O sacrifício da própria vida

O Povo de Deus, sem ter mais o que oferecer, oferece a própria vida, seus sofrimentos e angústias em sacrifício a Deus.

Amar Deus é oferecer-se em sacrifício a própria vidaNa antiguidade, o Povo de Deus, sem ter mais o que ofertar a Deus, aprendeu a oferecer a própria vida, os sofrimentos e angústias, em sacrifício ao Senhor. O Povo de Deus, também conhecido como Povo de Israel, passou por várias guerras, perseguições, tribulações, sofrimentos, durante a sua história. O livro de Daniel nos ajuda a compreender o sofrimento desse povo no tempo do exílio na Babilônia, durante um tempo em que não tinham chefes, nem profetas, tampouco sacerdotes (cf. Dn 3, 38a). O povo israelita também estava sem templo, por isso, ainda que tivessem sacerdotes, eles não tinham o Templo de Jerusalém, lugar onde eram oferecidos os sacrifícios ao Senhor (cf. Dn 3, 38b). Depois de experimentar muitos anos de glória e esplendor, aquele povo estava reduzido ao menor de todos os povos, humilhados no meio de todas as nações (cf. Dn 3, 37).

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Numa situação de aparente abandono, de coração arrependido e em espírito de humildade, Sidrac, Misac e Abdênago pedem para o Senhor acolhê-los em sacrifício no lugar dos carneiros e touros que eram oferecidos a Deus pelos pecados do Povo (cf. Dn 3, 39). Sem sacerdotes e sem o Templo para oferecer os sacrifícios, os três jovens lançados à chamas pelo Rei Nabucodonosor aprenderam a se oferecer em sacrifício a Deus, que poupou-os milagrosamente (cf. Dn 3, 24ss). Diante da situação extrema de angústia e de sofrimento, estes três israelitas aprenderam aquilo que no futuro São Paulo nos ensinaria: “Oferecei os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12, 1). O Apóstolo no diz como nós, no nosso corpo e como corpo (Igreja), devemos ser liturgia: “Cristo oferece-se a si mesmo e substitui assim todos os outros sacrifícios. E deseja ‘atrair-nos’ a nós próprios para a comunhão do seu Corpo: o nosso corpo juntamente com o seu torna-se glória de Deus, torna-se liturgia” (Lectio Divina do Papa Bento XVI, em 15 de fevereiro de 2012).

Jesus Cristo se ofereceu em sacrifício por nós, agora não somente pelo perdão dos nossos pecados, como na Antiga Aliança, mas também para alcançar a nossa salvação. E, fazendo isso, Jesus nos ensinou a oferecer as nossas vidas como sacrifício santo e agradável a Deus. Este sacrifício não significa morrer, como o Senhor morreu na cruz, mas sim temer a Deus, segui-Lo de todo o coração e buscar a Sua face (cf. Dn 3, 41), fazer de toda nossa vida um sacrifício agradável a Deus. Jesus, nosso Salvador, nos chama a tomar a nossa cruz e segui-Lo (cf. Lc 9, 23), a oferecer os nossos sofrimentos, nossas angústias, nossas tribulações a Deus Pai, juntamente com o Seu sacrifício no monte Calvário (cf. Jo 19, 17).

Temos em Cristo não somente um modelo a ser seguido, mas a expressão máxima do amor de Deus pelo seu povo. Porém, a grandeza do sacrifício de nosso Senhor faz com que nos sintamos pequenos, incapazes de realizar semelhante entrega. Por isso, no alto da cruz, no auge do seu sofrimento, Jesus faz um grande esforço para nos transmitir o seu testamento. Não tendo mais o que oferecer, Jesus nos oferece a sua própria Mãe, aquela que o gerou e alimentou, que o educou e formou na Lei de Deus, que acompanhou os seus passos e seguiu-O até o fim. O Senhor, pouco antes de morrer, nos entregou a Virgem Maria por nossa Mãe (cf. Jo 19, 26). Jesus nos confiou Maria, a sua Mãe, para que fossemos cuidados por ela com amor de Mãe e para que tenhamos nela um modelo que esteja mais ao nosso alcance.

Nossa Senhora se fez pequena, humilde, e ofereceu sua vida inteiramente a Deus em sacrifício. Ela consagrou, ofereceu em sacrifício, toda a sua existência para realizar a vontade do Pai (cf. Lc 1, 38). A Virgem Maria gerou o Filho de Deus, Jesus Cristo, Cabeça da Igreja e continua a gerar cada filho e filha de Deus (cf. Catecismo da Igreja Católica, 963). Por isso, não tenhamos medo de nos oferecer inteiramente a Virgem Maria, de nos consagrar a ela de todo o nosso coração. Maria é Mãe de Deus, mas também é Mãe da Igreja e, por isso, Mãe de todos os cristãos, membros de Cristo e da Igreja (Idem, ibidem). Pois, da mesma forma que ela gerou Jesus para realizar o desígnio do Pai, ela também nos gera, na fecundidade do Espírito Santo, como membros de Cristo e da Igreja, para que se realize a vontade de Deus em nossas vidas.

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