O que significa ser filho de Nossa Senhora?

Saiba o significado de ser um filho de Nossa Senhora e o que isso implica em nossa vida espiritual.

Depois do título de “servo de Maria”, comum a todos nós por natureza, existe um outro, mais íntimo, mais consolador, mais fecundo em graças, e que não constitui apenas uma garantia de salvação, mas um penhor de perfeição; trata-se daquele que nos é concedido pelo sacramento do Batismo: o nome de filhos de Deus e de filhos de Maria. Ser servo de Maria já é esplêndido e consolador! Entretanto, ser filho, ou filha, dessa Mãe amorosa é ter, com segurança, sempre a nosso serviço: seu coração materno, para compadecer-se de nossas penas; seu olhar atencioso, para seguir-nos em toda parte; suas mãos generosas, para comunicar-nos os tesouros de seu Filho; seus braços acolhedores, para sustentar-nos no caminho; sua alma misericordiosa, para nela acharmos com o que cobrir nossas misérias e adornar a nossa alma com seus merecimentos. Enquanto filhos de Maria, temos, ou não, necessidade do seu cuidado materno?

Saiba o significado de ser um filho de Nossa Senhora e o que isso implica em nossa vida espiritual.

A Virgem Maria, o Menino Jesus e São José

O servo, ou empregado, trabalha por interesse; pois, seus serviços são devidamente pagos. O servo encontra na recompensa financeira o maior motivo de sua dedicação ao seu senhor. Entretanto, o filho nada espera receber, já que seus serviços são prestados sem um pagamento combinado. Trabalhando para seus pais, o filho sabe que trabalha para si. Ele é um membro da família, está ligado a ela pelos laços mais íntimos de amizade e de afeição, por isso, dedica-se somente por amor. O filho também é servo, pois presta igualmente um serviço. Porém, é mais do que isso: é filho; serve, mas o faz simplesmente por amor.

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A grandeza de sermos filhos da Virgem Maria

A Santíssima Virgem é nossa Mãe! Esta é uma doce e consoladora verdade! Meditemos com amor na consequência de sermos filhos de Maria Santíssima: “Confiança preciosa! Refúgio seguro! – exclama Santo Anselmo – a Mãe de Deus é minha Mãe! – Mater Dei est Mater mea”. A este respeito, São Boaventura acrescenta: “Ah! Minha alma […] diz com toda a segurança: Alegrar-me-ei, exultarei de prazer, porque, seja qual for o julgamento que mereça, minha sentença depende de meu Irmão e de minha Mãe”1. Todavia, não esqueçamo-nos que, em vista desta alta dignidade, a “nobreza obriga”.

Os filhos geralmente ficam felizes em ouvir dizer que são dignos de seus pais, que têm traços parecidos com os deles, ou que tem as mesmas habilidades que eles. Nesse sentido, as pessoas costumam repetir a expressão: filho de peixe, peixinho é. Filhos e filhas de Maria, não sejamos estranhos a este justo sentimento! Se um servo de Nossa Senhora encontra na dependência dela uma garantia de salvação, muito mais um filho de Maria deve achar nela um penhor de perfeição. Que fazer para conseguir esta perfeição? Basta simplesmente ser um verdadeiro filho de Maria!

Os deveres de um filho da Santíssima Virgem

Um filho tem três deveres fundamentais para com sua mãe: obedecer, honrar e amar. Jesus Cristo cumpriu este tríplice dever para com a Virgem de Nazaré (cf. Lc 2, 51), aquela que Ele chamava “sua Mãe” e que o era verdadeiramente, não somente no sentido biológico, por tê-Lo gerado e concebido, mas também no sentido espiritual, como o próprio Senhor ensinou: “Minha mãe e meus irmãos são estes, que ouvem a palavra de Deus e a observam” (Lc 8, 21). Ora, a Mãe de Deus foi quem melhor ouviu a palavra de Deus e a pôs em prática: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).

Nossa Senhora não somente ouviu, mas acolheu a Palavra de Deus, a pessoa divina do Verbo eterno, que Se fez carne em seu ventre e deixou-Se gerar por ela. Consequentemente, não devemos hesitar em seguir os passos do Mestre, deixando-nos gerar por Maria, obedecendo-a em tudo, e prestar a nossa Mãe as devidas homenagens, que Ele próprio nos deu o exemplo. Dessa forma, devemos a Virgem Maria: a obediência, no cumprimento dos mandamentos da lei de Deus e da Igreja, e de nossos deveres de estado; a honra, no culto sincero que lhe é devido; no amor, invocando-a e esforçando-nos para nos assemelharmos a ela, tanto quanto for possível.

Somos filhos da Mãe de Deus! Doce e consolador é este pensamento! Aqui na terra, um filho normalmente se orgulha da honra de sua mãe, da bondade, do poder daquela que lhe deu a vida. Oh! Como podemos gloriar-nos de Maria! No entanto, o título de filho de Maria significa muito mais que isso. O servo trabalha para seu patrão, mas o filho, ainda fraco, não pode trabalhar, porque está em idade de formação. O filho deve primeiramente ser educado. Esta palavra é profunda e significativa na missão de uma mãe! Pois, a mãe educa seu filho, em primeiro lugar na vida material, na sua formação humana, moral e intelectual, até que, superando suas fraquezas e dificuldades, ele sustente-se sozinho. No plano espiritual, tudo isso é verdadeiramente a tarefa da Virgem Mãe e a imagem da formação que dela recebemos.

Precisamos ser elevados acima desta vida dos sentidos, terrestre e carnal, na qual fraquejamos e caímos frequentemente, para a vida espiritual. Fracos demais para nos sustentar, como as crianças, necessitamos das mãos de nossa Mãe, para sustentar-nos a cada instante, para encaminhar-nos e elevar-nos para as coisas do alto (cf. Cl 3, 1). Se temos as fraquezas e os defeitos da infância, não somente podemos, mas devemos adquirir as qualidades da Virgem Santíssima. A dependência que as crianças têm das suas mães por condição e necessidade, devemos ter de nossa Mãe livremente e por virtude. Este é o sentido das palavras de Jesus aos seus discípulos: “Em verdade vos declaro: se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos céus” (Mt 18, 3).

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre “A vida oculta de Jesus”:

A dependência de filhos a Nossa Senhora

O estado de dependência é próprio da infância e é a característica mais notável desta fase da vida. Nenhuma outra criatura depende tanto, e por tempo tão longo, de quem a gerou do que uma criança. Durante anos, a criança está totalmente entregue à sua mãe. Podemos dizer que toda criança tem uma dependência semelhante à do Menino Jesus a Virgem Maria:

Sua infância esteve entregue a sua Santa Mãe. Durante os nove meses que Ela o trouxe em suas puríssimas entranhas, só pertencia a Ela. Todo o tempo de sua meninice, Ele não a deixou. Era nos seus braços que repousava e sobre o seu peito que respirava e vivia; era d’Ela imediatamente que dependia em todas as coisas.

José é o chefe da Sagrada Família; mas durante os primeiros anos o pai aparece menos que a Mãe. Mais tarde, em Nazaré, sua autoridade se exerce mais visivelmente; é a ordem, pois o pai deve dirigir o filho adolescente.

Em Belém, no Templo de Jerusalém, e no começo de sua vida no Egito, o primeiro papel cabe a Maria. Somente Ela o envolve e o veste; somente Ela o alimenta e aquece; e quando é preciso ir aqui ou ali, Ela é quem o leva2.

De mesma forma que a Virgem de Nazaré gerou e cuidou do Menino Jesus, ela gera e cuida espiritualmente de cada um de nós, seus filhos. Como Jesus, precisamos ser educados na escola de Maria, seus cuidados por suas mãos virginais, e permanecer sempre sob o seu olhar materno. Devemos ser próximos de Nossa Senhora. Pois, estar perto dela, sob seu olhar atento, cuidadoso, perto de seu Imaculado Coração, é a vida de um verdadeiro filho da Virgem Maria!

Em nossas relações humanas, vivemos de coração e de espírito especialmente com aqueles que nos são caros, mesmo depois que a morte nos separa deles. Da mesma forma, como verdadeiros filhos de Maria, devemos viver de coração e de espírito com a Virgem Maria. Pois, sua lembrança é suave, tão animadora, nas horas das nossas fraquezas; suas lágrimas e seus sorrisos, suavizariam tanto as revoltas e rebeliões dos nossos sentidos! Que irradiação de paz e de alegria para as almas se ao menos soubessem que são tão amadas por Maria. Que esperança de perdão para o culpado ao ver-se protegido por Mãe tão misericordiosa! Que abundância de graças para o coração que deseja dedicar-se inteiramente a ela. Quanta luz nas dificuldades da vida tem a alma que tem Maria por Mãe!

Uma mãe está sempre presente na vida de seus filhos. Podemos ter amigos, quantos quisermos, amigos fiéis, os mais ternos possíveis, mas nunca uma criatura nos amará como nossa mãe. Se uma mãe terrena nos ama tanto, muito mais podemos ter a certeza do amor de nossa Mãe celeste. “Maria nos ama – diz Santo Stanislau Kostka – como Ela amava a seu Filho Jesus”3. – Nossa Senhora tem o mesmo interesse por nós e nos cerca com os mesmos cuidados, com a mesma dedicação, com os quais tratava do Filho de Deus. Por isso, devemos nos voltar para a Santíssima Virgem com a mesma confiança de seu divino Filho. “Oh! Vivamos perto de nossa Mãe! Cerquemo-nos da lembrança de Maria, como de um manto para abrigar-nos, como de uma luz e de uma força que não nos deixem nunca separar de Deus. Servos de Maria, devemos-lhe dedicação. Filhos de Maria, devemos-lhe filial amor”4.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo com o tema: “Em que consiste a infância espiritual de Santa Teresinha do Menino Jesus?”:

O Menino Jesus: filho exemplar de Maria

São Francisco de Sales dizia que, se alguém perguntasse ao Menino Jesus onde ia, durante o tempo em que foi levado nos braços de sua Mãe Santíssima, Ele teria respondido:

Não vou, é minha Mãe que vai por mim.

Mas, ao menos, vais com tua Mãe?

Não, se vou onde minha Mãe me leva, não vou com Ela, nem com meus próprios passos, mas vou pelos passos de minha Mãe, por ela e nela.

Mas, ao menos, ó querido Menino, te deixas levar por tua doce Mãe?

Não, de certo nada quero de tudo isso; mas como minha bondosa Mãe anda por mim, também ela quer por mim5.

Deixemos igualmente a Nossa Senhora o cuidado de ir e de querer ir por mim, aonde lhe parecer melhor. Como filhos de Maria, devemos somente andar pelos seus passos, só querer pelo seu querer. Eis o resumo de nossa regra de vida como “filhos de Maria”: a docilidade e a união com nossa Mãe e Senhora. Que esta boa Mãe nos conceda viver uma tal vida, pois é tão suave viver perto de um coração de mãe! “Ó Maria, doce e incomparável Virgem, tu és verdadeiramente nossa Mãe!… Faze que sejamos teus dignos filhos! Dignos de teu coração – dignos de teus cuidados, de tua solicitude; dignos sobretudo, de tua bondade!”6.

Por fim, Santo Antônio Maria Claret nos ensina o que é ser, a exemplo de Jesus Cristo, um verdadeiro Filho da Santíssima Virgem:

Um filho do Imaculado Coração de Maria é um homem que arde em caridade e abrasa por onde passa. Deseja eficazmente e procura por todos os meios inflamar o mundo no fogo do divino amor. Nada o detém. Alegra-se nas privações. Enfrenta os trabalhos. Abraça os sacrifícios. Compraz-se nas calúnias. Alegra-se nos tormentos e dores que sofre e gloria-se na cruz de Jesus Cristo. Não pensa senão em como seguir e imitar Cristo na oração, no trabalho e no sofrimento, procurando sempre e unicamente a maior glória de Deus e a salvação dos homens7.

Ó Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, rogai por nós!

Natalino Ueda, filho inútil de Maria.

Links relacionados:

TODO DE MARIA. O auxílio de Nossa Senhora aos pecadores.

TODO DE MARIA. O que significa ser servo de Nossa Senhora?

TODO DE MARIA. Sacerdotes: filhos prediletos de Maria.

Referências:

2 Idem, p. 49-50.

3 Idem, p. 50.

4 Idem, p. 50-51.

5 Idem, p. 51.

6 Idem, p. 48.

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