Meditemos sobre a alegria da Santíssima Virgem Maria, que nasce da ressurreição de seu Filho Jesus Cristo, e a sua maternidade espiritual sobre a Igreja.
“Levanta-te e resplandece, Jerusalém, que esta a chegar a tua luz! A glória do Senhor amanhece sobre ti! Quando vires isto, ficarás radiante de alegria; o teu coração palpitará e se dilatará” (Is 60, 1.5).
Ontem contemplávamos a Jesus Ressuscitado, e de algum modo perdíamo-nos na sua luz e na alegria dos seus apóstolos que recuperavam a esperança ao ver o seu Mestre ressuscitado. Hoje é bom que nos detenhamos uns instantes na alegria da Virgem Santíssima. Ela é nossa mãe, e nós queremos conhecer os ecos do seu espírito. Queremos saber o que acontece no seu coração.
Iremos alegres procurá-la na sua solidão, para a contemplar precisamente aí. Maria não se põe em primeiro plano, está sempre na penumbra, quase se tem que fazer um esforço para encontrá-la, para conhecê-la; mas sentimos a necessidade de o fazer.
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Nossa Senhora e a alegria da Ressurreição
Pensemos, durante uns momentos, na Virgem Santíssima no dia da Ressurreição. Cremos sinceramente que Nosso Senhor apareceu a sua Mãe; o seu Filho ressuscitado quis que ela participasse da sua alegria e do seu triunfo. Na tarde de Sexta-Feira Santa e durante todo o dia de Sábado Santo, deixamo-la mergulhada numa dor que mal podemos imaginar. Permanecia nobre e serena. Víamo-la grande na sua dor, grande sobretudo diante da palavra substancial de Jesus que no Calvário tinha consagrado a sua maternidade (cf. Jo 19, 27), maternidade divina tornada maternidade de graça do Corpo místico de Cristo e de toda a humanidade redimida.
Grande, sim, mas quão cheia de dor! Assim procurávamos compreendê-la.
Nesse sofrimento, nesse mar de dores que procurava sepultá-la nas suas ondas amargas, descobríamos uma chama: uma luzinha de esperança, mas de uma esperança firme e grande, que dava alento a Virgem e animava já, nela, o Corpo místico de Cristo. Junto da cruz, junto a Jesus morto e sepultado, Maria era a única esperança, uma esperança viva, uma esperança que se cimentava [firmava] na fecundidade de uma mãe sempre viva.
E hoje Jesus ressuscitou e apareceu-lhe. Que alegria para ela…! No dia da Visitação, a Virgem cantava: “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador” (Lc 1, 46.47). Que júbilo no dia da Ressurreição! Exultação da sua alma e da sua esperança que agora alcança, por fim, o seu objetivo; exultação e todo o seu ser. Sim, eram verdadeiras as palavras do Anjo na Anunciação (cf. Lc 1, 26-38). Aquele filho que ela tinha gerado era verdadeiramente o Filho de Deus, era realmente o Messias. Tinham-no feito morrer porque era preciso que passasse pelo sofrimento e pela morte. Mas agora estava vivo, tinha ressuscitado. E era, sem dúvida alguma, o Rei que lhe tinham prometido; era realmente o Homem-Deus, de uma altura humana incomparável, à qual se juntava toda a sua altura divina transcendente.
Maria Santíssima e a alegria do Espírito Santo
E a Virgem Maria estremece de alegria e estremece também de esperança. São João da Cruz fala das aspirações do Verbo na alma: “acordas no meu seio”, escreve o Santo[1]. Esta é uma dessas aspirações do Verbo, que parece adormecido e que, sob a chama e o sopro do Espírito Santo, desperta na alma. O Espírito canta-se a si mesmo, ele mesmo exulta de alegria, e faz que estremeçam de alegria não só a alma espiritual e a graça, mas também o corpo. Isto é o que acontece quando a fonte desta alegria é espiritual: estende-se até aos últimos cantos do ser e da pessoa. E, no caso de Maria, não foi só uma irradiação no seu corpo e na sua carne, mas a sua mesma carne estremecia de alegria à vista, ao contato, no abraço – poderíamos dizer – com a carne e o corpo do Homem-Deus, o seu Filho ressuscitado.
Assim teve que ser a alegria da Virgem Santíssima, o seu estremecimento, festa do Espírito Santo em todo o seu ser, com uma pureza, uma serenidade exterior e uma beleza do mais além.
E a tudo isso juntava-se uma esperança, ou melhor dito, uma realidade: a sua maternidade espiritual, que entrava já em ação. De Cristo ressuscitado manava a vida; d’Ele brotavam em torrentes e com incomparável forca a luz e a vida. Essa vida que continuará a brotar até que Cristo tenha consumado a edificação plena do seu Corpo místico.
A ressurreição e a maternidade espiritual de Maria
“Ele é a pedra”(cf. 1 Cor 10, 4), a fonte de água viva (cf. Jo 4, 10). E esse Cristo, expandido e dilatado, continuará a crescer até alcançar a estatura querida por Deus desde toda a eternidade. Antes da sua morte, Jesus tinha feito esta petição: “Pai, glorifica-me com a glória que eu tinha no teu seio antes que o mundo existisse, faz-me como Tu me viste” (Jo 17, 5). O pensamento do Pai e o seu desígnio eterno começam a ser realidade. E a Virgem Maria percebia já tudo isso, sentia o poder dessa vida, a sua força redentora e a sua eficácia unificadora.
Ao ver essa torrente de vida que brotava de toda a humanidade de nosso Senhor, Maria sentia-se ao mesmo tempo profundamente associada a essa fecundidade. Também para isso a Santíssima Trindade tinha necessidade de uma mãe. Maria já tinha sido mãe: no dia da Anunciação, tinha-se convertido na mãe de Deus para que nascesse o Homem-Deus, para que tivesse lugar a união hipostática[2]. E agora sentia-se mãe mais do que nunca. A sua maternidade estender-se-ia já ao Corpo místico de Cristo, à Igreja que ia ser edificada.
Essa maternidade que nela se abria à medida da Igreja, Maria sentia-a em potência e em ação. E, desse modo, ela mesma se sentia crescer à medida do pensamento de Deus.
Saudemos esta maternidade espiritual da Santíssima Virgem, saudemos a Mãe da Vida, saudemos a Nossa Senhora da Vida. Contemplemo-la em toda a sua fecundidade, na sua imaculada formosura, na sua pureza; mas, ao mesmo tempo, na sua maternidade. A ela, a Nossa Senhora da Vida, à Virgem Santíssima na sua maternidade espiritual, subam hoje as nossas orações, o nosso louvor filial e o nosso amor…
E pedi à Virgem Santíssima, a Nossa Senhora da Vida, que seja para cada um de vós Mãe de Vida, e o seja em plenitude, e a sua fecundidade se realize em toda a sua totalidade, à medida não só dos nossos desejos, mas dos desígnios de Deus.
Fonte: PADRE MARIA EUGÊNIO. Contemplação do Mistério Pascal de Jesus, pp. 59-62.
Links relacionados:
PADRE PAULO RICARDO. A alegria da fé.
TODO DE MARIA. Maria, esperança na noite escura.
TODO DE MARIA. Uma Páscoa com Maria.
Referência e nota :
[1] Cf. Chama de Amor Viva, estrofe 4.
[2] Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. O Filho de Deus, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, assumiu a natureza humana conservando a sua natureza divina. Para exprimir este mistério, a teologia usa o termo “união hipostática”, quer dizer, união na Pessoa (em grego: hipostase). Essa união, que tem lugar na Encarnação, é já indissolúvel, isto é, permanente e definitiva.