Nossa Senhora de Guadalupe, Mãe das Américas

O saudoso Papa João II se dirige a Nossa Senhora de Guadalupe como a Mãe das Américas.

Nossa Senhora de Guadalupe, Mãe das AméricasO Beato João Paulo II nos explica a missão de Nossa Senhora de Guadalupe, a Mãe das Américas, no 450º aniversário das aparições (Homilia de 12 de dezembro de 1981). Segundo o Santo Padre, na mensagem de Guadalupe destaca-se a constante referência à maternidade virginal de Maria. O povo fiel sempre teve consciência de que a boa Mãe do Céu, de quem se aproxima com suas preces, é a sempre Virgem da antiga Tradição cristã. Maria é a aeiparthénos dos Padres gregos, a donzela virgem do Evangelho (cf. Mt 1, 18-25; Lc 1, 26-38), a “cheia de graça” (Lc 1, 28). A Santíssima Virgem é a escolhida para ser Mãe do Deus encarnado, a Theotókos do Concílio de Éfeso (431), a Deípara, venerada na continuidade do Magistério da Igreja até aos nossos dias. Os devotos de Nossa Senhora de Guadalupe, com sincero espírito de fé e obediência à Igreja, em sua manifestação de amor mariano, se uniram num mesmo sentimento, que se tornou para eles mais simbólica ainda a colina de Tepeyac, onde a Virgem apareceu ao índio Juan Diego. Esta fervorosa religiosidade mariana de Guadalupe é a mesma dos outros povos da América, inclusive do Brasil.

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A maternidade da Virgem de Nazaré, a Mãe de Deus, sobre o Verbo Encarnado, Jesus Cristo, está intimamente unida a maternidade espiritual de Maria sobre todos os homens. Na devoção a Nossa Senhora de Guadalupe, aparece desde o início esse traço característico, que os Pastores ensinam e os fiéis vivem com firme confiança. Esta maternidade espiritual, aprendida ao contemplar Maria no seu papel singular no mistério da Igreja, tem sua origem na sua missão de Mãe do Salvador. A Virgem Maria aceita colaborar livremente, unida ao seu Filho Jesus Cristo, no plano divino da salvação do gênero humano. Sobre esta função materna de Maria, expressa-se de modo luminoso o Concílio Vaticano II: Nossa Senhora, “concebendo Cristo, gerando-O, alimentando-O, apresentando-O ao Pai no templo e padecendo com o seu Filho quando este morria na cruz, cooperou, de forma inteiramente sem igual, na obra do Salvador com a obediência, a fé, a esperança e a ardente caridade, com o fim de restaurar a vida sobrenatural das almas. Por isso, ela é nossa mãe na ordem da graça” (Constituição Dogmática Lumen gentium, 61).

Conforme estes ensinamentos conciliares, a missão de Maria como Mãe espiritual da humanidade consiste em restaurar a nossa vida sobrenatural. Por isso, a Igreja presta a ela a sua homenagem de amor ardente “quando considera a maternidade espiritual de Maria para com todos os membros do Corpo Místico” (Exortação Apostólica Marialis cultus, 22). Tendo em vista esta maternidade sobre os membros do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja, o Papa Paulo VI declarou Maria como “Mãe da Igreja” (Discurso do Papa Paulo VI, AAS 1964, 1007). Por este mesmo motivo, João Paulo II quis confiar também à Mãe de Deus todos os povos da terra (em 7 de junho; em 8 de Dezembro de 1981).

As aparições de Nossa Senhora de Guadalupe e a sua mensagem criam e expressam os traços da cultura do povo mexicano, não como algo lhes foi imposto de fora, mas em harmonia com as suas tradições culturais. Esta presença evangelizadora, com a imagem mestiça de Maria que une em si duas raças, é um marco histórico de uma nova cultura cristã no México e no continente latino-americano. A figura materna de Nossa Senhora de Guadalupe foi decisiva para que os homens e mulheres da América Latina se reconhecessem em sua dignidade de filhos de Deus. Maria é o selo distintivo da cultura e da religião do continente latino-americano. “Mãe e educadora do nascente povo latino-americano, em Santa Maria de Guadalupe, através do Beato Juan Diego, ‘é oferecido um grande exemplo de evangelização perfeitamente inculturada’” (Documento de Santo Domingo, 15). A Santíssima Virgem precede os filhos de Deus na peregrinação da fé e no caminho da glória, e acompanha os povos que a invocam com amor, até que nos encontremos definitivamente com seu Filho. “Por isso a invocamos como estrela da Primeira e da Nova Evangelização” (Idem).

A presença da Virgem Mãe e Senhora, sentida em toda a América, em especial em Guadalupe, é elemento potencial que deve ser aproveitado na evangelização, a fim de conduzir o povo fiel, pelas mãos de Maria, até Jesus Cristo, centro de toda a vida cristã. Pois, em sua maternidade espiritual, Maria não somente nos conduz a Jesus, mas gera o seu Filho em nós, nos une pelo Espírito Santo ao Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja. Por isso, como o Papa João Paulo II na sua Oração a Nossa Senhora de Guadalupe, nos consagremos a Nossa Senhora todo o nosso ser, todo o nosso amor, toda a nossa vida, todos os nossos trabalhos, as nossas alegrias, as nossas doenças, os nossos sofrimentos. Pois, quando nos consagramos a Virgem Maria, ela nos leva diretamente ao seu Filho Jesus Cristo, centro de toda a vida da Igreja e das nossas vidas.

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