O Jubileu de 100 anos das aparições de Nossa Senhora de Fátima é um tempo muito propício para fazer a consagração ou escravidão de amor.
Em 2017, comemoramos os 100 anos das aparições de Nossa Senhora do Rosário, em Fátima, Portugal. No dia 13 de Maio de 1917, a Virgem do Rosário apareceu pela primeira vez aos videntes, três pobres pastorinhos: Lúcia, Francisco e Jacinta. A Mãe de Deus apareceu a essas três pobres crianças primeiramente para avisar sobre os tempos difíceis que estavam por vir ao mundo.
Naquele tempo, a Virgem Santíssima perguntou aos pastorinhos: “Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?”[1]. Neste ano todo especial, no qual a Igreja no Brasil e em Portugal vive um Ano Mariano, todo dedicado a Nossa Senhora, ela nos convida a nos oferecer inteiramente a Deus, através da consagração ou escravidão de amor a Jesus Cristo, pelas mãos da Virgem Maria.
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A visão do inferno e a purificação da alma dos pastorinhos
Na vida espiritual, santificamo-nos porque a graça divina concede-nos uma purificação profunda e um progresso na caridade. Mas, para que isso aconteça em nós, é necessário que passemos pelo que São João da Cruz, Doutor do Tudo e do Nada, chamou de “noite escura dos sentidos”. Essa purificação ordena as nossas paixões desordenadas, para que nós sejamos mais dóceis e comecemos assim o nosso caminho de santificação, que Santa Teresa de Jesus ou Santa Teresa d’Ávila chamou de “quarta morada”. Essa “noite escura” – que fez os três pastorinhos, sustentados pela graça de Deus, progredir na vida espiritual e passar para a “quarta morada” – foi a visão do inferno[2].
A visão do inferno horrorizou a Beata Jacinta a tal ponto que todas as penitências e mortificações que fazia lhe pareciam nada, para conseguir livrar de lá algumas almas. Muitas pessoas perguntavam a Lúcia o que fez com que Jacinta, tão pequenina e de pouca idade, compreendesse e se deixasse possuir por tal espírito de mortificação e penitência. A Irmã explicou que foi primeiramente por uma graça especial que Deus, por meio do Imaculado Coração de Maria, quis conceder a ela esse extraordinário progresso espiritual. Mas, olhar para o inferno e ver a desgraça das almas que aí caem foi também muito determinante para que a pequena Jacinta, uma menina de apenas 6 anos, se desapegasse das coisas do mundo para entregar-se inteiramente aos desígnios de Deus. Com frequência, Jacinta se sentava no chão ou em alguma pedra e, pensativa, começava a dizer:
– O inferno! o inferno! que pena eu tenho das almas que vão para o inferno! E as pessoas lá vivas a arder como a lenha no fogo! [E, meio trêmula, ajoelhava, de mãos postas, e rezava a oração que Nossa Senhora lhes tinha ensinado:] – Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as alminhas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem[3].
A consagração como caminho de purificação das nossas almas
Os três pastorinhos tiveram como Mãe espiritual a própria Virgem Maria, que lhes ajudou a purificarem-se de seus pecados e a oferecerem-se inteiramente a Deus pela salvação das almas. A mesma coisa acontece na consagração ou escravidão de amor. Depois que nos consagramos, ela trata de purificar as nossas almas de todas as imperfeições: “Atiram-se até, escondem-se e se perdem dum modo admirável em seu regaço amoroso e virginal, para aí ficarem abrasados de amor, para aí se purificarem das menores manchas, e para aí encontrarem plenamente a Jesus, que aí reside como no mais glorioso dos tronos”[4].
São Luís Maria Grignion de Montfort serve-se da história de Rebeca, Jacó e Esaú (cf. Gn 27, 1ss) para exemplificar como Nossa Senhora purifica e prepara as nossas almas para o encontro com Deus:
Quando lhe levamos e consagramos nosso corpo e nossa alma com tudo que deles depende, sem nada excetuar, que faz esta boa Mãe? O mesmo que fez, outrora, Rebeca aos dois cabritos que Jacó lhe trouxe: 1º mata-os, tirando-lhes a vida do velho Adão; 2º escorcha-os e despoja da pele natural, das inclinações naturais, do amor-próprio, da vontade própria e de todo apego à criatura; 3º purifica-os de toda mancha, sujeira e pecado; 4º prepara-os ao gosto de Deus e para sua maior glória. Ninguém como ela conhece perfeitamente este gosto divino e esta maior glória do Altíssimo, e, portanto, só ela pode, sem enganar-se aprontar e preparar nosso corpo e nossa alma de acordo com esse gosto infinitamente elevado e essa glória infinitamente oculta[5].
Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre o tema: “‘Moda’ não, mudança de vida!”:
Quem serão os consagrados a Virgem Maria?
São Luís Maria pergunta a respeito dos consagrados: quem serão esses servos, escravos e filhos da Virgem Maria? Depois, ele mesmo responde:
Serão ministros do Senhor ardendo em chamas abrasadoras, que lançarão por toda a parte o fogo do divino amor. Serão “sicut sagittae in manu potentis” (Sl 126, 4) – flechas agudas nas mãos de Maria toda-poderosa, pronta a traspassar seus inimigos.
Serão filhos de Levi, bem purificados no fogo das grandes tribulações, e bem colados a Deus (cf. 1 Cor 6, 17), que levarão o ouro do amor no coração, o incenso da oração no espírito, e a mirra da mortificação no corpo e que serão em toda parte para os pobres e os pequenos o bom odor de Jesus Cristo, e para os grandes, os ricos e os orgulhosos do mundo, um odor repugnante de morte[6].
Aos pastorinhos, a Senhora do Rosário mostrou o inferno e lhes propôs uma devoção profunda ao seu Imaculado Coração: “Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores; para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração. Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz”[7]. Mas, em nossos dias, não é necessária a visão que os pastorinhos tiveram para vermos que há muitas almas que se perdem no inferno por não ter quem reze por elas. Sendo assim, consagremos toda a nossa vida a Santíssima Virgem Maria, para que sejamos purificados de nossos pecados e contribuamos para a maior glória de Deus e para a salvação das almas.
Nossa Senhora do Rosário de Fátima, rogai por nós!
Links relacionados:
TODO DE MARIA. A consagração a Maria passo a passo.
TODO DE MARIA. Ano Mariano e reparação ao Imaculado Coração.
TODO DE MARIA. Os três pastorinhos e a visão do inferno.
TODO DE MARIA. Um convite para o Ano Nacional Mariano.
Referências:
[1] PADRE LUÍS KONDOR. Memórias da Irmã Lúcia, p. 82.
[2] Cf. PADRE PAULO RICARDO. A mensagem de Fátima nos impele.
[3] PADRE LUÍS KONDOR. Op. cit., p. 123. Irmã Lúcia ficou com a impressão de que as últimas palavras da oração se referem às almas que se encontram em maior perigo ou mais iminente de condenação às penas do inferno.
[4] SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, 199.
[5] Idem, 205.
[6] Idem, 56.
[7] PADRE LUÍS KONDOR. Op. cit., p. 121.