Conheça qual a importância da devoção a Virgem Maria na vocação de Santa Clara de Assis.
Santa Clara de Assis nutria uma profundíssima devoção a Santíssima Virgem Maria. Na noite decisiva para sua nova vida como religiosa, Santa Clara, por ordem de São Francisco, de Assis se dirigiu à capela da Porciúncula. Nesta igreja dedicada a Virgem Maria, também conhecida como Nossa Senhora dos Anjos, que é a igreja mãe da Ordem Franciscana, Clara recebeu das mãos de Francisco o hábito da Ordem, depois de ter seus cabelos cortados. Segundo seu biógrafo, este acontecimento tem grande importância para Santa Clara: “Não convinha que, à véspera dos tempos novos, florescesse em outro lugar, a Ordem da virgindade senão no palácio daquela que primeira de todas e digníssima foi a única mãe e virgem”[1].
A vestição de Clara de Assis no Santuário da Mãe de Deus, mostra o que a Santa deveria significar para o mundo: “que as mulheres imitem Clara, vestígio da Mãe de Deus, nova guia das mulheres”[2]. Esta é uma magnífica síntese da vida de Santa Clara!
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A profunda devoção de Santa Clara a Virgem Maria
São Francisco, o “discípulo do Verbo encarnado”, foi chamado de “outro Cristo” pelo Papa Pio XII, no dia 2 de fevereiro de 1926. Santa Clara, por sua vez, foi designada como “vestígio da Mãe de Deus”. A presença do binômio homem-mulher parece ser a lei de todas as grandes obras de Deus: Adão e Eva; Jesus Cristo e a Virgem Maria; São Francisco e Santa Clara.
Quanto às influências marianas na trajetória de Clara de Assis e de suas irmãs, dizia-se que “seguiam as pegadas de Cristo e de sua santíssima Mãe”[3]. O próprio Francisco de Assis já contemplava a trajetória de Clara e de suas irmãs a partir desta ótica cristocêntrica e mariana. Santa Clara inseriu na regra da Ordem o teor do bilhete que Francisco lhe enviou antes de morrer: “Eu, Frei Francisco pequenino, quero seguir a vida e pobreza de nosso altíssimo Senhor Jesus Cristo e de sua Mãe santíssima e perseverar nela até o fim”. O que vale para si mesmo, Francisco quer que valha para as damianitas ou clarissas: que sigam a Virgem Maria como mulheres!
Santa Clara corresponde completamente ao pedido-desejo de São Francisco. Vemos esta realidade em alguns aspectos da devoção da Santa por Nossa Senhora. Clara coloca a festa da Assunção da Virgem Maria entre os sete dias do ano em que as irmãs devem receber a comunhão, considerando esta festa como das maiores solenidades do ano para a Ordem[4]. A respeito dessa prática devocional, é necessário recordar que naquele tempo a comunhão não era recebida com frequência, como em nossos dias. Clara de Assis invoca a Santíssima Virgem como protetora das clarissas de maneira toda particular, não simplesmente como era o costume cristão da época. Outro sinal desse amor preferencial de Santa Clara por Nossa Senhora é a suspensão do jejum em suas festas, segundo o desejo de São Francisco[5].
Santa Clara venerava a Virgem Santíssima porque tinha plena confiança em seu socorro. A Mãe de Deus cuida efetivamente de cada um de nós! Ela é verdadeira nossa Mãe, ensina-nos a aproximar-nos de Jesus Cristo e torna-nos exemplo luminoso do seguimento a Ele. Imitar a Virgem Maria é o caminho mais seguro para unir-nos a Jesus Cristo. Por isso, não podemos deixar de manifestar a Nossa Senhora o nosso afeto filial.
Clara de Assis e a imitação das virtudes de Nossa Senhora
Que atitude de Maria Santíssima mais chamou a atenção de Clara? Quais os traços de Nossa Senhora ela quer imitar? Certamente a castidade e a virgindade ocupam o primeiro lugar. Esta primazia transparece no Testamento, 75 e, de modo particular, na 3ª. Carta a Inês: “Apega-te à sua dulcíssima Mãe, que gerou tal grande Filho que o próprio céu não pode compreender e, no entanto, ela o carregou no pequeno recinto de seu sagrado ventre o gestou no seio de uma jovem mulher”[6]. O voto de castidade permite que Clara de Assis imite a Santíssima Virgem.
Santa Clara contempla também em Nossa Senhora a pobreza e nela encontra uma razão a mais para o seguimento da via evangélica: “…observemos para sempre a pobreza e a humildade de nosso Senhor Jesus Cristo e de sua santíssima Mãe…”[7]. Clara de Assis, no Testamento, fala do surgimento do grupo de irmãs “que o Senhor Pai gerou em sua santa Igreja, pela palavra e pelo exemplo de nosso beatíssimo Pai Francisco, para seguir a pobreza e a humildade de seu dileto Filho e de sua gloriosa Mãe”[8].
A Virgem de Nazaré se declara “serva” do Senhor (cf. Lc 1, 38). Por isso, a imitação de Nossa Senhora conduz necessariamente à humildade. Este pensamento transparece numa belíssima passagem da 3ª. Carta a Inês:
Assim tu também, seguindo-lhe os passos, sobretudo os passos da humildade e pobreza, podes carregar sempre espiritualmente no teu corpo casto e virginal, sem nenhuma dúvida contendo aquele que te contém a ti e a tudo o mais, possuindo Aquele que em comparação com os bens passageiros deste mundo, possuirás com mais valor[9].
Vale a pena refletir as palavras da exortação que Santa Clara faz nesta terceira carta à Clarissa de Praga:
Eis que, pela graça digníssima de Deus dada às criaturas, consta que a alma do homem fiel é maior do que o céu, visto que o céu e todas as demais criaturas não podem compreender o Criador e somente a alma fiel lhe serve de mansão e morada, e isto só ocorre pela caridade e que os ímpios carecem: no testemunho da própria verdade, que diz, quem me ama será amado por meu Pai e eu o amarei e viremos a ele e faremos nele a nossa morada. Assim, portanto, como a Virgem gloriosa das virgens o fez materialmente, assim também tu, seguindo-lhes os passos, e sobretudo os passos da humildade e pobreza, podes carregar no teu corpo casto….Aquele que te contém a ti e a tudo[10].
O amor de Santa Clara a Virgem Maria
Discípula de São Francisco, Santa Clara tem íntimo amor pela Virgem Maria. Nessa devoção, parece ir até mais longe do que Francisco:
Essa é aquela excelência da altíssima Pobreza que vos constituiu, caríssimas irmãs minhas, herdeiras e rainhas do Reino dos céus e vos fez pobres em coisas e vos sublimou em virtudes. Seja esta a vossa porção que conduz à terra dos viventes. A ela aderindo inteiramente, diletíssimas irmãs, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Mãe santíssima não queirais jamais outra coisa debaixo do céu[11].
Santa Clara se esforçava para ser imagem de Maria Santíssima, que a iluminou também em sua morte. A Mãe de Jesus acompanha o cortejo das santas virgens e lhes aparecem no leito de morte:
…eis que, em brancas vestes, entra uma multidão de virgens, todas com grinalda de ouro na cabeça. Entre elas uma caminhava mais luminosa que as demais, de cuja coroa – que em seu cimo apresentava uma espécie de turíbulo com orifícios – irradiava tanto esplendor dentro da casa que convertia a própria noite em luz do dia. Aproximou-se do pequeno leito em que jazia a Esposa do Filho e inclinando-se sobre ela, dá-lhe um abraço cheio de ternura. É trazido pelas virgens um pálio de maravilhosa beleza e estendendo-o, todos à porfia, o corpo de Clara é coberto e o tálamo adornado[12].
Oração de Santa Clara: “Minha alma, Vossa Morada”
Ó Deus vivo, na Vossa graça fazeis que a alma dos crentes seja maior que o Céu. Porque o Céu e as restantes criaturas a Vós, Criador de todas as coisas, não conseguem compreender. A minha alma, porém, deseja para Vós ser morada e repouso. Assim como a Virgem Maria no seu ventre Vos carregou, assim desejo eu carregar-Vos no meu coração. Desejo ser Vossa morada nos quartos da minha alma e do meu corpo. Desejo seguir os passos da Vossa Mãe, Maria, na entrega, humildade e pobreza. Jesus Cristo, desejo abraçar-Vos, assim como Vós a mim e a todo o mundo abraçais. Vós sois o meu verdadeiro tesouro e nada no mundo é precioso como Vós. Amém[13].
Santa Clara de Assis, rogai por nós!
Fonte: DIA A DIA FRANCISCANO. Santa Clara e a Virgem Maria.
Links relacionados:
CANÇÃO NOVA. A espiritualidade de Santa Clara e o seu amor a Jesus Cristo.
CANÇÃO NOVA. Santa Clara, patrona da televisão.
TODO DE MARIA. O amor de São Francisco a Virgem Maria.
Referências:
[1] LSC 8.
[2] Intr. LSC.
[4] Regra III, 14.
[5] 3 Carta Inês, 36.
[6] Idem, 18-19.
[7] RSC XII, 13.
[8] Testamento, 46.
[9] 3 Carta Inês, 25-27.
[10] Idem, 21-26.
[11] RSC VIII, 4-6.
[12] LSC 46.
[13] CLÉOFAS. Oração de Santa Clara: Minha alma, Vossa Morada. Adaptação de uma oração de Santa Clara de Assis.