A Virgem Maria e os três Pentecostes

Meditemos sobre a presença da Virgem Maria nos três Pentecostes, que dizem respeito a mistérios da vida de Jesus Cristo.

A Santíssima Virgem Maria esteve presente em três Pentecostes, ou seja, em três derramamentos do Espírito Santo, que foram de singular importância no desígnio de salvação da humanidade. Esta presença da Mãe de Deus nessas manifestações do Espírito não somente evidencia um desígnio divino com relação ao mistério de Jesus Cristo, seu Filho amado, mas também quanto ao mistério da Igreja de todos os tempos.

Meditemos sobre a presença da Virgem Maria nos três Pentecostes, que dizem respeito a mistérios da vida de Jesus Cristo.

O Pentecostes no Cenáculo em Jerusalém

Neste primeiro Sábado do mês de Junho, que precede a Solenidade de Pentecostes, é significativo que meditemos sobre estes três mistérios, especialmente para aquelas pessoas que praticam a Devoção dos Primeiros Sábados em reparação das ofensas cometidas contra o Imaculado Coração de Maria.

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A Virgem Maria e o Pentecostes da Anunciação

No mistério da Anunciação do Senhor, temos o primeiro Pentecostes, o primeiro derramamento do Espírito Santo, que se deu sobre a Virgem Maria. É verdade que ela já era cheia de graça (cf. Lc 1, 28), cheia do Espírito Santo, no mistério da sua Imaculada Conceição. Mas, no mistério da Encarnação do Verbo, o Espírito Santo desceu sobre a Virgem de Nazaré e a força do Altíssimo a envolveu com sua sombra (cf. Lc 1, 35).

“Com efeito, a concepção e o nascimento de Jesus Cristo são a obra maior realizada pelo Espírito Santo na história da criação e da salvação: a graça suprema — ‘a graça da união’ — fonte de todas as outras graças, como explica Santo Tomás”[1]. Essa graça suprema – que é a união entre Deus e o homem, que se deu em Jesus Cristo, o Verbo de Deus humanado – foi comunicada a nós pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria.

Na “plenitude dos tempos” (Gl 4, 4) realiza-se a plenitude da autocomunicação de Deus uno e trino no Espírito Santo. Foi por obra do Espírito Santo, no ventre da Virgem Maria, que se realizou o mistério da união hipostática, ou seja, da união da natureza divina com a natureza humana, da divindade e da humanidade, na única Pessoa do Filho de Deus encarnado. Quando Nossa Senhora, no momento da Anunciação, pronuncia o seu “fiat”: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38), ela concebe de modo virginal o Filho do homem, que é o Filho de Deus. Além disso, o Espírito Santo tornou Coração da Santíssima Virgem perfeitamente obediente no que diz respeito à autocomunicação de Deus, que supera infinitamente a capacidade a nossa inteligência.

Nossa Senhora e o Pentecostes da Visitação

O segundo Pentecostes aconteceu no mistério da Visitação, com a vinda do Espírito Santo sobre Santa Isabel. Assim que a Virgem Maria saudou sua prima Isabel, ela ficou “cheia do Espírito Santo” (Lc 1, 41) e disse: “Bem-aventurada aquela que acreditou” (Lc 1, 45). Nas palavras de saudação de sua Parenta, aquela que “acreditou” parece delinear-se um contraste longínquo, mas, na realidade, muito próximo, com relação a todos aqueles de quem Cristo dirá que “não acreditaram” (cf. Jo 16, 9). Nossa Senhora entrou na história da salvação do mundo mediante a obediência da fé, que na sua essência mais profunda, é a abertura do coração humano diante do dom, diante da autocomunicação de Deus no Espírito Santo.

São Paulo nos ensina que: “O Senhor é espírito, e onde está o espírito do Senhor, aí há liberdade” (2 Cor 3, 17). Isso significa que, quando Deus uno e trino se abre ao homem no Espírito Santo, esta sua “abertura” revela e, ao mesmo tempo, doa ao homem a plenitude da liberdade. Esta plenitude manifesta-se, de um modo sublime, na fé da Virgem Maria, pela sua “obediência de fé” (cf. Rm 1, 1ss). Por isso, é verdadeiramente bem-aventurada aquela que acreditou! (cf. Lc 1, 45).

Ouça homilia do Padre Paulo Ricardo sobre “O mérito universal da Virgem Maria”:

A Santíssima Virgem e a Igreja no Pentecostes

No terceiro Pentecostes, temos o derramamento do Espírito sobre os Apóstolos e a Virgem Maria, reunidos no Cenáculo em Jerusalém, e o mistério do nascimento da Igreja. Se é um fato histórico que a Igreja nasceu no Cenáculo, no dia do Pentecostes, também podemos dizer que, em certo sentido, ela nunca o abandonou. Espiritualmente, o acontecimento do Pentecostes não pertence somente ao passado, mas a Igreja está sempre no Cenáculo, que traz no seu coração. A Igreja persevera na oração, como os Apóstolos, com a Virgem Maria, Mãe de Cristo, e com aqueles que, em Jerusalém, constituíam o primeiro núcleo da comunidade cristã e aguardavam, clamando pela vinda do Espírito Santo (cf. At 1, 14).

No Cenáculo, a Igreja persevera em oração com Nossa Senhora. “Esta união da Igreja orante com a Mãe de Cristo faz parte do mistério da mesma Igreja, desde os seus inícios: nós vemos Maria presente neste mistério, como está presente no mistério do seu Filho”[2]. A Santíssima Virgem, envolvida pela sombra do poder do Espírito Santo, deu à luz o Verbo encarnado, que Deus estabeleceu como primogênito entre muitos irmãos (cf. Rm 8, 29), isto é, entre os fiéis, em cuja regeneração e formação ela coopera com amor materno. A Mãe de Jesus, pelas suas graças e funções singulares, está intimamente unida à Igreja e é seu modelo por. A Igreja, contemplando a misteriosa santidade de Nossa Senhora e imitando a sua caridade, torna-se também ela mãe. À imitação da Mãe do seu Senhor, a Igreja conserva, pela graça do Espírito Santo, virginalmente íntegra a fé, sólida a esperança, sincera a caridade, por que também ela é virgem e guarda a fé jurada ao Esposo[3].

Compreendemos, dessa forma, o sentido profundo do motivo pelo qual a Igreja, em união com a Virgem Maria, se volta continuamente como Esposa para o seu divino Esposo, conforme atestam as palavras do Apocalipse: “O Espírito Santo e a Esposa dizem ao Senhor Jesus: Vem!” (Ap 22, 17). A oração da Igreja é esta invocação incessante, na qual o Espírito intercede por nós. O próprio Espírito pronuncia essa invocação com a Igreja e na Igreja. O Espírito Santo é dado à Igreja a fim de que, pelo seu poder, toda a comunidade do novo Povo de Deus, por mais ramificada que seja na sua diversidade, se mantenha na esperança do Reino dos Céus. O Espírito Santo, concedido aos Apóstolos e a cada um de nós como Consolador, é o guarda e o animador desta esperança escatológica no coração da Igreja.

Oração de Santo Agostinho ao Espírito Santo

Ó Divino amor, ó vínculo sagrado que unis o Pai e o Filho, espírito onipotente, fiel consolador dos aflitos, penetrai nos abismos profundos do meu coração e fazei ai brilhar vossa resplandecente Luz. Derramai vosso doce orvalho sobre esta terra deserta, a fim de fazer cessar sua longa aridez.

Enviai os dardos celestes de vosso amor até o santuário de minha alma, de modo que nela penetrando acendam chamas ardentes que consumam todas as minhas fraquezas, minhas negligências e meus langores. Vinde, vinde doce Consolador das almas desoladas, refúgio no perigo e protetor na aflição desamparada.

Vós que lavais as almas de suas sordícies e que curais suas chagas.
Vinde, força dos fracos, apoio daqueles que caem.
Vinde, doutor dos humildes e vencedor dos orgulhosos.
Vinde, pai dos órfãos, esperança dos pobres, tesouro dos que estão na indigência.
Vinde, estrela dos navegantes, porto seguro dos náufragos.
Vinde, força dos vivos e salvação dos moribundos.
Vinde, ó Espírito Santo, vinde e tende piedade de mim!
Amém!
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Nossa Senhora de Pentecostes, rogai por nós!

Links relacionados:

TODO DE MATRIA. A devoção dos cinco primeiros sábados.

TODO DE MARIA. Ano Mariano e reparação ao Imaculado Coração.

TODO DE MARIA. Maria e a vinda do Espírito no Pentecostes.

Referências:


[1]  PAPA JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Dominum et Vivificantem, 50. Cf. S. Tomás de Aquino, Summa Theol. IIIa, q. 2, aa. 10, 12 q.6, a.6; q. 7, a. 13.

[2]  Idem, 66.

[3]  CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, 63-64.

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