Cristo ressuscitado apareceu a Maria?

Saiba se Jesus Cristo ressuscitado apareceu a Virgem Maria e quais as razões do silêncio do Evangelho a seu respeito.

As Sagradas Escrituras não narram nenhuma aparição de Jesus Cristo a Virgem Maria logo depois da ressurreição. Na Igreja primitiva, esta ausência não era tão notável, pois não havia um livro das Escrituras, mas estas estavam impressas nos corações dos discípulos de Jesus. Por isso, apesar do silêncio das Palavras Sagradas a respeito de Nossa Senhora, os cristãos sabiam da importância da sua no seguimento de Jesus Cristo. Pois, tinham uma devoção a ela que lhes foi transmitida pela Tradição da Igreja.

Saiba se Jesus Cristo ressuscitado apareceu a Virgem Maria e quais as razões do silêncio do Evangelho a seu respeito.

Aparição de Jesus Cristo a Virgem Maria

A Sagrada Tradição é o elo de ligação entre as Sagradas Escrituras e a pessoa de Jesus Cristo, a Palavra eterna de Deus, que se fez carne e habitou entre nós (cf. Jo 1, 14), que nos revelou a face do Pai (cf. Jo 14, 9) e, por fim, se entregou à morte e ressuscitou para a nossa salvação (cf. Jo 19, 17-36). Consequentemente, a Tradição também é o elo que liga as Escrituras com a pessoa da Virgem Maria, Mãe de Jesus Cristo. Através dela, compreenderemos a ausência quase completa de Nossa Senhora nas Sagradas Escrituras. A Tradição também nos responderá a pergunta: Jesus ressuscitado apareceu a Mãe do Senhor?

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A fé inabalável da Santíssima Virgem

Depois da morte de Jesus Cristo, José de Arimateia e Nicodemos retiraram da cruz o corpo do Senhor, envolveram-no em finos tecidos com aromas, uma mistura de mirra e aloés, conforme o costume dos judeus, e o depositaram num sepulcro novo, que ficava num jardim próximo (cf. Jo 19, 38-42). A paixão, a morte e o sepultamento de Jesus parecia ser o fim Daquele que acreditavam ser o Messias, a “esperança de Israel” (Jr 14, 8; 17, 13; At, 28, 20).

Após ver o seu “Mestre e Senhor” (Jo 13, 13; Jd 1, 4) ser flagelado impiedosamente, ser crucificado, morto e sepultado, até os mais fiéis dos seus apóstolos e discípulos julgaram estar tudo acabado. “De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos” (Jo 20, 9). Daqueles homens, que outrora estavam cheios de fé e de alegria depois de voltarem da missão confiada por Jesus: “Senhor, até os demônios se nos submetem em teu nome!” (Lc 10, 17), apoderou-se a perturbação, o abatimento, o temor, o desânimo, a falta de fé. Naquela terrível noite escura da fé, esqueceram-se de que Jesus mesmo já havia profetizado a sua morte, e também a sua ressurreição (cf. Lc 24, 7). Por serem “homens de pouca fé” (Mt 8, 2; 14, 31; 16, 8), como lhes havia chamado a atenção o Senhor, nada viam a não ser a tragédia e a derrota. As palavras dos discípulos de Emaús, que não reconhecem Cristo ressuscitado, nos ajudam a compreender o estado de ânimo e a fé abalada dos demais discípulos: “Nós esperávamos que fosse ele quem havia de restaurar Israel e agora, além de tudo isto, é hoje o terceiro dia que essas coisas sucederam” (Lc 24, 21).

A Virgem Santíssima, diferentemente dos outros discípulos de seu Filho, deu-nos um magnífico exemplo de fé na Palavra, no poder de Jesus Cristo, e de uma serenidade cheia de espírito sobrenatural. Naquele momento de provação, quando a esperança da restauração de Israel parecia estar perdida, a Mãe de Deus, sozinha, conservou íntegra a virtude da fé. Por causa desta fé inabalável e da sua intimidade com as Escrituras, podemos intuir que, naqueles momentos difíceis, a Virgem Maria tomou para si as palavras do salmista: “Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estais comigo” (Sl 22, 4).

A Mãe de Cristo contemplou na cruz — reduzido a uma só chaga “desde a planta dos pés até o alto da cabeça” (Is 1, 6) — aquele adorável Corpo, que antes da paixão resplandecia de beleza e perfeição absolutas. A Senhora das Dores viu jorrar de Seu lado, aberto pela lança do soldado, “sangue e água” (Jo 19, 34). Aos pés da cruz, viu a morte do Filho de Deus e presenciou o Seu sepultamento. Mesmo assim, permaneceu inabalável em sua fé, sem duvidar um instante sequer, da profecia do Senhor: “O Filho do Homem deve ser entregue nas mãos dos pecadores e crucificado, mas ressuscitará ao terceiro dia” (Lc 24, 7).

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo com o tema “Entre a Morte e a Ressurreição”:

Jesus Cristo ressuscitado apareceu a Virgem Maria?

Quando lemos no Evangelho os relatos da ressurreição, das aparições e dos prodígios realizados pelo Senhor Jesus com seu corpo glorioso, uma dúvida pode nos inquietar, especialmente se temos só a Bíblia como referência. Esta dúvida procede do fato de que nenhum dos evangelistas relata uma aparição de Jesus Cristo ressuscitado a Virgem Maria logo depois da Sua morte. O Filho de Deus teria se esquecido de sua Mãe Santíssima, aquela que foi a única a conservar a fé na sua ressurreição? Certamente que não. A Tradição da Igreja, que nos transmitiu as Sagradas Escrituras, afirma unanimemente que foi a Santíssima Virgem a primeira pessoa a contemplar seu Filho ressuscitado. “Provavelmente os evangelistas tenham considerado supérfluo narrar o fato, por ser algo muito evidente”1.

A respeito desta ausência da Virgem Maria nas narrativas do Evangelho a respeito da ressurreição de seu Filho amado, o renomado teólogo dominicano, Frei José Maria Lagrange, reafirma os ensinamentos da Sagrada Tradição:

A piedade dos filhos da Igreja tem por certo que Cristo ressuscitado apareceu primeiro à sua Santíssima Mãe. Ela O alimentou com seu leite, guiou durante sua infância, por assim dizer, O apresentou ao mundo nas Bodas de Caná, e não tornou a aparecer senão aos pés da Cruz. Mas Jesus consagrou só a Ela e a São José trinta anos de sua vida oculta: como não dedicaria só a Ela o primeiro instante de sua vida oculta em Deus? Não havia interesse em divulgar esse dado nos Evangelhos; Maria pertence a uma ordem transcendente, na qual está associada, como Mãe, à paternidade do Pai, em relação a Jesus. Submetamo-nos à disposição do Espírito Santo, deixando esta primeira aparição de Jesus às almas contemplativas2.

Assista mensagem do Padre Paulo Ricardo sobre a “A verdadeira alegria Pascal”:

Qual é a razão do silêncio do Evangelho em relação a Nossa Senhora

No Domingo da ressurreição, “Maria Madalena e a outra Maria foram ver o túmulo” (Mt 28, 1). Em outras passagens, os evangelistas falam de três Marias. Aonde estaria a terceira naquele momento? Qual seria o motivo da ausência da Virgem Maria? Depois de presenciar a paixão de seu Filho, tão grande era sua dor, seu recolhimento e sua esperança, que Nossa Senhora não se preocupava com as coisas exteriores e todas as providências concretas, mesmo as mais piedosas, que diziam respeito ao Corpo de seu divino Filho. A Virgem das Dores estava recolhida, num plano acima de todos os acontecimentos. Por isso, Maria Santíssima deixava que as pessoas mais próximas a servissem e fizessem aquilo que ela mesma gostaria de fazer.

Naqueles momentos depois da paixão e morte de seu Filho, “devemos imaginar Nossa Senhora num estado excelso de recolhimento, no qual se concentravam toda a dor, todo o júbilo, toda a esperança da Igreja, para serem depois distribuídos para todos os fiéis ao longo de todos os tempos”3. Por essa, razão não se diz nenhuma palavra a respeito da Santíssima Virgem, que depois de Jesus Cristo é o centro da ressurreição — pois sobre ela todas as alegrias e glórias da ressurreição convergiram de Nosso Senhor como sobre um foco central — porque ela é superior a todo louvor, a toda referência, a qualquer menção. Dessa forma, compreendemos que o mistério da Virgem Maria, à semelhança do mistério de Jesus Cristo, está acima de nosso entendimento.

Diante da magnitude destes mistérios, cabe a nós apenas, como bem fazia a Santíssima Virgem, conservar todas estas coisas e meditá-las em nosso coração. “Porque na soleira da porta do quarto onde se encontrava a Virgem Maria não penetrou o cronista do Evangelho, e também nós não somos dignos de penetrar”4. Resta a nós, como fizeram os primeiros cristãos, ficar do lado de fora e nos aprofundar na devoção a Nossa Senhora, nos elevar espiritualmente e passar adiante esta experiência de fé.

Assista vídeo da Schola Gregoriana Mediolanensis, que canta a antifona mariana pascal: “Regina Caeli Laetare”:

O silêncio de Nossa Senhora e a espera da ressurreição de Jesus Cristo

Este silêncio quase total das Sagradas Escrituras, não somente logo após a ressurreição, mas em toda a vida de Jesus Cristo, pode ser compreendido à luz do silêncio de Nossa Senhora. São Lucas, considerado aquele que “pinta” a imagem de Nossa Senhora no Evangelho, nos ajuda a compreender que ela não era mulher de falar muito, mas de conservar as palavras e os acontecimentos a respeito de seu Filho, meditando-os em seu coração (cf. Lc 2, 19.51).

Naquele momento decisivo da história, não somente para o cristianismo, mas para toda a humanidade, a Santíssima Virgem, mais do que nunca, silenciou e meditou profundamente a respeito da Palavra de Deus encarnada, de seu Filho Jesus Cristo, que deveria ressuscitar ao terceiro dia. No silêncio de seu coração materno, Nossa Senhora já contemplava aquela Presença que mais tarde seu Filho anunciaria explicitamente: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20).

Assim, o silêncio da Virgem Maria nos ajuda a compreender o silêncio de Deus, a sua aparente ausência, especialmente nos acontecimentos mais difíceis e dolorosos de nossas vidas. Com a Santíssima Virgem aprendemos a esperar, no silêncio, na meditação e na oração, a ressurreição, a manifestação gloriosa de Jesus Cristo em nossas vidas. Neste Ano Santo da Misericórdia, a exemplo da Virgem Maria, no silêncio e na oração, somos chamados a contemplar Jesus Cristo e ser instrumentos da Sua Misericórdia para a humanidade. Com Maria, Mãe da Misericórdia, meditemos sobre o abismo infinito do amor misericordioso de Jesus Cristo, que disse a Juliana de Norwich e diz a cada um de nós: “Ter sofrido a paixão por ti foi para mim um prazer, uma felicidade, uma alegria eterna; e se pudesse sofrer ainda mais, eu o faria”5. Por fim, vivendo este tempo de alegria pascal, saudemos a Santíssima Virgem pela ressurreição gloriosa de seu Filho Jesus Cristo com a tradicional oração mariana pascal “Regína Cæli“:

Rainha do Céu

V/. Rainha do Céu, alegrai-Vos, aleluia.

R/. Porque quem merecestes trazer em vosso seio, aleluia.

V/. Ressuscitou como disse, aleluia.

R/. Rogai a Deus por nós, aleluia.

V/. Exultai e alegrai-vos, ó Virgem Maria, aleluia.

R/. Porque o Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia.

Oremos. Ó Deus, que Vos dignastes alegrar o mundo com a Ressurreição do Vosso Filho Jesus Cristo, Senhor Nosso, concedei-nos, Vos suplicamos, que por sua Mãe, a Virgem Maria, alcancemos as alegrias da vida eterna. Por Cristo, Senhor Nosso.

R/. Amém.

Regína cæli (latim)

V/. Regína cæli, lætáre, allelúia.

R/. Quia quem meruísti portáre, allelúia.

V/. Resurréxit, sicut dixit, allelúia.

R/. Ora pro nobis Deum, allelúia.

V/. Gaude et lætáre, Virgo Maria, allelúia.

R/. Quia surréxit Dóminus vere, allelúia.

Orémus. Deus, qui per resurrectiónem Fílii tui, Dómini nostri Iesu Christi, mundum lætífícáre dignátus es: præsta, quæsumus, ut, per eius Genetrícem Vírginem Maríam, perpétuæ capiámus gáudia vitæ. Per eúmdem Christum Dóminum nostrum.

R/. Amen6.

Natalino Ueda, servo inútil de Jesus por Maria.

Links relacionados:

CANÇÃO NOVA FORMAÇÃO. Maria e a ressurreição de Cristo

PADRE PAULO RICARDO. A alegria da fé.

TODO DE MARIA. Maria e a alegria da ressurreição de Cristo.

Referências:

2 Idem, ibidem.

3 Idem, ibidem.

4 Idem, ibidem.

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