Em seu livro: “A Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados”, a missionária Áurea Maria nos ajuda a compreender o significado da Mensagem de Fátima para a Igreja Católica.
A Mensagem de Fátima, como já afirmei, é um convite à oração e à penitência que nos levam à conversão. É um apelo à reparação pelos nossos pecados e pelos da humanidade. Podemos, então, afirmar que a mensagem trazida por Nossa Senhora possui uma dimensão eclesial, pois a Igreja, como corpo místico de Cristo, possui um caráter reparador permanente.
A oração e a penitência que o Anjo e a Virgem Maria pediram evidenciam esta dimensão eclesial, pois nos unem a Cristo, cabeça da Igreja e oferenda reparadora ao Pai, consumada na Cruz. Seus apelos nos conduzem à vivência dos sacramentos, à prática dos sacramentais e à piedade popular, que são realidades intrínsecas à Santa Igreja Católica. A Mensagem de Fátima, acolhida pelos membros da Igreja, conduz especialmente a uma profunda veneração à Santíssima Virgem, pois, “Maria não é só modelo e figura da Igreja; mas é muito mais do que isso. Com efeito, ela coopera com amor de mãe para a regeneração e formação dos filhos e filhas da mãe Igreja. A maternidade da Igreja realiza-se não só segundo o modelo e a figura da Mãe de Deus, mas também com a sua cooperação”. (RM 44)
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Pouco tempo depois das aparições de Fátima, os bispos e Papas as reconheceram como dignas de crédito; por isso, devem ser acolhidas com gratidão pelos fiéis. Desde o Papa Pio XII, que foi ordenado bispo no dia 13 de maio de 1917, exatamente no dia da primeira aparição de Nossa Senhora em Fátima, até o nosso atual Papa Francisco, vemos o apreço que a Igreja, através dos sucessores de Pedro, tem demonstrado aos apelos urgentes da Santa Mãe de Deus verbalizados para todo o gênero humano em Fátima – Portugal e em Pontevedra e Tuy – Espanha.
Pio XII foi o primeiro Papa a consagrar a Santa Igreja e o mundo ao Imaculado Coração de Maria, no dia 31 de outubro de 1942, procurando corresponder o pedido de Nossa Senhora em Tuy, em 1929.
O Beato Papa Paulo VI, em pleno Concílio Vaticano II, no dia 21 de novembro de 1964, renovou esta consagração ao Imaculado Coração de Maria, sendo ele o primeiro Papa a visitar Fátima, em 13 de maio de 1967, por ocasião dos cinquenta anos das aparições.
O Papa São João Paulo II foi o pontífice que, em seguida, visitou Fátima, em 13 de maio de 1982, para agradecer a Nossa Senhora por lhe ter salvo a vida, após o atentado que sofreu no dia 13 de maio do ano anterior; depois, tornou a visitar Fátima, em 13 de maio de 1991, para agradecer pelas significativas mudanças do leste europeu; e, em 13 de maio de 2000, fez a sua última visita, para beatificar Francisco e Jacinta e para dar a conhecer a terceira parte do segredo.
Sobre o segredo de Fátima, trata-se de um único segredo dividido em três partes: a primeira refere-se à visão do inferno, a segunda à devoção ao Imaculado Coração de Maria e à consagração da Rússia (estas duas partes escritas pela Ir. Lúcia em 1941 foram logo conhecidas), e a terceira diz respeito à perseguição da Igreja por parte de governos ateus e ao martírio de muitos cristãos. Essa parte do segredo foi escrita pela Ir. Lúcia em 1944, guardada primeiramente pelo então bispo de Leiria – Fátima e entregue em 1957 ao Arquivo Secreto do Vaticano, tendo sido, como já foi dito acima, revelada em maio de 2000. No dia 26 de junho daquele mesmo ano, a Congregação para a Doutrina da Fé, através do então Cardeal Joseph Ratzinger, publicou um profundo Comentário Teológico sobre o segredo de Fátima, levando-nos a crer que a mensagem trazida por Maria Santíssima em Fátima ficara totalmente revelada e que esta possui um cunho sempre atual e universal, pois nos convida à oração e à penitência que nos levam à conversão, ou seja, ao coração do Evangelho.
João Paulo II fez a consagração da Igreja e do mundo ao Imaculado Coração de Maria, em 25 de março de 1984, na Praça de São Pedro, em união com os bispos do mundo inteiro, de acordo com o pedido de Nossa Senhora. Como afirmou a Ir. Lúcia, esta consagração ocorreu conforme Nossa Senhora havia pedido em Tuy, por ter sido feita em união com o colégio episcopal: “Sim, está feita tal como Nossa Senhora a pediu, desde o dia 25 de Março de 1984” (Memórias da Ir. Lúcia, p. 122).
O Papa Bento XVI também visitou Fátima, em 13 de maio de 2010, por ocasião dos 93 anos das aparições de Nossa Senhora e para celebrar os dez anos de beatificação de Francisco e Jacinta. Naquela ocasião, ofereceu à Santíssima Virgem uma rosa de ouro. A primeira rosa de ouro fora enviada a Nossa Senhora do Rosário de Fátima pelo Beato Papa Paulo VI através do seu legado, o cardeal Fernando Cento, por ocasião da peregrinação aniversária de 13 de maio de 1965. Na cerimônia da bênção da rosa de ouro, em 28 de março de 1965, o Papa Paulo VI enfatizou o seu profundo valor ao afirmar: “Dizíamos que a rosa é a púrpura dos canteiros, e esta é o símbolo da penitência”.
Em 13 de maio de 2017, por ocasião dos cem anos das aparições de Fátima, o Papa Francisco também se fez presente na Cova da Iria e canonizou os bem-aventurados Francisco e Jacinta Marto, oferecendo para a Igreja e para o mundo estes dois modelos de santidade a serem imitados, eles que tanto rezaram e ofereceram sacrifícios pelos sucessores de Pedro.
Foi certamente a partir do que viveram na aparição de 13 de julho de 1917, dia em que a Virgem Maria evidenciou mais fortemente a dimensão eclesial de sua mensagem, que os pastorinhos se tornaram grandes intercessores do vigário de Cristo na terra, através das suas orações e sacrifícios. Vejamos a narração da terceira parte do Segredo de Fátima, na qual tocamos de maneira peculiar nesta dimensão:
E vimos numa luz imensa que é Deus, algo semelhante a como se veem as pessoas num espelho quando lhe passam por diante um bispo vestido de branco. Tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre. Vários outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subiram uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande cruz de troncos toscos, como se fosse de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meio em ruínas e, meio trêmulo, com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande cruz, foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas… (Memórias da Ir. Lúcia, p. 213)
O Papa São João Paulo II, cujo amor a Nossa Senhora desde a sua juventude é bem conhecido, tornou-se então o intitulado Papa de Fátima, pois ele não hesitou em aplicar à sua pessoa esta parte do segredo acima descrita, visto que, na sua “paixão”, cuja primeira concretização dolorosa foi o atentado de que foi vítima, na Praça de São Pedro, a sua vida e ministério cruzaram-se com a Senhora de Fátima. Ele considerou ter sido salvo graças à sua proteção maternal. Este atentado aconteceu no dia em que se completavam 64 anos da primeira aparição de Fátima, bem como, no mesmo horário da aparição.
“Certa ocasião em que o Bispo de Leiria – Fátima de então passara por Roma, o Papa decidiu entregar-lhe a bala que tinha ficado no jipe depois do atentado, para ser guardada no Santuário. Por iniciativa do Bispo, essa bala foi depois encastoada na coroa da imagem de Nossa Senhora de Fátima.” (Memórias da Ir. Lúcia, p. 219) Esta bala foi unida (e é visível) na sua parte de cima, sem necessitar de qualquer adaptação adicional (da coroa ou da própria bala).
A partir deste marco na história de João Paulo II, a Mensagem de Fátima tornou-se significativamente mais enaltecida pelo Magistério da Igreja. Nas peregrinações que fez ao Santuário de Fátima e nas visitas que, a pedido seu, a Imagem da Capelinha das Aparições fez ao Vaticano e em momentos solenes da vida da Igreja Universal, São João Paulo II sublinhou o carácter sobrenatural e a atualidade salvífica das aparições de Fátima, contribuindo para a credibilidade eclesial e para a dimensão universal da mensagem trazida pela Santíssima Virgem.
Na mesma direção de seu predecessor, o Papa Bento XVI, na sua viagem a Fátima, em maio de 2010, no seu primeiro discurso ainda em Lisboa, enfatiza a credibilidade eclesial da mensagem trazida pela Santíssima Virgem: “Não foi a Igreja que impôs Fátima, diria o Cardeal Manuel Cerejeira, de veneranda memória, mas Fátima que se impôs à Igreja”.
A Ir. Lúcia conta-nos experiências que viveu com Francisco e Jacinta, que mostram o amor que tinham pelo Santo Padre, demonstrado através das orações e sacrifícios que ofereciam a Deus por suas intenções:
Quando, passado algum tempo, estivemos presos, o que mais custava à Jacinta era o abandono dos pais; e dizia, com as lágrimas a correrem-lhe pelas faces: Nem os teus pais nem os meus nos vieram ver. Não se importaram mais de nós! Não chores – lhe disse o Francisco – Oferecemos a Jesus, pelos pecadores. E, levantando os olhos e mãozinhas ao Céu, fez ele o oferecimento: Ó meu Jesus, é por Vosso amor e pela conversão dos pecadores. A Jacinta acrescentou: É também pelo Santo Padre e em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria. (Memórias da Ir. Lúcia, pp. 51-52)
Vejamos mais um relato da Ir. Lúcia:
Um dia, fomos passar as horas da sesta para junto do poço de meus pais. A Jacinta sentou-se nas lajes do poço; o Francisco, comigo, foi procurar o mel silvestre nas silvas dum silvado duma ribanceira que aí havia. Passado um pouco de tempo, a Jacinta chama por mim: Não viste o Santo Padre? Não! Não sei como foi! Eu vi o Santo Padre em uma casa muito grande, de joelhos, diante de uma mesa, com as mãos na cara, a chorar. Fora da casa estava muita gente e uns atiravam-lhe pedras, outros rogavam-lhe pragas e diziam-lhe muitas palavras feias. Coitadinho do Santo Padre! Temos que pedir muito por Ele. (Memórias da Ir. Lúcia, p. 126)
Sobre esta dimensão eclesial da Mensagem de Fátima, destaco também estas palavras da Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa no Centenário das Aparições de Nossa Senhora, em Fátima:
Fátima tem-se irradiado de múltiplas outras formas: milhares de igrejas dedicadas a Nossa Senhora do Rosário de Fátima; em numerosas dioceses [prepara-se e] celebra-se o 13 de maio com a recitação do terço; divulgou-se a prática dos cinco primeiros sábados e intensificou-se a oração do Rosário; multiplicaram-se as publicações para divulgar a mensagem e a espiritualidade de Fátima; surgiram confrarias, associações e movimentos diversos sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário de Fátima; a sua imagem é venerada um pouco por todo o lado; há correntes [movimentos] de espiritualidade que se alimentam da Mensagem de Fátima; e são numerosos os institutos de vida consagrada cujo carisma assenta no compromisso com essa mensagem.
A Mensagem de Fátima é, portanto, reconhecida pela Igreja como revelação privada, pois se aplica a visões e revelações posteriores à morte do último apóstolo (João), quando encerra a Revelação Universal (cf. CIC n. 67).
Assim, se a Igreja aceitou a mensagem de Fátima, é sobretudo porque esta mensagem contém uma verdade e um chamamento que, no seu conteúdo fundamental, são a verdade e o chamamento do próprio Evangelho. “Convertei-vos (fazei penitência), e acreditai na Boa Nova” (cf. Mc. 1,15): são estas as primeiras palavras do Messias dirigidas à humanidade. E a mensagem de Fátima, no seu núcleo fundamental, é o chamamento à conversão e à penitência, como no Evangelho. (São João Paulo II – Homilia de 13 de maio de 1982)
Do livro: A Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados – Áurea Maria.
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TODO DE MARIA. A Devoção Reparadora a Maria e o Santuário.
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