Ela não podia resgatar a nossa dignidade, nossa justificação, porque não era capaz de uma ação divina, de valor intrinsecamente infinito, que só uma pessoa divina encarnada é capaz de realizar. A Mãe de Deus é realmente “causa secundária, subordinada a Cristo e dispositiva de nossa redenção”2. A mediação de Maria é subordinada a Cristo não só no sentido de ser inferior, mas também porque ela coopera para a nossa salvação por uma graça proveniente dos méritos de seu Filho, e age n’Ele, com Ele e por Ele. Cristo é o mediador universal supremo entre Deus e a humanidade e, como parte desta, “Maria foi resgatada pelos méritos do Salvador, por uma redenção preservadora, não libertadora, posto que foi preservada do pecado original e logo de toda falta, pelos méritos futuros do Salvador de todos os homens”3.
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No Calvário, aos pés da Cruz, a Virgem Maria entregou-se junto com o Redentor, o novo Adão, podendo com razão ser chamada de nova Eva e corredentora. Nossa Senhora, por instituição do próprio Jesus (cf. Jo 19, 26-27), é responsável pela geração espiritual de todos os homens, até o fim dos tempos. “Maria é nossa Mãe espiritual e adotiva, no sentido de que por sua união com Cristo Redentor, nos comunicou a vida sobrenatural da graça”4.
Assim, a Santíssima Virgem Maria, como mediadora entre nós e seu Filho Jesus Cristo, oferece orações e súplicas pela humanidade e, ao mesmo tempo, distribui as graças necessárias para a nossa salvação. Da mesma forma que Eva foi dada a Adão como ajuda adequada de ordem natural (cf. Gn 2, 18), Maria, a nova Eva, nos foi dada como auxílio de ordem material e principalmente de ordem espiritual. Por isso, como discípulos amados de Jesus Cristo, acolhamos a Virgem Maria em nossas casas (cf. Jo 19, 27), em nossas vidas. Pois, a nova Eva foi dada a nós como auxílio materno na vida presente, mas também em vista da vida futura, no Reino dos Céus. Confiantes em seu amoroso auxílio materno, rezemos com confiança a Santíssima Virgem, especialmente o santo Rosário. Nossa Senhora, Mãe da Igreja, rogai por nós!
Fonte: padrepauloricardo.org
Referências:
1 GARRIGOU-LAGRANJE, Réginald. La Madre del Salvador y Nuestra Vida Interior. Buenos Aires: Desclée, 1947, p. 160.
2 Idem, p. 161-162.
3 Idem, p. 162.
4 Idem, p. 163.