Como confessar bem para fazer a consagração?

Saiba como fazer uma boa confissão em preparação para a consagração a Jesus Cristo pelas mãos da Virgem Maria.

A confissão é uma das exigências mais importantes da preparação para a consagração, ou escravidão de amor, a Jesus Cristo e a Virgem Maria. São Luís Maria Grignion de Montfort, no seu clássico livro de espiritualidade mariana chamado “Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem”, nos fala dessa necessidade: “Ao fim destas três semanas, confessar-se-ão e comungarão na intenção de se darem a Jesus Cristo, na condição de escravos por amor, pelas mãos de Maria1. Notemos que a confissão e a comunhão devem ser feitas na intenção da consagração a Jesus por Maria.Saiba como fazer uma boa confissão em preparação para a consagração a Jesus Cristo pelas mãos da Virgem Maria.

A confissão é uma espécie de coroamento da preparação para a consagração. Nela, certamente colheremos os frutos plantados na oração durante os dias de preparação. O desapego do espírito do mundo e o conhecimento de nós mesmos, de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem, que pedimos durante esse tempo, nos ajudarão a preparar o nosso espírito para a confissão. No entanto, para fazer uma boa confissão, também é necessário fazer um bom exame de consciência, nos arrepender dos nossos pecados e fazer o propósito de não mais os cometer e cumprir a penitência dada pelo confessor. Talvez seja até mesmo oportuno e frutuoso fazer uma confissão geral, para melhor nos preparar para a consagração e para receber o Senhor, a quem nós vamos nos consagrar pelas mãos de Maria.

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O exame de consciência e o arrependimento

O Papa Francisco recomenda que todos tenhamos “um coração contrito”, onde se sabemos “o que acontece”. Para tanto, explica que é um dever fazermos o exame de consciência diário, uma “prática tão antiga da Igreja mas boa”2. Este é o ideal, mas nós, fazemos todas as noites exame de consciência? “Quem de nós, de noite, antes de acabar o dia, permanece sozinho, sozinha, e pergunta: o que aconteceu hoje no meu coração? O que aconteceu? Que coisas passaram pelo meu coração? Se não fizermos isto, realmente não sabemos vigiar bem, nem proteger bem”3. E, se não vigiamos, “os maus pensamentos, as más intenções, os ciúmes, a inveja” entram em nosso coração sem que percebamos, tornando-nos “uma praça, onde todos vêm e vão, sem intimidade” onde “o Senhor não pode falar nem mesmo ser escutado”4.

Se o exame de consciência é importante todos os dias, é muito mais para receber o sacramento da Penitência, mais conhecido como Confissão. Pois, para receber validamente o Sacramento, é necessário saber quais são os nossos pecados e quantas vezes os cometi. Por exemplo: desde a última confissão, faltei a Santa Missa duas vezes, levantei falso testemunho uma vez… Pode ser que não nos lembremos de todos os nossos pecados tão detalhadamente, mas o quanto possível devemos dizer o pecado e o número de vezes que o cometemos. Todavia, um exame de consciência benfeito não pode parar neste ponto. Além de conhecer, é necessário nos arrepender dos nossos pecados, seja depois do exame de consciência diário ou de preparação para a confissão.

O arrependimento verdadeiro, também chamado de contrição, consiste “numa dor da alma e detestação do pecado cometido, com a resolução de não mais pecar no futuro”5. Aqui vale à pena ressaltar que a decisão firme de não mais cometer os pecados que vamos confessar faz parte essencial do arrependimento, sem a qual a confissão é inválida, quando não é sacrílega. Esta contrição pode aconteceu de duas formas:

Quando procedente do amor de Deus, amado sobre todas as coisas, a contrição é dita “perfeita” (contrição de caridade). Uma tal contrição perdoa as faltas veniais: obtém igualmente o perdão dos pecados mortais, se incluir o propósito firme de recorrer, logo que possível, à confissão sacramental6.

A contrição chamada “imperfeita” (ou “atrição”) também é um dom de Deus, um impulso do Espírito Santo. Nasce da consideração do peso do pecado ou do temor da condenação eterna e de outras penas que ameaçam o pecador (contrição por temor). Este abalo da consciência pode ser o início de uma evolução interior que será concluída sob a ação da graça, pela absolvição sacramental. Por si mesma, porém, a contrição imperfeita não obtém o perdão dos pecados graves, mas predispõe a obtê-lo no sacramento da penitência7.

A confissão dos pecados e a satisfação

Depois de diligente exame de consciência e do arrependimento dos nossos pecados, podemos nos aproximar com confiança do sacramento da Penitência. A confissão pessoal e verbal ao Sacerdote é uma parte essencial do Sacramento: devemos enumerar todos os pecados mortais de que temos consciência, mesmo que esses pecados sejam secretíssimos e tenham sido cometidos apenas contra os dois últimos preceitos do Decálogo8 (cf. Ex 20, 17; Mt 5, 28); porque, por vezes, “estes pecados ferem mais gravemente a alma e são mais perigosos que os cometidos à vista de todos”9.

A confissão das faltas quotidianas, também conhecidas como pecados veniais, não é estritamente necessária. Entretanto, a Igreja recomenda vivamente esta prática. Pois, a confissão regular dos nossos pecados veniais ajuda a formar a nossa consciência, a lutar contra as más inclinações, a deixarmo-nos curar por Cristo, a progredir na vida no Espírito. Dessa forma, recebemos no sacramento da Confissão, com maior frequência, o dom da misericórdia do Pai e somos levados a ser misericordiosos como Ele10.

A absolvição sacramental perdoa as culpas pelos pecados, mas permanecem as penas, que são desordens causadas pelo pecado. Por isso, para recuperar a perfeita saúde espiritual, devemos reparar os nossos pecados através da satisfação. A esta também chamamos de penitência. Depois da absolvição, o confessor impõe uma penitência, que deve ter em conta a nossa situação pessoal e servir para o nosso bem espiritual.

A penitência deve corresponder à gravidade e à natureza dos pecados cometidos: “Pode consistir na oração, num donativo, nas obras de misericórdia, no serviço do próximo, em privações voluntárias, sacrifícios e, sobretudo, na aceitação paciente da cruz que temos de levar”11. Essas penitências ajudam a nos configurar com Cristo, que expiou os nossos pecados uma vez por todas (cf. Rm 3, 25: 1 Jo 2, 1-2). Estas também fazem que nos tornemos coerdeiros de Cristo ressuscitado, uma vez que também sofremos com Ele (cf. Rm 8, 17).

Esta penitência, ou satisfação, que realizamos pelos nossos pecados, não é possível senão por Jesus Cristo. Pois, Deus tem uma dignidade infinita, o que torna irreparável a nós a menor ofensa que cometemos contra Ele. Por nós mesmos, nada podemos, mas com a ajuda d’Aquele que nos conforta, tudo podemos (cf. Fl 4, 13). Dessa forma, não temos nada do que nos gloriar. Toda a nossa “glória” está em Cristo, em quem nós satisfazemos as penas devidas pelos nossos pecados. Em Jesus, produzimos dignos frutos de penitência (cf. Lc 3, 8), que sorvem d’Ele toda a sua força, “por Ele são oferecidos ao Pai, e graças a Ele são aceites pelo Pai”12.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo com o tema “Como fazer uma boa confissão”:

A confissão geral e a consagração

Depois de fazer um sincero e diligente exame de consciência, as pessoas que quiserem, podem fazer uma confissão geral. Recomendamos esta prática para as pessoas que desejam consagrar-se a Santíssima Virgem, especialmente se confessamos mal anteriormente, ou ainda se nossas confissões foram sacrílegas13 ou nulas14. No entanto, não recomendamos a confissão geral às pessoas escrupulosas15.

A confissão geral consiste em contar de novo todos os pecados mortais que já cometemos. Esta prática, quase que esquecida na atualidade, era vivamente recomendada por grandes santos – como Santo Inácio, São Carlos Borromeu, São Francisco de Sales, Santo Tomás de Aquino – os mais célebres pela prática e pela doutrina. Outro que recomendava a confissão geral é Santo Afonso Maria de Ligório, que em seu livro “Preparação para a morte”, nos ajuda a fazer nosso exame de consciência:

Já que é certo, meu irmão, que tens de morrer, prostra-te aos pés do Crucifixo; agradece-lhe o tempo que sua misericórdia te concede para regular tua consciência, e passa em revista a seguir todas as desordens de tua vida passada, especialmente as de tua mocidade. Considera os mandamentos divinos: recorda os cargos e ocupações que tiveste, as amizades que cultivastes; anota tuas faltas e faze — se ainda a não fizeste — uma confissão geral de toda a tua vida… Oh! quanto contribui a confissão geral para pôr em boa ordem a vida de um cristão16.

No mesmo livro, Santo Afonso conta o caso de seminaristas que, ao ouvir apenas duas palavras do demônio em um exorcismo, fizeram a confissão geral e se converteram:

Lê-se no Exercícios Espirituais, do Pe. Segneri, publicados por Muratori, que, em Roma, se interrogou a um demônio (na pessoa de um possesso), quanto tempo devia ficar no inferno… Respondeu com raiva e desespero: Sempre, sempre!… Foi tal o terror que se apoderou dos circunstantes, que muitos jovens do Seminário Romano, ali presentes, fizeram confissão geral, e sinceramente mudaram de vida, consternados por esse breve sermão de duas palavras apenas…17

As últimas recomendações sobre a confissão e a vivência da consagração

Assim, compreendemos que uma confissão bem-feita não somente nos prepara adequadamente para fazer a consagração Jesus Cristo pelas mãos maternas da Virgem Maria, mas também para a vivência desta devoção e para uma boa morte. Nesse sentido, o arrependimento pelos nossos pecados e o propósito de não mais voltar a cometer esses mesmos pecados faz toda a diferença, especialmente na vivência da consagração. Muitos de nós podem até pensar que fazer esse propósito é ilusão, pois certamente voltaremos a pecar. Realmente, para nós isto não é possível, mas para Deus nada é impossível (cf. Mc 10, 27).

A confissão geral pode ser feita antes da consagração e depois repetida todos os anos, por ocasião da renovação da consagração, mas esta é apenas uma recomendação. Não é obrigatório fazê-la na consagração, tampouco na renovação. No entanto, a confissão geral é uma prática muito salutar, especialmente para aquelas pessoas que desejam trilhar um caminho de crescimento espiritual. Outra prática importante para aquelas pessoas que desejam a santificação é a confissão frequente dos pecados veniais.

Por fim, recordemos que a confissão e a comunhão, como nos ensina São Luís, deve ser feita na intenção de nos consagrar a Jesus Cristo e a Virgem Maria. Confissão e Eucaristia são dois sacramentos de suma importância, não somente na preparação para a consagração, mas também na vivência desta santa devoção. Nossa Senhora de Fátima, rogai por nós!

Afetos e súplicas de Santo Afonso Maria de Ligório

Quanto vos agradeço, Senhor, as luzes que me dais!… Não obstante ter eu tantas vezes vos abandonado e me afastado de vós, não me abandonastes. Se o tivésseis feito, cego estaria eu, como quis sê-lo na vida passada; encontrar-me-ia obstinado em minhas culpas, e não teria vontade nem de renunciar a elas nem de vos amar. Sinto agora dor grandíssima de vos ter ofendido, vivo desejo de estar na vossa graça, e profundo aborrecimento daqueles malditos prazeres que me fizeram perder vossa amizade. Todos estes afetos são graças que de vós procedem e que me induzem a esperar que queirais me perdoar e me salvar… É, pois, a vós, Senhor, que, apesar de meus muitos pecados, não me abandonais e desejais minha salvação, que me entrego inteiramente; aflige-me de todo o coração o ter-vos ofendido, e proponho querer antes perder mil vezes a vida do que vossa graça… Amo-vos, Soberano Bem; amo-vos, meu Jesus, que por mim morrestes, e espero por vosso preciosíssimo sangue que jamais tornarei a afastar-me de vós.

Não, meu Jesus, não quero perder-vos outra vez, mas sim amar-vos eternamente. Conservai sempre e aumentai meu amor para convosco, o que vos suplico pelos vossos próprios merecimentos…

Maria, minha esperança, rogai por mim a Jesus!18

Natalino Ueda, escravo inútil de Jesus por Maria.

Links relacionados:

 TODO DE MARIA. A consagração a Maria e a comunhão.

TODO DE MARIA.  A consagração e o mistério da Encarnação.

TODO DE MARIA. As práticas da consagração a Nossa Senhora.

Referências e notas:

1 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, 231.

3 Idem.

4 Idem.

5 PAPA JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, 1451. Cf. Concílio de Trento, Sess. 14ª, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 4: DS 1676.

6 Idem, 1452. Cf. Concílio de Trento, Sess. 14ª, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 4: DS 1677.

7 Idem, 1453 (cf. Concílio de Trento, Sess. 14ª. Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 4: DS 1678: ID., Sess. 14ª, Canones de sacramento Paenitentiae, can. 5: DS 1705.

8 O 9º mandamento da lei de Deus é “não desejar a mulher do próximo” e o 10º mandamento é “não cobiçar as coisas alheias”.

9 PAPA JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, 1456. Concílio de Trento, Sess. 14ª, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 5: DS 1680.

10 Idem, 1458.

11 Idem, 1460.

12 Idem, ibidem. Concílio de Trento, 14ª, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 8: DS 1691.

13 As confissões são sacrílegas quando deixamos de confessar os pecados graves, sabendo que tínhamos a obrigação de dizê-los ao confessor. As confissões são sacrílegas também quando, com conhecimento de causa, não estávamos arrependidos e/ou não fizemos o propósito de não mais cometer aquele pecado.

14 As confissões são nulas, ou seja, não são válidas, quando nos confessamos, acusamos todos os nossos pecados, mas não sabíamos que deveríamos estar arrependidos e fazer o propósito de não mais cometer os pecados confessados.

15 Pessoas escrupulosas são aquelas que sofrem de medo, inquietação, remorso, e tem a tendência a se acharem mais culpados do que na verdade são e de se atormentarem por sentimento de culpa.

16 SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Preparação para a morte: Considerações sobre as verdades eternas, p. 104-105.

17 Idem, p. 290.

18 Idem, p. 106-107.

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