A associação entre Jesus Cristo e a Virgem Maria tem um caráter educativo que marcou definitivamente a vida e a missão de ambos.
A associação de Maria com seu Filho tem um caráter educativo necessário na infância do Menino Jesus. Ele deve principalmente à sua Mãe a sua autoconsciência humana. Negar isso seria colocar em causa a sua humanidade verdadeira. Desta tarefa de despertar o Menino para a consciência de si mesmo deriva “a necessidade de uma pureza absolutamente única na natureza maternal de Maria. Esta exigência sente-se de novo quando se pensa que Maria introduziu o seu Filho no sentido e no âmago da religião de Israel, embora isso possa ter acontecido com palavras muito simples” (Joseph Ratzinger, Maria, Primeira Igreja, p. 101). O canto do Magnificat mostra, em grande medida, que ela vive a partir do centro dessa tradição, que se fundamenta na promessa a Abraão e à sua descendência (cf. Gn 12, 1-3; 17, 7-8).
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A iniciação de Jesus na tradição judaica deve ter acontecido de tal forma que deu a Ele condições de reconhecer a sua missão a partir da promessa feita a Abraão. Pois mais que a sua oração pessoal e o Espírito Santo, que Nele habitava, possam ter feito Ele deduzir com uma profundidade cada vez maior a sua missão, a contribuição humana em grande parte por Maria não pode ser menosprezada, pois isso seria ir contra o processo de aprendizagem de uma criança normal. O contato humano entre Mãe e Filho não são algo de puramente biológico. O essencial se passa no plano espiritual. Por isso, a vida espiritual única de Jesus nos permite concluir a existência de uma vida espiritual correspondentemente única de sua Mãe. Há um enriquecimento recíproco entre ambos. Jesus assume de Maria os seus traços mais sublimes, e esta apreende do Filho as lições de um verdadeiro pai espiritual.
A Virgem Maria educou seu Filho para a Sua missão de Messias, introduzindo-o na Antiga Aliança. Mas, não foi ela, mas o próprio Jesus, no Espírito Santo, que tomou conhecimento do Seu envio por parte do Pai, que lhe mostrou quem é e o que deveria fazer. A partir da consciência de Sua missão, Jesus passa a educar “a Mãe na grandeza de sua missão própria, até que ela esteja amadurecida para ficar de pé junto à cruz (cf. Jo 19, 25) e, finalmente, receber, orando, no interior da Igreja, o Espírito Santo destinado a todos (cf. At 2, 1-4). Esta educação está, desde o princípio, sob o signo da espada profetizada por Simeão, espada que transpassará o coração da Mãe (cf. Lc 2, 35). É um processo inexorável, cujo rigor, severidade, não pode ser amenizado.
Todas as cenas entre Maria e Jesus que nos são transmitidas pelas narrativas da Palavra de Deus são cenas de rejeição mais ou menos bruscas. Todavia, isso não quer dizer que Jesus não tenha sido obediente aos seus pais, o que nos é garantido na narrativa do retorno do Templo para Nazaré (cf. Lc 2, 51). “Mas, de forma soberana e sem rodeios, é combatida a relação meramente física a que, na Antiga Aliança, a fé andava tão ligada: de ora em diante a única coisa que importa é a fé nele, na Palavra de Deus feita homem” (Joseph Ratzinger, Maria, Primeira Igreja, p. 106). Isto se expressa na resposta brusca a Maria, que com José, procurava o Menino perdido aos doze anos (cf. Lc 2, 48), por ocasião da sua apresentação no Templo: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é de meu Pai?” (Lc 2, 49). Jesus opõe o Seu Pai celeste ao pai terrestre. A partir de então só o primeiro conta, quer seus pais da terra compreendam, quer não. Foi justamente a segunda opção que aconteceu: “não compreenderam a palavra que ele lhes falou” (Lc 2, 50).
Assim, a Virgem Maria contribuiu em grande medida na formação e na educação de seu Filho Jesus Cristo. O Senhor deve à sua Mãe a formação humana, mas também religiosa, ensinando a Ele a tradição judaica e a expectativa da promessa de Deus. Aos poucos Jesus tomou consciência de que Nele se realizou a promessa do Pai e que sua Mãe o preparava para o cumprimento de sua missão. Depois de conhecer a Sua própria missão, o Mestre agora estava formando sua Mãe para a difícil missão de seguí-Lo até o Calvário (cf. Jo 19, 25). Por isso, muitas vezes se dirigiu de forma dura a Maria. Ambos se enriqueceram mutuamente com aquilo que tinham de melhor e, de certa forma, podemos fazer o mesmo. Com Jesus e Maria podemos aprender aquilo que eles têm de melhor para sermos formados para a missão que o Senhor nos confia.