Conheça quais são as principais práticas da consagração a Nossa Senhora e aprenda como vivê-las bem.
Para viver bem a consagração a Nossa Senhora, segundo o método do “Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem”, vejamos quais são as práticas desta devoção e aprendamos como viver bem cada uma delas. Estas práticas podem ser divididas em dois grupos: interiores e exteriores. As interiores são as mais importantes porque “o essencial desta devoção consiste no interior”1. São Luís Maria Grignion de Montfort ensina que “a verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria é, em primeiro lugar, interior, ou seja, parte do espírito e do coração; provém da estima que temos a Mãe de Deus, da alta ideia que fazemos das suas grandezas e do amor que lhe consagramos2. Por causa da suma importância das práticas interiores na consagração, nos dedicaremos mais a estas, mas trataremos também das exteriores.
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I – As práticas interiores da consagração a Jesus por Maria
As práticas interiores foram resumidas por São Luís Maria na seguinte fórmula: “fazer todas as ações por Maria, com Maria, em Maria e para Maria”3. Fazer tudo “por” Maria é para os principiantes; “com” Maria é para os adiantados; e “em” Maria é para os perfeitos. Esta parte da fórmula corresponde aos “três graus clássicos da vida interior: a via purgativa, a via iluminativa e a via unitiva”4. Apesar de que no início da consagração não é possível a vivência plena desses três graus, pois são fases da vida espiritual, isso não significa que são totalmente separados e que numa fase não façamos experiências das outras. Independente da fase que vivemos, devemos nos esforçar para crescer de graça em graça e chegar à perfeição. A última parte da fórmula, o fazer as nossas ações “para” Maria, resume praticamente as três anteriores: “por Maria; “com” Maria; “em” Maria. No entanto, ao dizer que fazemos todas as ações “para Maria”, não nos enganemos pensando que ela é o centro ou o fim último desta devoção. Pois, fazemos tudo “para” a Santíssima Virgem, a fim de mais perfeitamente as fazer por Jesus Cristo, com Jesus Cristo, em Jesus e para Jesus”5.
Fazer todas as ações “por” Maria
Fazer todas as nossas boas obras “por” Maria significa que devemos obedecer em tudo à Santíssima Virgem, e deixar-nos conduzir em tudo pelo seu espírito, que é o Espírito Santo de Deus. Pois, “aqueles que são conduzidos pelo espírito de Maria são filhos de Maria e, por conseguinte, filhos de Deus”6. Para que nos deixemos conduzir pelo espírito de Maria é preciso:
1º – Renunciar ao nosso próprio espírito, às nossas próprias luzes e vontades, antes de fazer qualquer coisa, especialmente antes das orações, da Santa Missa, da comunhão e de nossas boas obras. “Porque as trevas do nosso espírito próprio e a malícia da nossa vontade e obras poriam obstáculo ao santo espírito de Maria, se as seguíssemos, embora nos parecessem boas”7;
2º – Entregar-nos ao espírito de Maria para ser movidos e conduzidos do modo que Ela quiser. Temos que nos colocar e nos abandonar nas suas mãos virginais, como um instrumento nas mãos do artista, como uma cítara nas mãos de um bom músico. Para tanto, podemos dizer a Nossa Senhora: “Renuncio a mim mesmo e dou-me a Vós, ó minha querida mãe!”8;
3º – “Renovar este mesmo ato de oferecimento e de união, de tempos a tempos, durante a ação ou depois dela”9. Quanto mais o repetimos esse ato, mais depressa a nossa alma se santificará e mais depressa chegaremos à união com Jesus Cristo, pois esta segue-se sempre à união com Maria, visto que o espírito de Maria é o espírito de Jesus.
Fazer todas as boas obras “com” Maria
Nós consagrados, devemos fazer todas as ações com Maria. No entanto, para que isso aconteça, nesta fase em que somos privados dos sentidos, é necessário crer que a Virgem Mãe de Deus está sempre presente em nossas vidas. Nessa certeza, devemos voltar o nosso olhar para ela, em todas as nossas ações, como o modelo acabado de toda a virtude e perfeição. Pois, Nossa Senhora “é o modelo formado pelo Espírito Santo numa simples criatura, para nós o imitarmos, na medida das nossas limitadas forças”10. Em nossas ações, devemos considerar o modo como Maria faria se estivesse no nosso lugar. Para tanto, examinemos e meditemos algumas das grandes virtudes que a Mãe da Igreja praticou durante a vida:
1ª – A sua Fé viva, pela qual a Virgem de Nazaré acreditou, sem hesitar, no anúncio do Anjo11. Fé que Maria manteve fielmente, constantemente, até mesmo na mais completa noite escura, no momento derradeiro de seu Filho, aos pés da Cruz12;
2ª – “A sua Humildade profunda, que a fez esconder-se, calar-se, submeter-se a tudo e pôr-se no último lugar”13;
3ª – A sua Pureza toda divina, que não houve nem jamais haverá igual sob o Céu.
Além destas, devemos também examinar e meditar a respeito das demais virtudes de Maria, particularmente, a sua obediência cega, a sua contínua oração, a sua mortificação universal, a sua ardente caridade, a sua paciência heroica, a sua doçura angélica e a sua sabedoria divina14. Lembremo-nos que a Virgem Maria é a grande e a única Fôrma de Deus, própria para formar imagens de Deus, facilmente e em pouco tempo15. Se entrarmos nesta Fôrma e nela nos perdermos, em breve nos transformaremos em Jesus Cristo16.
Fazer todos os atos “em” Maria
Precisamos fazer todas as nossas ações em Maria. Entretanto, para bem compreender esta prática, é necessário saber que a Santíssima Virgem, a Nova Eva, é o verdadeiro Paraíso Terrestre do Novo Adão, e que o antigo paraíso não era mais que a sua imagem. “Pois há neste Paraíso Terrestre riquezas, belezas, raridades e doçuras inexplicáveis, que o Novo Adão, Jesus Cristo, aí deixou”17. Este Lugar Santo é composto de uma terra virgem e imaculada, da qual foi formado e se alimentou o Novo Adão, sem qualquer nódoa ou mancha, pela ação do Espírito Santo que aí habita. Os Santos Padres, iluminados pelo Espírito de Deus, chamam a Santíssima Virgem Maria de:
1º – Porta Oriental, por onde o grande sacerdote Jesus Cristo entra e sai do mundo18. Por Maria, o Filho de Deus entrou pela primeira vez no mundo e por ela também será a Sua segunda vinda;
2º – “Santuário da Divindade, o Repouso da Trindade Santíssima, o Trono de Deus, a Cidade de Deus, o Altar de Deus, o Templo de Deus, o Mundo de Deus”19.
Para fazer as nossas ações “em” Maria, precisamos entrar nesse Santuário do Altíssimo, que é a própria Virgem. Todavia, “é difícil a pecadores como nós obter permissão e ter capacidade e luz para entrar neste lugar. Pois é tão alto e tão santo que é guardado, não por um querubim, como o antigo Paraíso Terrestre20, mas pelo próprio Espírito Santo, que se tornou seu Senhor absoluto”21. Somente por uma graça particular do Espírito Santo, graça que devemos alcançar pela perseverança, poderemos entrar neste Templo Santo.
Fazer tudo “para” Maria
Nós consagrados, devemos fazer todas as ações para Maria. Pois, se nos entregamos totalmente ao seu serviço, é justo que façamos tudo para Ela, como um criado, um servo, um escravo22. No entanto, não entregamos todas as nossas boas para a Mãe de Deus como fim último, pois este é Jesus Cristo. Tomamos a Santíssima Virgem como fim próximo, como meio misterioso e fácil para ir ao seu Divino Filho.
Fazer tudo para Maria significa também que, como bons servos e escravos de Nossa Senhora, apoiados na sua proteção, precisamos defender os seus privilégios, quando são disputados, e sustentar a sua glória, quando a atacam. Precisamos “atrair todo o mundo, se for possível, ao seu serviço, e a esta Verdadeira e Sólida Devoção”23. Devemos falar e clamar contra os que abusam da devoção a Mãe de Deus para ultrajar o Filho do Altíssimo e, ao mesmo tempo, estabelecer a consagração a Jesus por Maria. Por fim, como recompensa destes pequenos serviços, devemos “pretender apenas a honra de pertencer a tão amável Princesa, a felicidade de sermos por Ela unidos a Jesus, seu Filho, com um laço indissolúvel, no tempo e na eternidade”24.
Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre “A Mãe do Salvador e a Nossa Vida Interior”:
II – As práticas exteriores da consagração a Jesus em Maria
As práticas exteriores da consagração a Jesus Cristo pelas mãos da Virgem Maria, ensinadas por São Luís Maria, são as seguintes:
1ª – A preparação para a consagração25. Além dessa preparação inicial, pelo menos uma vez por ano, devemos renovar a consagração, na mesma data na qual nos consagramos, com as mesmas práticas das três semanas. Mas, podemos até mesmo renovar tudo o que fizemos todos os meses, e mesmo todos os dias, com estas breves palavras: “Eu sou todo Vosso e tudo o que tenho Vos pertence, ó meu amável Jesus, por Maria, Vossa Santa Mãe!”26.
2ª – A “Coroinha da Santíssima Virgem”, que não é obrigatória, mas recomenda por São Luís Maria. A Coroinha é composta de três Pai-Nossos e doze Ave-Marias, que são rezados em honra dos doze privilégios e grandezas da Santíssima Virgem27.
3ª – O uso das correntes ou cadeiazinhas. São Luís Maria afirma nos explica que é muito louvável, muito glorioso e útil para nós, que nos fizemos escravos de Jesus em Maria, que usemos correntes de ferro. Estas serão um sinal sacramental da nossa escravidão de amor, por isso devem ser abençoadas com uma bênção própria. Lembramos que estes sinais exteriores não são essenciais nem tampouco obrigatórios28, mas são muito recomendáveis, pois além da sua eficácia sobrenatural, o uso das correntes tem grande valor diante de Jesus e de Maria29.
4ª – O culto especial ao Mistério da Encarnação. Devemos ter uma especial devoção ao grande mistério da Encarnação do Verbo, que é celebrado no dia 25 de março. Pois, este “é o mistério próprio desta Devoção, visto que ela foi inspirada pelo Espírito Santo”30. O principal mistério que celebramos e honramos na consagração é o mistério da Encarnação, no qual podemos ver Jesus em Maria, encarnado em seu seio. Por isso, é muito conveniente dizer que somos consagrados a Jesus em Maria31.
5ª – A grande devoção que devemos ter pela Ave-Maria e pelo Santo Rosário. Devemos rezar com muita devoção a Ave-Maria. Pois, “tendo a salvação do mundo começado pela Ave-Maria, a salvação de cada alma em particular está ligada a esta oração”32. Além disso, São Luís Maria pede que não nos contentemos em rezar a Coroinha de Nossa Senhora, mas que rezemos o Terço diariamente e, se tivermos tempo, o Rosário cotidiano. “Se o fizeres, bendirás na hora da morte o dia e o momento em que me acreditaste”33, profetiza o Santo.
6ª – A oração do Magnificat, que “é a única oração e a única composição da Santíssima Virgem, ou, antes, que Jesus compôs n’Ela, pois Ele falava pela sua boca. Este é o maior sacrifício de louvor que Deus recebeu na lei da graça. Por um lado, é o mais humilde e reconhecido, por outro, o mais sublime e elevado de todos os cânticos. Há nele mistérios tão grandes e escondidos que os anjos os ignoram”34. Em virtude da beleza, das grandezas e dos mistérios contidos nesta oração, devemos rezar muitas vezes o Magnificat, em agradecimento a Deus pelas incontáveis graças concedidas à Santíssima Virgem.
7ª – O desprezo e o desapego do mundo. Devemos desprezar, odiar e fugir muito do mundo corrupto. “Para combater o espírito do mundo, devemos avivar a nossa fé no amor de Deus e acreditar que a verdadeira felicidade está com Ele nos Reino dos Céus. Para tanto, meditemos seriamente sobre o vazio das máximas e modas do mundo e a respeito da morte e do nosso fim último, que pode ser o Céu, o Inferno, ou o Purgatório. Meditar sobre essas realidades últimas pode ser de grande valia para nos esvaziar do espírito mundano”35. A vida sacramental, especialmente na participação da Eucaristia, também será de grande auxílio para desprezar o mundo e nos desapegar dele. Podemos suplicar a Nossa Senhora que nos empreste o seu Coração de Mãe, para nele receber seu Filho nas espécies consagradas, com as suas disposições36, e não as nossas, que muito provavelmente estão contaminadas com o espírito mundano. A oração também nos ajudará a nos esvaziar do espírito do mundo, especialmente o Santo Rosário, a principal arma espiritual da consagração. Enfim, outros auxílios de extraordinária eficácia são as penitências, as mortificações, os jejuns e os sacrifícios.
Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre “As provações”:
A devoção a Maria como auxílio para amar Jesus
Assim, com a distinção que São Luís Maria faz entre práticas interiores e exteriores, compreendemos que a atitude interior é fundamental em nossas orações e boas obras. Entretanto, na realidade, as práticas interiores estão sempre ligadas às exteriores e vice-versa. Esta separação entre práticas interiores e exteriores é justamente para que façamos bem todas as nossas orações e boas obras, ou seja, “por Maria, com Maria, em Maria e para Maria”37. Dessa forma, fazer todas as ações “por” Maria significa deixar-nos conduzir pela Mãe de Deus; fazer tudo “com” Maria é perguntar-nos sempre: como esta boa Mãe faria em nosso lugar?; fazer todas as coisas “em” Maria é estar sempre nesse o Templo Sagrado, onde encontramos Deus; e fazer tudo “para” Maria”38 significa que entregamos tudo nas mãos da Mãe de Deus para que nossa oferta seja agradável a Jesus Cristo. Como consagrados, devemos fazer tudo para Maria, que tudo entrega a seu Filho Jesus Cristo, que é o centro de nossa devoção, o fim último de nossas vidas e de todas as nossas boas obras39. Em outras palavras, fazer todas as nossas ações “por Maria, com Maria, em Maria e para Maria”40 significa fazer tudo por amor a Jesus. Dessa forma, a Santíssima Virgem é o auxílio necessário para que amemos Jesus Cristo de todo o nosso coração, de toda a nossa alma, de todo o nosso espírito, e com todas as nossas forças, e ao próximo como a nós mesmos41.
Natalino Ueda, escravo de Jesu em Maria.
Links relacionados:
PADRE PAULO RICARDO. O Santo Rosário.
PADRE PAULO RICARDO. Quem não avança, recua.
TODO DE MARIA. As correntes e a consagração a Nossa Senhora.
TODO DE MARIA. As práticas interiores e exteriores.
TODO DE MARIA. A consagração a Maria e a comunhão.
TODO DE MARIA. Como viver a consagração a Maria?.
Referências:
1 TVD 119.
2 Cf. idem, 106
3 Idem, 257.
4 PADRE JÚLIO MARIA DE LOMBAERDE. O Segredo da Verdadeira Devoção para com a Santíssima Virgem, p. 138.
5 TVD 257.
6 Idem, 258.
7 Idem, 259.
8 Idem, ibidem.
9 Idem, ibidem.
10 Idem, 260.
11 Cf. Lc 1, 26-38.
12 Cf. Jo 19, 25.
13 TVD 260.
14 Idem, 108.
15 Cf. idem, 218-221. Santo Agostinho chama a Santíssima Virgem Maria de “Fôrma de Deus”, Fôrma própria para formar e moldar deuses: “Sois digna de ser chamada Fôrma de Deus”.
16 Idem, 260.
17 Idem, 261.
18 Cf. Ez 44, 2-3
19 TVD 262.
20 Cf. Gn 3, 24.
21 TVD 263.
22 Cf. idem, 265.
23 Idem, ibidem.
24 Idem, ibidem.
25 Cf. idem, 227-232.
26 Idem, 233.
27 Cf. idem, 234.
28 Cf. idem, 236.
29 Cf. idem, 237-242.
30 Idem, 243.
31 Cf. idem, 246.
32 Cf. idem, 249.
33 Cf. idem, 254.
34 Cf. idem, 255.
35 TODO DE MARIA. O começo da preparação para a consagração.
36 TVD 266.
37 Idem, 257.
38 Idem, ibidem.
39 Cf. idem, 68.
40 Idem, 257.
41 Cf. Mc 12, 30-31.