A Virgem Maria e a mensagem de Fátima

O pensamento do Papa Bento XVI a respeito da Virgem Maria e da mensagem de Fátima.

O Papa Emérito Bento XVI, em entrevista ao jornalista Peter Seewald, falou abertamente a respeito da Virgem Maria e da mensagem de Fátima. A entrevista foi publicada no livro “Luz do Mundo”, que trata sobre a pessoa do Papa, da Igreja e dos sinais dos tempos. O Teólogo, tantas vezes taxado como racionalista, nos ajuda a compreender a importância da figura da Mãe de Deus nos tempos atuais.

O pensamento do Papa Bento XVI a respeito da Virgem Maria e da mensagem de Fátima.

Papa Bento XVI no Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima

Bento XVI falou ainda de temas polêmicos, como a revelação do “Terceiro Segredo de Fátima”. Segundo ele, a mensagem de Fátima não está concluída, e seus ensinamentos são ainda atuais. Quase que profeticamente o Papa também fala do poder que ameaça pisotear a nossa fé de todas as formas possíveis. Diante desta situação dramática, somos convidados por ele a nos voltar para o Imaculado Coração de Maria, para receber as luzes que a providência divina nos dá nas aparições de Fátima.

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O desenvolvimento do pensamento da Igreja a respeito da Virgem Maria

Ao contrário de seu predecessor, o senhor é considerado teólogo com uma orientação mais cristocêntrica do que mariana. No entanto, apenas um mês depois de sua eleição, o senhor exortou os crentes reunidos na Praça São Pedro a confiar-se a Nossa Senhora de Fátima. No decurso de sua visita a Fátima, em maio de 2010, usou palavras espetaculares: o acontecimento de 93 anos atrás, quando o céu se abriu justamente sobre Portugal, é “como uma janela de esperança que Deus abre quando o homem lhe fecha a porta”. Justamente o Papa que o mundo conhece como o defensor da razão, agora, diz: “A Virgem Maria veio do Céu para lembrar-nos a verdade do Evangelho”.

É verdade: cresci em uma piedade antes de tudo cristocêntrica, como se havia desenvolvido entre as duas guerras, através de uma renovada aproximação à Bíblia e aos Padres; em uma religiosidade que conscientemente e em medida expressiva era alimentada pela Bíblia e, portanto, orientada para Cristo. Disto, porém, sempre faz parte, certamente, a Mãe de Deus, a Mãe do Senhor. Na Bíblia, em Lucas e em João, aparece relativamente tarde, mas de maneira tanto mais esplendente e, neste sentido, sempre pertenceu à vida cristã. Nas Igrejas do Oriente, já bem cedo ela ganhou grande importância – basta pensar, por exemplo, no Concílio de Éfeso, de 431. E continuamente, através de toda a história, Deus serviu-se dela como da luz para que ele possa conduzir-nos a si.

Na América Latina, por exemplo, o México tornou-se cristão no momento em que apareceu Nossa Senhora de Guadalupe. Então as pessoas compreenderam: “Sim, esta é nossa fé; com esta, verdadeiramente chegamos a Deus; nela é transformada e novamente compreendida toda a riqueza das nossas religiões”. Na América Latina, em última instância, duas figuras levaram as pessoas à fé: de um lado, a Mãe, do outro, Deus que sofre, que padece também por tudo o que de violento cada uma delas teve de suportar.

Assim, é preciso dizer que a fé tem uma história. Evidenciou-o o cardeal Newman. A fé desenvolve-se. E disto faz parte também uma manifestação sempre mais poderosa da Mãe de Deus no mundo, como guia, como luz de Deus, como a Mãe através da qual podemos reconhecer o Pai e o Filho. Em nosso racionalismo e diante das ditaduras nascentes, mostra-se a humildade da Mãe que aparece a crianças dizendo-lhes o essencial: fé, esperança, amor, penitência.

E assim, compreendo também que as pessoas encontrem aqui, por assim dizer, janelas. Em Fátima, vi centenas de milhares de pessoas que, através daquilo que Maria havia confiado a crianças, neste mundo cheio de obstáculos e fechamentos, reencontram de algum modo o acesso a Deus1.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre “O Santo Rosário”:

OTerceiro Segredo de Fátima” e a sua mensagem para os nossos dias

O famoso “Terceiro Segredo de Fátima” foi publicado somente ano 2000 pelo cardeal Joseph Ratzinger, sob mandato de João Paulo II. O texto fala de um bispo vestido de branco que cai por terra, morto por um grupo de soldados que disparam rios tiros de arma de fogo contra ele, cena esta que foi interpretada como prefiguração do atentado sofrido por João Paulo II. Agora o senhor diz: “lludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída”. O que o senhor quer dizer? Significa que a mensagem de Fátima, na realidade, ainda não se cumpriu?

É preciso distinguir duas coisas na mensagem: de um lado, existe um acontecimento preciso, representado em forma de visão; de outro, a coisa fundamental, da qual aqui se trata. A questão não era satisfazer uma curiosidade. Neste caso, deveríamos ter publicado o texto bem antes. Não, a questão é dar a entender um momento crítico na história: aquele no qual se desencadeia toda a força do mal, que se cristalizou nas grandes ditaduras e que, de outra maneira age ainda hoje.

Tratava-se, então, da resposta a este desafio. Esta resposta não consiste em grandes ações políticas, mas ultimamente pode chegar somente da transformação dos corações: através da fé, da esperança, do amor e da penitência Neste sentido, a mensagem de Fátima não concluída, mesmo que as duas grandes ditaduras tenham desaparecido. Permanece o sofrimento da Igreja, resta a ameaça às pessoas e, com ela, perdura também a questão da resposta; persiste, portanto, também a orientação que Maria nos deu. Também agora existem tribulações. Hoje, também o poder ameaça pisotear a de todas as formas possíveis. Igualmente hoje é, por isso, necessária a resposta da qual a Mãe de Deus falou as crianças2.

A manifestação da Virgem Maria e o triunfo do seu Imaculado Coração

Sua pregação do dia 13 de maio, em Fátima, tem cores dramáticas: “O homem chegou a desencadear um ciclo de morte e de terror”, disse, “mas não consegue interrompê-lo…” Naquele dia, diante de meio milhão de pessoas, exprimiu uma súplica que, no final das contas, é impressionante: “Que estes sete anos que nos separam do centenário Aparições”, disse, “possam apressar o preanunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria, para a glória da Santíssima Trindade”.

Significa que o Papa, que detém um mandato profético, considera possível que, nos próximos sete anos, a Santa Mãe de Deus se manifestará de um modo que equivalerá a um triunfo?

Disse que o “triunfo” se aproximará. Do ponto de vista conteudístico, é a mesma coisa de quando rezamos que venha Reino de Deus. É uma palavra que não deve ser compreendida como se eu esperasse que agora aconteça uma grande reviravolta, e a história, inopinadamente, mudasse radicalmente de curso: sou, talvez, demasiado racionalista para isto; quis dizer que a potência do mal deve ser freada sempre de novo; que na força da Mãe sempre se mostra a força do próprio Deus, e a mantém viva.

A Igreja é sempre chamada a fazer aquilo por que Abraão rezou a Deus, isto é, cuidar para que existam bastante justos para segurarem as rédeas do mal e da destruição. Quis dizer que as forças do bem podem sempre crescer de novo. Neste sentido, os triunfos de Deus, os triunfos de Maria são silenciosos, no entanto, reais3.

Assista programa do Padre Paulo Ricardo com o tema “O Fim está próximo?”:

O triunfo silencioso do Imaculado Coração de Maria

Assim, o Papa Bento XVI nos ajuda a compreender que com o amadurecimento histórico da fé da Igreja, segue-se uma manifestação cada vez mais poderosa da Virgem Santíssima no mundo, como guia, como luz de Deus, como a Mãe através da qual podemos reconhecer o Pai e o Filho. No entanto, as armas que esta Mãe nos apresenta são extremamente simples e aparentemente frágeis diante das forças do mal. Nossa Senhora nos leva ao o essencial: a fé, a esperança, o amor, a penitência.

A respeito das grandes ditaduras, que permanecem agindo em nossos dias, a resposta que nos é dada pela Virgem Maria não consiste em grandes ações políticas, mas na transformação dos corações através da fé, da esperança, do amor e da penitência. Dessa forma, existirão sempre homens justos para segurar as rédeas do mal e da destruição. Estes serão os triunfos de Deus, os triunfos de Maria, que silenciosamente acontecerão em nossos corações. “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará”4, nos garante a Virgem de Fátima.

Natalino Ueda, consagrado inútil de Jesus por Maria.

Links relacionados:

PADRE PAULO RICARDO. A fé mariana dos Papas.

PADRE PAULO RICARDO. O Milagre do Sol, “para que todos acreditem”.

PADRE PAULO RICARDO. O pedido esquecido de Nossa Senhora.

TODO DE MARIA. Nossa Senhora e a Nova Ordem Mundial.

TODO DE MARIA. Nossa Senhora das Graças e o Comunismo.

Referências:

2 Idem, p. 197.

3 Idem, p. 198.

4 CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. A Mensagem de Fátima.

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