A necessidade da devoção a Virgem Maria aos vocacionados a uma perfeição de vida.
São Luís Maria nos ensina que a devoção a Virgem Maria é especialmente necessária àquelas pessoas que são vocacionadas a uma particular perfeição de vida. A devoção a Santíssima Virgem é necessária a todos nós para conseguirmos a salvação. Deus nos criou para a salvação1 e nos chamou para a santidade2. Todos na Igreja, o Santo Padre, os Bispos, os Sacerdotes, os Diáconos, os religiosos e as religiosas, e os demais membros do Povo de Deus, “são chamados à santidade”3, segundo a palavra do Apóstolo dos Gentios: “esta é a vontade de Deus, a vossa santificação”4. Todavia, a devoção a Maria é ainda muito mais necessária àqueles que são chamados a uma perfeição particular de vida5.
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Montfort explica-nos esta necessidade da devoção mariana àqueles que buscam a perfeição: “Não creio mesmo que alguém possa atingir uma íntima união com Deus e uma perfeita fidelidade ao Espírito Santo, sem uma união muito grande com a Santíssima Virgem e sem uma grande dependência do seu patrocínio”6. Maria é necessária porque só ela encontrou graça diante de Deus sem o auxílio de qualquer outra criatura7. “Todos os que acharam graça diante de Deus desde então, só por seu intermédio a acharam, e também só por Ela a encontrarão todos os que ainda hão de vir”8. Por isso, se a exemplo dos santos queremos alcançar a santidade, que é a perfeita configuração a Cristo, não há outro caminho senão a Bem-aventurada Virgem Maria.
A Virgem de Nazaré estava cheia de graça quando foi saudada pelo arcanjo São Gabriel9, e recebeu a plenitude superabundante de graça quando o Espírito Santo a cobriu com a sua sombra inefável10. De tal modo essa dupla plenitude foi aumentando dia a dia, momento a momento, que a sua alma atingiu um grau imenso e inconcebível de graça. Por isso, o Altíssimo fez de Maria a única tesoureira dos Seus tesouros e a única dispensadora das suas graças. Deus a enriqueceu com tesouros de graças para que ela possa enobrecer, elevar e enriquecer a quem lhe aprouver e fazer entrar no caminho estreito do Céu quem Ela quiser. O Senhor deu a Mãe da Igreja a autoridade para fazer passar, apesar de tudo, quem Ela quiser pela porta estreita11 da vida e para dar a quem ela bem entender o trono, o cetro e a coroa de rei. Pois, “Jesus é, em toda a parte e sempre, o fruto e o filho de Maria; e Maria é, por toda a parte, a verdadeira árvore que dá o fruto da vida, e a verdadeira mãe que o produz”12.
Deus confiou só para Maria “as chaves dos celeiros do Divino Amor13 e o poder de entrar nos caminhos mais sublimes e mais secretos da perfeição, bem como de neles fazer entrar os outros”14. Por isso, “só Maria dá aos miseráveis filhos da infiel Eva a entrada no Paraíso Terrestre para aí passearem aprazivelmente com Deus15, para aí se esconderem dos seus inimigos, para aí comerem o alimento delicioso – já sem temer a morte – do fruto das árvores da vida e da ciência do bem e do mal16, e beberem a grandes tragos as celestes águas da bela fonte que aí jorra abundantemente”17. A própria Virgem Maria é esse “Paraíso Terrestre, essa Terra virgem e abençoada de onde Adão e Eva culpados foram expulsos”18, e só acolhe em si aqueles e aquelas que lhe apraz, para os tornar santos.
A devoção, o auxílio e a proteção da Santíssima Virgem é ainda mais necessária aos Sacerdotes, para a sua vida e ministério. Se os Sacerdotes da Antiga Aliança já eram chamados a uma santidade exemplar19, mais ainda devem ser santos aqueles que participam do ministério sacerdotal de Cristo, Sumo Sacerdote da Nova Aliança20. A respeito da dignidade sacerdotal e da consequente exigência da santidade do ministro ordenado, diz São Tomás de Aquino: “pela Ordem sacra, o clérigo é consagrado aos ministérios mais dignos que existem, nos quais ele serve o Cristo no Sacramento do altar, o que exige uma santidade interior muito maior do que a exigida no estado religioso”21. Sendo chamados a uma eminente santidade de vida em vista da dignidade de sua vocação, os Sacerdotes devem, muito mais do que os outros membros do corpo de Cristo, nutrir particular devoção a Imaculada Virgem Maria. Além disso, todo Padre é um dom de Deus para toda a Igreja, por isso temos o dever de zelar pela santidade dos Sacerdotes, de cuidar deles e ajudar para que eles tenham uma vida exemplar. Devemos também rezar pela santificação do clero, confiando os Sacerdotes a Virgem Maria.
Assim, a todos que querem a salvação e especialmente as pessoas que querem alcançar uma particular perfeição de vida, devem nutrir uma ardente devoção a Santíssima Virgem Maria. Por isso, “todos os ricos do povo suplicarão a Vossa face pelos séculos afora”22, principalmente no fim dos tempos. Isto significa que “os maiores santos, as almas mais ricas em graça e em virtudes serão as mais assíduas em orar à Santíssima Virgem e em a ter sempre presente, como o perfeito modelo que desejam imitar e o poderoso auxílio que as pode socorrer”23. Tendo em vista a necessidade da sua devoção para alcançarmos a santidade, nos consagremos de todo coração a Nossa Senhora, para experimentar desde já o “Paraíso Terrestre” e nele alcançar a perfeição e a salvação. Nossa Senhora, Nova Eva, rogai por nós!
Referências:
1 1 Tes 5, 9.
2 1 Pd 1, 15.
4 1 Tes 4, 3; cf. Ef. 1, 4.
5 Cf. SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima
Virgem Maria. Anápolis: Fraternidade Arca de Maria, 2002, 43.
6 Idem, ibidem.
7 Cf. Lc 1, 30.
8 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 44.
9 Cf. Lc 1, 28.
10 Cf. Lc 1, 35.
11 Mt 7, 13; Lc 13, 24.
12 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 44.
13 Cf. Ct 1, 3.
14 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 45.
15 Cf. Gn 3, 8.
16 Cf. Gn 2, 17.
17 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 45.
18 Idem, ibidem.
19 Lv 21, 5-6.
20 Heb 8, 1-13.
21 SANTO TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica, II-II, q.184, a.8., Resp.
22 Sl 44, 13.
23 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 45; explicação de São Bernardo do Salmo 44.