Leia homilia do Padre Paulo Ricardo dirigida especialmente aos consagrados a Virgem Maria, na festa de Nossa Senhora de Guadalupe.
Em 12 de Dezembro, Padre Paulo Ricardo presidiu a Santa Missa no grande dia do Consagra-te 2016 e, na homilia, nos levou a conhecer e a meditar sobre a mensagem da Virgem de Guadalupe aos consagrados. A celebração aconteceu na Paróquia Cristo Rei, em Várzea Grande-MT, e contou com a presença de centenas de pessoas que se consagraram ou renovaram sua consagração. Na celebração, Padre Paulo rezou também por todas as pessoas que participaram da 7ª Campanha Nacional de Consagrações a Santíssima Virgem Maria:
Meus queridos irmãos e irmãs, com grande alegria, celebramos esta festa, desta aparição extraordinária, de Nossa Senhora de Guadalupe. Uma aparição tão extraordinária que fez com que a Igreja dissesse que Deus não fez isso com todas as nações. Ele fez isso com a América. Somente para nós Deus providenciou uma aparição mariana onde deixou gravado no manto do índio São Juan Diego uma imagem dessa aparição.
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Nossa Senhora de Guadalupe, a Mulher vestida de sol
Para descrever a aparição de Guadalupe, bem poderíamos tomar uma página da Bíblia, onde está escrito: Apareceu no céu um grande sinal (cf. Ap 12, 1). Aqui, podemos dizer: apareceu na tilma de Juan Diego um grande sinal. Podemos dizer isso por que exatamente o que apareceu no céu no Apocalipse apareceu também no manto pobre, de tecido paupérrimo: uma Mulher vestida de Sol. A Virgem de Guadalupe é a imagem de Nossa Senhora com raios de sol em volta. Debaixo dos seus pés, a lua, como está descrito na passagem. No Apocalipse, a Mulher tinha na cabeça uma coroa de doze estrelas. Na imagem de Guadalupe, a Virgem está também vestida de estrelas, no seu manto sagrado. A Mulher do Apocalipse estava grávida (cf. Ap 12, 2), o que vemos também na imagem de Guadalupe.
A Virgem Maria aparece a Juan Diego com as vestes da imperatriz asteca, grávida do imperador. Uma Mulher grávida, e o dragão queria devorar o seu Filho (cf. Ap 12, 4). Essa Mulher então, depois de nascido o Filho, que sobre aos Céus (cf. Ap 12, 5), vai travar uma batalha, a batalha do fim dos tempos, com o restante dos seus filhos (cf. Ap 12, 13-17). Essa página do Apocalipse é a chave de leitura do que Nossa Senhora fez no México. Ela aparece verdadeiramente vestida de sol, verdadeiramente grávida, verdadeiramente como um exército em ordem de batalha.
O contexto da aparição de Nossa Senhora em Guadalupe
As palavras que Nossa Senhora dirigiu a São Juan Diego são de quem sabe que está com seus filhos numa batalha, exatamente para acalmá-los, pois estão aterrorizados pela miséria do diabo. O povo do México estava subjugado debaixo do poder de Satanás. A religião asteca, podemos dizer sem medo de errar, era uma religião satânica. Esse exemplo serve para que muita gente aprenda a não considerar todas as religiões como boas. Pois, há pessoas que dizem: “o importante é acreditar em alguma coisa”. Não! O importante não é acreditar em alguma coisa. O importante é acreditar na verdade revelada por nosso Senhor Jesus Cristo. A religião asteca era satânica e à este deus satânico imolavam milhares de seres humanos. Os astecas faziam sacrifícios humanos, sangue humano era derramado para satisfazer essa sede de mortes deste deus satânico.
Em bom tempo, com a graça de Deus, os cristãos vieram para livrar aquele povo da opressão de um deus falso e de uma civilização que destruía os seus próprios filhos. Quando os conquistadores espanhóis derrotaram o império asteca e puseram a paz no México, as tribos vizinhas, que foram durante milênios oprimidas – seus filhos eram pegos para serem sacrificados aos ídolos – quando o conquistador cristão fez a paz, disseram: “não, nós não vamos aceitar a paz. Vamos exterminar os astecas e enquanto o último deles não estiver morto, nós não vamos descansar. Porque se um deles sobreviver, virão de novo nos oprimir”. E então aconteceu a grande matança no México, que os nossos livros de história atribuem aos cristãos. Na verdade, eram os índios que estavam fartos daquela opressão medonha durante séculos. Como eles não eram cristãos – nós sabemos que se pode travar uma guerra justa e, uma vez que se alcançou a vitória, cessam as armas – os índios pagãos não quiseram saber de paz.
A mensagem de Nossa Senhora de Guadalupe
Era esta a terrível opressão dos astecas sobre aquele povo e fazia apenas dez anos que esta havia terminado, quando Nossa Senhora apareceu a Juan Diego. Vejam as palavras que Nossa Senhora disse a esse pobre índio aflito e diz a nós seus filhos, que hoje lutamos na batalha final que está descrita no Apocalipse, como apóstolos dos últimos tempos: “Não estou eu aqui que sou a tua Mãe?”[1] É a Mãe que garante ao filho aflito a certeza da sua presença. Quem de nós já não teve a experiência de que a simples presença da mãe já faz com que nosso medo se afugente?
O Papa Emérito Bento XVI diz, em um dos seus livros, que “todo medo é medo de solidão”. Reflitamos bem sobre essa verdade. Temos medo que não haja uma presença poderosa que nos proteja. Entretanto, se tivermos uma presença poderosa conosco, nós podemos até enfrentar todos os demônios do inferno, nós não temeremos. Nesse sentido, diante de seus filhos aflitos pela opressão satânica, a Virgem Maria diz: “Não estou eu aqui que sou a tua Mãe? Não estás debaixo da minha guarda, da minha proteção? [Se estamos debaixo da sombra de Maria, nós estamos protegidos. Nenhum mal precisamos temer.] Não sou eu a fonte de sua alegria”[2]. Estas últimas palavras nos lembram da Ladainha de Nossa Senhora, na qual chamamos a Virgem de “causa de nossa alegria”.
Nós ouvimos, no Evangelho, o que acontece quando a Virgem Maria chega a sua prima Santa Isabel. Ao ouvir simplesmente a saudação da Virgem, a criança pulou no ventre de Isabel e ela ficou cheia do Espírito Santo (cf. Lc 12, 41) e, com um grande grito de alegria, ela exclamou: “causa de nossa alegria!”.
Quantas vezes nós dissemos a Santíssima Virgem: Ave Maria!? O que não seria para nós de consolo espiritual ouvir a Virgem Maria dizer: Ave [o seu nome]? Isso aconteceu com São Bernardo, que todos os dias passava diante de uma imagem da Virgem Maria e, com piedade e devoção, dizia: Ave Maria! Um dia, para o espanto do Santo, ele disse: Ave Maria; e ela respondeu: Ave Bernardo. Como Maria saudou Isabel e ela ficou cheia do Espírito Santo, ouçamos o Ave que nós repetimos constantemente nas Ave-Marias de nossos terços, de nossos rosários. Ouçamos que, a cada Ave que nós dirigimos a Nossa Senhora, ela dirige um Ave a nós também. E saibamos que, como Isabel, recebemos o Espírito Santo: “causa de nossa alegria”.
O cuidado e a proteção da Virgem Maria
A Virgem de Guadalupe disse aqui em nosso Continente: “você não está debaixo do meu manto, no cruzamento de meus braços?”[3]. Existe uma imagem da Virgem Maria, que tem, na mão esquerda, o Filho e, na direita, uma espada, para O defender[4]. Que extraordinário sabermos que também somos defendidos por ela. “Tens necessidade de alguma outra coisa?”, perguntou a Virgem Maria a Juan Diego. Eis a pergunta para nós: uma vez que temos a sua presença materna, temos necessidade de alguma outra coisa? “Nenhuma outra coisa te aflija. Não se perturbe, não se preocupe com os sofrimentos”, disse a Virgem a Juan Diego e diz a cada um de nós.
Nós temos cruzes. A Virgem Maria não está prometendo que nós não sofreremos. Mas, ela promete que estará conosco no sofrimento e nos diz: “não te aflijas”. Estamos juntamente a ela nessa luta e nós certamente veremos a vitória de Deus e o Seu triunfo.
Consagrar-se a Virgem Maria é oferecer-se a ela como soldado nesta batalha final, neste derradeiro conflito entre a serpente e a Mulher (cf. Ap 12, 13-17). Não há alternativa. Ou seremos filhos da Mulher, ou seremos filhos da serpente. A Sagrada Escritura não nos dá uma terceira alternativa, que nos dê neutralidade.
A mensagem de Guadalupe e o poder de Nossa Senhora
A Virgem Maria tem o poder de lutar. Mas, infelizmente, numa visão moderna, a Virgem Maria é apresentada somente como intercessora. Ela é, de fato, uma grande e intercessora. Mas, ela também possui um poder que lhe foi dado por Deus e, por isso, nós a chamamos de Senhora. O poder da Virgem Maria é tal que, quando ela apareceu em Lourdes, o diabo veio contra Santa Bernadette e ela olhou para a Virgem. Para espantar o demônio, ela dirigiu o seu severo olhar de Mãe na sua direção e a voz se calou.
A primeira oração que a Igreja conhece dirigida a Nossa Senhora, em latim: Sub tuum paesidium (Sob a vossa proteção), não é uma oração em que a Igreja pede a sua intercessão. Uma oração do segundo século, no qual viveu a geração de algumas pessoas que conheceram São João evangelista, a primeiríssima oração cristã dirigida a Virgem Maria, que está documentada em um manuscrito da época, não está pedindo a intercessão de Nossa Senhora. Está pedindo muito mais. Está pedindo a sua proteção, debaixo da proteção militar da Virgem Maria, deste exército em ordem de batalha (cf. Ct 6, 10). Sub tuum paesidium é a oração que a Virgem Maria ensina a Juan Diego: fique debaixo do meu manto.
Na oração dizemos: “Debaixo da vossa proteção nos refugiamos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos…”. Ela nos livrará do perigo. Ela tem poder. A oração não está dizendo: Maria, pede ao teu Filho que sejamos livres do perigo. Não! Ela está dizendo livrai-nos. Ela tem o poder de nos livrar. O que ela está ensinando em Guadalupe é isto. Ela é o exército em ordem de batalha e nós devemos guerrear com ela. Por isso, peçamos a ela, nós que nos oferecemos hoje em oblação, consagrando-nos a ela, entregando-nos a ela, digamos: dignai-vos que eu possa lutar por vós, ó Virgem bendita! Que eu possa lutar, que eu esteja no exército de Maria. Porque ela tem o poder que lhe foi dado, de esmagar a cabeça da serpente.
São Luís Maria Grignion de Montfort, no “Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem”, diz que a inimizade que Deus constituiu – é importante isso: Deus não faz só amizades. O Senhor é o Deus da amizade, é verdade. Mas, Deus faz também inimizades e quando Ele faz uma inimizade, ela é radical, irreconciliável, total, frontal. Esta inimizade é uma realidade tremenda – se dá entre Satanás e a Mulher[5]. Essa Mulher não é Eva, não pode ser ela. Porque a inimizade entre Eva e Satanás não é total. Porque infelizmente Eva caiu nas garras de Satanás e cometeu, com ele, o pecado da desobediência. Essa Mulher só pode ser Maria, só pode ser a Imaculada. Essa Mulher só pode ser a Virgem de Guadalupe, vestida de sol. Deus constitui essa inimizade e São Luís Maria diz, de forma ousada, que a inimizade entre Maria e Satanás é maior do que a inimizade entre Deus e Satanás[6]. Porque à Satanás causa um ódio muito maior ser derrotado pela humilde serva do Senhor (cf. Lc 1, 38). Que ele fosse derrotado pela Majestade divina, não lhe seria tão terrível, como o fato de ser derrotado pela humilde serva de Deus.
A consagração e o triunfo do Imaculado Coração
Então, o que precisamos fazer para estar nesse exército? E como podemos lutar? A primeira coisa é humildade, humildade, humildade. Porque, se existe algo que Satanás não suporta é uma alma que se rebaixa debaixo da poderosa mão de Deus. Ele olhou para humildade de sua serva (cf. Lc 1, 48) e olhará para todos aqueles que entregam a Ele humildemente através da Virgem Maria. Os soberbos querem ir direto para Deus. Os humildes vão a Deus pelas mãos de Maria. Este é um gesto de humildade. Consagrar-se a Virgem Santíssima é um gesto de humildade. Por isso, humilhemo-nos e confiantes, debaixo do manto dela, teremos a vitória certa, a vitória triunfante.
Não há nenhuma questão, se Deus vencerá ou não. Já está certo que Ele vencerá e a vitória acontecerá através do triunfo do Coração de Maria, como ela prometeu em Fátima: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”[7]. Esta é uma certeza, mais certo do que o sol nascerá amanhã. Pode ser que o sol não nasça amanhã, mas é certo que o Coração dela triunfará. Então, não está em questão se ela triunfará, não está em questão se Deus triunfará através dela. Porque triunfará. Ele prometeu, Ele não se engana e não engana ninguém. O que está em questão é de que lado estaremos quando ela triunfar. Estaremos do lado dos seus filhos vitoriosos e gloriosos ou estaremos entre aqueles infelizes que, como a serpente, serão esmagados.
Procuremos refúgio debaixo de sua poderosa intercessão e de seu poder. É a presença dela que deve consolar o nosso coração: “eu estou aqui”, diz a Virgem Maria. Que ela seja uma presença constante em nossas vidas. Porque é exatamente para isso que nos consagramos. Nós prometemos que teremos a presença habitual da Virgem Maria em nossa vida. Porque é assim que nós correspondemos à sua promessa: “Não estou eu aqui que sou a tua Mãe?”[8]. Corramos então para os braços desta Mãe bendita, cujo Coração Imaculado triunfará!
Nossa Senhora de Guadalupe, rogai por nós!
Fonte:
PADRE PAULO RICARDO. Nossa Senhora de Guadalupe e a consagração.
Links relacionados:
TODO DE MARIA. A consagração a Maria e a comunhão.
TODO DE MARIA. A consagração a Maria e a vida de oração.
TODO DE MARIA. A consagração a Maria e o combate espiritual.
Referências e nota.
[1] ANTÔNIO VALERIANO. Nican Mopohua.
[2] Idem.
[3] Idem.
[4] Imagem de Nossa Senhora da Defesa.
[5] Cf. SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, 52.
[6] Cf. idem, ibidem.
[7] CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. A Mensagem de Fátima.
[8] ANTÔNIO VALERIANO. Op. cit.