Fomos resgatados pelo preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo: “Redemisti nos Deo in sanguine tuo… et fecisti nos Deo nostro regnum — Remiste-nos para Deus com o teu sangue… e fizeste-nos para nosso Deus reino” (Ap 5, 9).
No dia 1º de Julho, antes da reforma litúrgica pós-conciliar, celebrava-se a festa do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, que foi suprimida, mas pode ser celebrada como Missa votiva. Se no mês de Junho celebramos o Santíssimo Corpo e Sangue do Senhor, na Solenidade de Corpus Christi, é justo que no mês seguinte comemoremos o seu preciosíssimo Sangue. Além disso, esta comemoração é oportuna visto que há um nexo indissolúvel que une as devoções ao Santíssimo Nome de Jesus e ao seu Sacratíssimo Coração, esta também celebrada no mês de Junho, àquela que pretende honrar o Sangue preciosíssimo do Verbo encarnado, “derramado por muitos em remissão dos pecados” (cf. Mt 26,28)[1].
Jesus Cristo podia obter-nos a salvação sem sofrimentos; pois, uma lágrima ou uma oração do Senhor seria o bastante para salvar uma infinidade de mundos. No entanto, a fim de manifestar o seu infinito amor por nós, quis derramar o seu preciosíssimo Sangue até a última gota, no meio das mais atrozes dores. Como é que a humanidade responde a um amor tão grande? Mostremo-nos, ao menos nós, gratos para com esse Coração amabilíssimo e, para reparar as ofensas que lhe tenhamos feito, habituemo-nos a oferecer ao eterno Pai, muitas vezes, o seu Sangue preciosíssimo, preço da nossa Redenção.
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O Sangue de Cristo como manifestação do seu amor
Consideremos o imenso amor que o Filho de Deus manifestou a nós, remindo-nos ao preço de seu divino e precioso Sangue. Certamente que Jesus Cristo podia salvar-nos sem sofrer. Pois, sendo Deus, somente uma lágrima, um suspiro ou uma oração sua tem valor infinito e, consequentemente, seria o suficiente para salvar o mundo e até mil mundos. Mas, o que bastava para a Redenção dos homens, diz São João Crisóstomo, não bastava para evidenciar o amor infinito que Deus tem por nós. Por isso, Jesus Cristo quis fazer-se, ao mesmo tempo, o nosso guia e o nosso mestre, e remir-nos para Deus com o seu Sangue (cf. Ap 5, 9).
Para nos ensinar, pelo seu exemplo, a obediência às ordens do Pai, também a custo de sacrifícios, Jesus Cristo começou a derramar o seu precioso Sangue quando tinha apenas oito dias, sob o cutelo da circuncisão. Além disso, para nos ensinar a domar as nossas paixões rebeldes e, ao mesmo tempo, a nos conformar em tudo com a vontade divina, mesmo com sacrifício da vida, continuou a derramar seu Sangue no horto das Oliveiras, numa agonia mortal, com tanta abundância que corria sobre a terra: “Factus est sudor eius sicut guttae sanguinis decurrentis in terram — Veio-lhe um suor, como de gotas de sangue que corria sobre a terra” (Lc 22, 44). Mais ainda, “para reparar a delicadeza com que tratamos o nosso corpo, e mais ainda as nossas satisfações indignas, os nossos pensamentos de soberba e luxúria, Jesus Cristo quis derramar seu Sangue no pretório de Pilatos sob os golpes de uma cruel flagelação e de uma bárbara coroação de espinhos”[2].
Finalmente, depois de marcar com o seu Sangue o caminho do Calvário, para nos ensinar que o caminho do céu é o dos sofrimentos; depois de o derramar copiosamente pelas mãos e pés, deixando-se crucificar a fim de reparar o abuso da nossa liberdade; vendo, por um lado, que o coração humano é a raiz viciada de todos os males e, por outro, que no seu Coração restavam ainda poucas gotas de seu precioso Sangue, quis derramá-las também, permitindo que o seu lado sacrossanto fosse aberto por uma lança: “Unus militum lancea latus eius aperuit — Um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança” (Jo 19, 34).
Ainda não satisfeito com tudo isso, quis o Senhor, mesmo depois da sua morte e até a consumação dos séculos, no sacramento da Penitência, preparar-nos com o seu Sangue um banho para as nossas almas, e no da Eucaristia, dar-nos o seu Sangue como bebida para refazer as nossas forças. Ó manifestações admiráveis do amor de um Deus para com os homens! Mas, de que modo nós respondemos a tão grande amor?
A devoção ao preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo
Para mostrar a nossa gratidão para com Jesus, e também para desagravá-lo de tantas ofensas que recebe, nutramos uma devoção particular pelo seu preciosíssimo Sangue. Quando meditarmos na Paixão do Senhor, aproximemo-nos a ele em espírito e peçamos-lhe que nos tinja com o seu Sangue divino.
No tribunal do sacramento da Penitência, imaginemos ver na pessoa do Confessor a pessoa do Santíssimo Redentor, que, dando-nos a absolvição, derrama esse Sangue sobre as nossas almas. Na recepção da comunhão ou na celebração da Santa Missa, afiguremos que aproximamos os lábios da chaga sagrada do lado de Jesus. Habituemos principalmente a oferecer, muitas vezes, o Sangue preciosíssimo de Jesus Cristo ao Pai eterno, em reparação pelos nossos pecados, pelas necessidades da santa Igreja, pela conversão dos pecadores e em sufrágio das almas do purgatório.
Oração ao preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo
† Ó Sangue preciosíssimo de vida eterna, pelo e resgate do mundo inteiro, bebida e banho salutar das nossas almas, que continuamente defendeis a causa dos homens junto do trono da suprema misericórdia, eu vos adoro profundamente e quereria, quanto me é possível, compensar-vos das injúrias e dos ultrajes que recebeis constantemente dos homens e principalmente daqueles que levam a audácia até de proferir blasfêmias contra vós. E quem não bendirá este Sangue de um valor infinito? Quem se não sentirá inflamar de amor por Jesus que o derramou? Que seria de mim, se não fosse resgatado por este Sangue divino? Quem o tirou das veias do meu Senhor até a última gota? Ah, que foi, sem dúvida, o amor. Ó amor imenso, que nos destes um bálsamo tão salutar! Ó bálsamo inestimável, brotado da fonte de um amor infinito, fazei que todos os corações e todas as línguas vos louvem, glorifiquem e agradeçam agora e sempre e por toda a eternidade.
“E Vós, ó Pai Eterno, que estabelecestes o vosso Filho unigênito como Redentor do mundo, e quisestes ser aplacado pelo seu sangue, concedei-nos propício que, durante a minha vida terrestre, eu venere solenemente este preço da nossa salvação, e seja por ele livrado de todo o mal da vida presente, de tal modo que eu mereça gozar no céu o seu fruto perpétuo”[3]. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo e de Maria Santíssima[4].
Links relacionados:
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TODO DE MARIA. O Sagrado Coração de Jesus e o mistério do amor.
TODO DE MARIA. Resgatados pelo Preciosíssimo Sangue de Cristo.
Referências:
[1] PAPA SÃO JOÃO XXIII. Carta Apostólica Inde a Primis, 3.
[2] SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Meditações para todos os dias e festas do ano: Tomo II, p. 351.
[3] Or. festi.
[4] SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Op. cit., p. 353-354.