O que significa ser servo de Nossa Senhora?

Saiba o significado de ser servo de Nossa Senhora, os deveres e graças que temos por pertencer a tão insigne Rainha.

Por natureza, todos somos necessariamente Servos de Nossa Senhora. Todos nós pertencemos a Maria Santíssima. São Bernardino de Sena exprime essa realidade nestes termos: “Quantas são as criaturas que servem a Deus, tantas são que devem servir a Maria. E estando os anjos, os homens, e todas as coisas que há no céu e na terra sujeitos ao império de Deus, submetidos devem estar, também, ao domínio desta celeste Rainha”1. Pelo Batismo, nos tornamos filhos de Deus e herdeiros do seu Reino, e nos unimos mais estreitamente a Santíssima Virgem. Nos tornamos filhos de Maria, mediante a nossa elevação a uma ordem superior.

Saiba o significado de ser servo de Nossa Senhora, os deveres e graças que temos por pertencer a tão insigne Rainha.

Aparição de Nossa Senhora a São Bernardo de Claraval

Como homens, imagem e semelhança de Deus, somos servos de Nossa Senhora. Mas, enquanto cristãos, somos filhos da Virgem Mãe de Deus. Os títulos, ou nomes, de servo e filho de Maria, bem como outros, expressam formas de relação com nossa Mãe, Maria Santíssima. Neste artigo, trataremos sobre os deveres de um servo, a questão do estado de graça e da salvação por Maria.

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Os deveres de um servo de Nossa Senhora

O título de servo diz respeito a todo gênero humano. Pois, como já dissemos, todos nós somos servos da Santíssima Virgem, como nos ajuda a compreender São Bernardino de Sena: “a soberania da Mãe de Deus não tem limites nem no céu nem na terra. […] Todos os seres, sem exceção alguma, estão sob o domínio divino, e pela mesma razão, sob o domínio de Maria. […] O Filho comum de Deus Pai e da augusta Virgem [Jesus Cristo] colocou, por assim dizer, em igual plano a autoridade de sua Mãe e a de seu Pai”2. Dionísio, o cartuxo, também ressalta esta autoridade da Virgem Maria, invocando-a dessa forma: “Ó Rainha gloriosa e cumulada de graças, é justo que tudo se coloque sob vosso domínio, seja no céu, seja na terra; pois Deus, o Criador de tudo, houve por bem obedecer-vos”3.

Agora sabemos que somos servos de Maria. Mas, o que é um servo? O servo é um homem, ou uma mulher, a serviço de outra pessoa, que recebe uma remuneração por seu trabalho, um salário de combinado previamente. O servo entra na família de seu patrão. Um bom servo deve buscar os interesses da propriedade ou da empresa onde trabalha, defender seu senhor, e prestar-lhe bem todos os serviços possíveis. Pela criação e redenção, todos somos servos de Deus e consequentemente servos de Mãe de Deus. Dessa forma, somos membros da família de Maria Santíssima. Ao mesmo tempo, a Virgem é o templo de seu Filho Jesus Cristo e também é nossa morada. Por isso, os interesses de Nossa Senhora devem ser os nossos.

Por recompensa de nossos serviços, a Virgem Santíssima não nos promete bens materiais, que são passageiros, mas os bens celestes, que são eternos. Por isso, São Bernardo afirma com convicção: “Um verdadeiro servo de Maria não pode perder-se”4. Meditando sobre tão sublime promessa, podemos nos perguntar: o que é preciso para ser verdadeiros servos de Maria, e ter direito a tão animadora promessa?

Muitas pessoas pensam que é suficiente recitar, de vez quando, uma oração em honra da Santíssima Virgem; que basta enfeitar uma imagem de Maria; ou que basta queimar algumas velas em seus santuários, de tempos em tempos; que é o bastante ser fiel a alguma prática de devoção, como o Terço, sem renunciar ao pecado. Nenhuma destas devoções é má em si mesma, desde que não usemos delas como uma capa, para viver uma vida de pecado, na inimizade de Deus. Podemos até alcançar a conversão com estas práticas, mas elas são insuficientes para assegurar-nos a salvação eterna.

Para que, enquanto servos de Maria, tenhamos direito às consoladoras promessas da Rainha do Céu, é necessário que nos mostremos dignos e verdadeiros servos. Por isso, nossa devoção para com a Mãe de Deus deve ser sincera e cristã. Para que a nossa devoção seja sincera, é preciso que o nosso coração deseje verdadeiramente honrar Nossa Senhora e testemunhar a nossa confiança. Nenhuma prática particular é exigida para uma sincera devoção Virgem Maria. No entanto, a devoção que adotarmos deve ser significativa e exprimir uma verdadeira confiança nesta boa Mãe. A nossa devoção de servos de Maria, deve ser cristã, isto é, em ordem à nossa santificação, ainda que sem expressões exteriores.

O servo de Maria e o estado de graça

O estado de graça é indispensável para o servo da Santíssima Virgem. Depois de cair em pecado, podemos recobrar, por Maria, a graça e amizade de Deus e chegar ao termo da santificação.

No entanto, precisamos, ao menos, de um certo desejo de recuperar a graça de Deus, uma vontade de proceder melhor. As nossas práticas de devoção a Santa Mãe de Deus devem tender para essa busca por permanecer na amizade com o Senhor. Não basta termos a intenção de agradar Nossa Senhora. Devemos ter a fuga do pecado e a retorno completo para Deus como princípio de boa vontade. Somente deste modo, poderemos obter a misericórdia divina, por intermédio da Virgem Maria.

Precisamos banir da nossa alma a ousadia imprudente e sem inteligência de procurar inutilmente, numa prática de devoção, um meio de continuar a pecar sem sofrer as consequências. A Virgem Maria quer levar-nos a Jesus Cristo. Por isso, é impossível que ela atenda a intenções tão criminosas, como honrar a Mãe para mais facilmente ofender o Filho! Romper com o pecado como projeto de vida é essencial para o servo de Maria. Não se podemos duvidar que a nossa devoção a Santíssima Virgem produzirá tanto mais segura e magnificamente seus efeitos em nós, quanto maior e mais sincera for nossa dedicação a ela.

Ser servo de Nossa Senhora é uma garantia de salvação. Mas, este auxílio de Maria não muda nenhuma das condições de salvação, estabelecidas por Deus. Seremos salvos pela graça do Senhor, que alcançamos mediante os méritos de Jesus Cristo e nossa cooperação. Mas, como servos de Maria Santíssima, esperamos seu auxílio, a sua intercessão, que nos alcançará os favores mais abundantes da graça. Dessa forma, teremos a certeza de uma vida na graça e uma boa morte. Em razão de nos assegurar tal auxílio, a devoção à Mãe de Deus é sinal e penhor da salvação eterna.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre a “Por que nós chamamos a Virgem Maria de Rainha e de Senhora?”:

O servo e a salvação por Maria

A respeito da salvação pelas mãos da Santíssima Virgem, alguém pode perguntar: porque celebrar esta segurança de salvação como sendo um privilégio da devoção a Mãe de Deus? Será reprovado aquele que é verdadeiramente dedicado a Deus? – É evidentemente que não! Não podemos duvidar do poder e da bondade do Salvador de nossas almas, d’Aquele que criou Maria Santíssima e que sempre, com tamanha ternura, acolheu os pecadores desejosos de conversão.

Encontraremos resposta a essas dificuldades, se considerarmos que para alcançar um fim não basta possuir os meios, mas é necessário saber usar bem destes. Jesus Cristo é Juiz e Salvador, único Mediador entre Deus e os homens (cf. 1 Tim 2, 5). Diante da grandeza do Senhor, como será possível que, vivendo em estado de pecado, tenhamos por Ele uma devoção inspirada pela confiança e não pela temeridade? Depois do pecado, o grito natural de nossas almas é o grito de São Pedro: “Senhor, afasta-te de mim que sou um pecador” (Lc 5, 8).

Este obstáculo à nossa confiança desaparece somente quando podemos apresentar-nos a Jesus Cristo apoiados nesta Rainha puríssima e toda misericordiosa, que é a Virgem Santíssima. Sendo onipotente, sem ter necessidade, Deus quis contar com o socorro de Maria para completar o desígnio divino da redenção humana. Dessa forma, sem nada tirar da glória do seu Filho, primogênito de muitos irmãos (cf. Rm 8, 29), a Mãe de Deus salva a todos nós, seus outros filhos que Deus lhe concedeu.

A justiça do Filho de Deus pode espantar e ameaçar a nós, pobres pecadores. Entretanto, a misericórdia da Mãe de Deus nos atrai! Quando uma criança chama sobre si a indignação ou a ira do pai e se sente ameaçada, ela se lança nos braços da mãe. A criança faz isso não para ofender o pai, mas para receber o perdão dele por meio da mãe que, com certeza, há de comover-se ante esse ato de confiança.

A entrega total do servo a Rainha do Céu

Portanto, como uma criança se lança nos braços de sua mãe, devemos nos lançar com confiança nas mãos maternas da Virgem Maria. Supliquemos, muitas vezes, a esta boa Mãe que não cesse de implorar por nós diante de seu Filho, e nosso Senhor, Jesus Cristo. Assim, teremos certeza da nossa salvação. Santo Agostinho dizia que: “Aquele por quem a Mãe de Deus reza ainda que só uma vez, salvar-se-á irrevogavelmente. […] Feliz aquele que se mostra verdadeiro servo de Maria!”5 Podemos ter fraquezas e até cair, mas contanto que desejemos sair deste estado e que invoquemos a Virgem Maria, alcançaremos forças para levantar-nos e viver como bons cristãos, e não seremos indignos da proteção da augusta Rainha do Céu. Nestas condições, como verdadeiros servos, podemos pretender, com nossa dedicação à Santíssima Virgem, uma garantia de perdão e de salvação junto a seu Filho Jesus Cristo.

Natalino Ueda, servo de Maria.

Links relacionados:

TODO DE MARIA. Maria, Rainha do Céu e Mãe de Misericórdia.

TODO DE MARIA. Nossa Senhora, Rainha que serve.

TODO DE MARIA. O auxílio de Nossa Senhora aos pecadores.

Referências:

2 Idem, p. 42-43. Cf. De Nativ. B. V. cap. VI.

3 Idem, p. 43. Cf. De laud B. V. Cap. VI.

4 Idem, ibidem.

5 Idem, p. 45.

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