Não rezemos como os pagãos

Saiba o que significa não rezar como fazem os pagãos e como deve ser a nossa oração.

Na terceira aula do curso “Ensina-nos a orar”, Padre Paulo Ricardo nos ensina a não usar de muitas palavras em nossas orações, a não rezar como os pagãos, conforme ensinou-nos Jesus Cristo, mas como verdadeiros cristãos, católicos. A princípio, temos a impressão de que o problema da oração dos pagãos está simplesmente no uso excessivo de palavras. Mas, se esse fosse o problema, Jesus passaria noites em oração? (cf. Lc 6, 12). Os protestantes afirmam que o problema da oração dos pagãos, e também da nossa, são as repetições de palavras, como vemos na tradução da Bíblia protestante: “E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque pensam que pelo seu muito falar serão ouvidos” (Mt 6, 7). Mas, se fosse as “vãs repetições” realmente o problema apresentado por Cristo, teria ele mesmo nos ensinado logo em seguida uma oração repetitiva como o “Pai-nosso”? (cf. Mt 6, 9-13).

Saiba o que significa não rezar como fazem os pagãos e como deve ser a nossa oração.

Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face

Quando Jesus diz: “Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras…”, não esqueçamos que Ele também disse: “…como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras” (Mt 6, 7). Na mesma frase, vemos que o problema da oração dos pagãos não está simplesmente na “multiplicação de palavras”, mas está justamente em “querer ser ouvidos à força de muitas palavras”. Deus sabe de tudo que precisamos: “Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso” (Mt 6, 32), por isso, a questão mais importante é a motivação da nossa oração.

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A união entre a oração vocal e a oração mental

O primeiro grau de oração é a oração vocal. Nosso Senhor mesmo nos ensinou essa oração: “Quando orardes, dizei: Pai nosso…” (Lc 11, 2ss). Entretanto, é importante sabermos que a oração vocal não é excesso de palavras. O próprio Jesus nos advertiu a esse respeito: “Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras” (Mt 6, 7). A oração não é questão muitas palavras, mas sim questão de muito amor! Então, para que aconteça a nossa oração vocal, precisamos recordar, em primeiríssimo lugar, que é preciso nos colocar na presença de Deus.

Santa Teresa d’Ávila diz, no capítulo 22 do seu livro “Caminho de Perfeição”, que, pelo menos por cortesia, para não sermos mal criados, temos que nos dar conta com Quem vamos falar. Se vamos falar com um Rei, se somos pobrezinhos, maltrapilhos, mal vestidos, mal cheirosos, fedorentos, ela usa essa comparação, saibamos com Quem vamos falar. Então, quando temos essa advertência da presença de Deus, estamos unindo a oração mental e a oração vocal.

A importância da atenção na oração

A oração vocal exige em esforço interior, diz Santa Teresa: “Se falando, entendo perfeitamente e percebo que falo com Deus, concentrando-me mais nisso do que nas palavras que digo, então estão juntas a oração mental e a oração vocal”[1]. Esta é a primeira arte de fazer uma boa oração vocal, na qual devemos nos concentrar mais na Presença do que nas palavras que serão ditas. No entanto, isso não quer dizer que não tenhamos que pensar nas palavras. Quando rezamos, é evidente que devemos pensar nas palavras que são ditas. A esse respeito, no capítulo 24, Santa Teresa responde às monjas que estavam acostumadas a rezar somente com os lábios, sem pensar no que estavam dizendo:

Direis que isso já é meditação, que não podeis nem quereis senão rezar vocalmente. Porque também há pessoas impacientes e adeptas de comodidades que, como não têm o costume de recolher o pensamento, têm dificuldades de fazê-lo no princípio; e, para não se cansarem nem um pouco, dizem que não podem nem sabem mais do que rezar vocalmente. Tendes razão em afirmar que isso é oração mental. Mas eu vos digo que, na verdade, não sei como separá-la da oração vocal, se é que pretendemos rezar vocalmente com perfeição, entendendo com quem falamos. De fato, é nossa obrigação procurar rezar com atenção[2].

Esta atenção na oração vocal se torna uma introdução para a meditação, para ir em direção a uma oração mais avançada, se nós soubermos saborear as palavras, aquilo que nós dizemos.

Assista ou ouça aula do Padre Paulo Ricardo com o tema “Oração vocal – Não rezeis como os pagãos”:

A oração como alimento da alma

Santa Teresinha do Menino Jesus, monja francesa, que viveu três séculos depois de Santa Teresa d’Ávila, diz no Manuscrito C, escrito no seu último ano de vida: “Vez por outra, quando a minha mente está em tão grande aridez que me é impossível extrair um pensamento para me unir a Deus, recito muito lentamente o “Pai-nosso” e a saudação angélica [Ave-Maria][3]. É interessante que uma mulher, que está no cume de sua vida espiritual, ainda assim recorra ao “Pai-nosso”, que é a grande escola de oração, e a rezá-lo muito lentamente. A consequência dessa oração lenta, pausada, nos é descrita por Teresinha: “Então, essas orações me encantam e alimentam a minha alma muito mais do que se tivesse recitado precipitadamente uma centena de vezes”[4].

A oração feita com amor

Assim, na oração, não se trata de falar muito, ou parafraseando o que diz Santa Teresa nas “Quartas Moradas”, não é questão de pensar muito, é questão de amar muito[5]. Nesse caso, vale também o que Santo Tomás de Aquino nos ensina: “Vale mais uma Ave-Maria dita com grande amor, do que obras heroicas, onde não há amor nenhum”. Então, o que faz com que progridamos na vida de oração é o amor com que nós nos colocamos diante desta Presença e com o qual nós dirigimos essas palavras de uma oração vocal simples, de principiantes, mas já grandiosa no amor!

Oração de Santa Teresa d’Ávila

Ó Imperador nosso, sumo Poder, suma Bondade, a mesma Sabedoria, sem princípio, sem fim, sem haver limite em Vossas obras! São infinitas, sem se poderem compreender, um pélago sem fundo de maravilhas, uma formosura que contém em si todas as formosuras, a mesma Fortaleza! Oh! valha-me Deus! quem tivesse aqui junta toda a eloquência e sabedoria dos mortais para bem saber – como aqui se pode saber, que tudo é não saber nada, para este caso – dar a entender algumas das muitas coisas que podemos considerar para conhecerem algo quem é este Senhor e Bem nosso.

Transcrição e adaptação: Natalino Ueda, escravo inútil de Jesus em Maria.

Links relacionados:

PADRE PAULO RICARDO. Caminho de Perfeição.

PADRE PAULO RICARDO. O pão nosso de cada dia.

TODO DE MARIA. O primeiro passo para começar a rezar.

TODO DE MARIA. Os modos ou graus de pertença a Virgem Maria.

TODO DE MARIA. Mudar de vida com o Projeto Segunda Morada.

Referências:


[1]  SANTA TERESA DE JESUS. Caminho de Perfeição, c. 22.

[2]  Idem, c. 24.

[3]  SANTA TERESA DE LISIEUX. Manuscrito C. In:Obras Completas: Textos e Últimas Palavras”. Trad. port. do Carmelo de Cotia et al. 2.ª ed., São Paulo: Loyola, 2001, p. 250.

[4]  Idem, ibidem.

[5]  SANTA TERESA DE JESUS. Castelo Interior, Quartas Moradas, c. 1, 7.

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