A figura da Virgem Maria na Bíblia

Descubra qual a importância da figura da Virgem Maria para compreender a Bíblia e o mistério de Jesus Cristo e da Igreja Católica.

Não procure a figura da Santíssima Virgem Maria na Bíblia, na Palavra de Deus. Procure a Palavra em Maria, pois Ela gera Jesus Cristo, a Palavra de Deus que se fez Carne (cf. Jo 1, 14).

Descubra qual a importância da figura da Virgem Maria para compreender a Bíblia e o mistério de Jesus Cristo e da Igreja Católica.

Bartolomé Esteban Murillo (1617-1682) – La Anunciación (Rijksmuseum – Amsterdam).

Por outro lado, saibamos que as referências bíblicas à Virgem Maria são numerosas. Elas se encontram, sobretudo, nas narrativas evangélicas. Sendo Cristo o centro do Evangelho, as referências a Maria são sempre referidas a Cristo. Porém, ela aparece nos momentos principais que constituem o mistério cristão, que são: a Encarnação, a Páscoa e o Pentecostes[1].

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Nos Evangelhos sinóticos, Mateus apresenta Maria, prometida em casamento a José, como mãe de Jesus, em uma gravidez que se dá por obra do Espírito Santo (cf. Mt 1,18). O evangelista vê em Maria o cumprimento da profecia de Isaías (cf. Is 7, 14), que uma virgem conceberia um filho que seria chamado de Emanuel, que significa Deus Conosco (cf. Mt 1, 22-23). Mateus menciona Maria nos relatos referentes ao nascimento de Jesus (cf. Mt 2, 1-12) e sua fuga para o Egito durante o massacre dos inocentes (cf. Mt 2, 13-23). Mateus, Marcos e Lucas referem-se a Maria como mãe biológica de Jesus (cf. Mt 12, 46-47; 13, 53-56; Mc 3, 31-35; 6, 1-3; Lc 8, 19-20).

Lucas, porém, além de mostrar Maria nos relatos referentes ao nascimento de Jesus (cf. 2,1-20), apresenta os fatos que o antecederam. Maria foi visitada pelo anjo Gabriel ainda jovem, antes de coabitar com José (cf. Lc 1, 26-38). Gabriel revela a primazia da graça de Deus sobre a existência de Maria (cf. Lc 1, 28), pois o Espírito Santo geraria nela Aquele que seria chamado Filho do Altíssimo (cf. Lc 1, 32). A atitude de Maria, dando o seu sim e entregando-se como serva do Senhor (cf. Lc 1, 38) já antecipa o seguimento do seu Filho. Maria mostra sua disposição ao serviço, quando, grávida, foi auxiliar a sua prima Isabel, que por sua vez estava com a gravidez mais adiantada (cf. Lc 1, 39-45.56).

O hino do Magnificat, proclamado por Maria ao Isabel manifestar a alegria de recebê-la, revela a sua humildade e espiritualidade profunda, proclamando as maravilhas que Deus realizou nela e a misericórdia que Ele estende sobre o povo, dispersando os orgulhosos e exaltando os humildes (cf. 1, 46-55); Assim, Maria é Virgem entregue à oração, que antecipa voz da Igreja (cf. Marialis Cultus 18), exaltando e glorificando a Deus. Fez-se discípula de Cristo, proclamando a respeito de si mesma que todas as gerações a chamariam de bem-aventurada (cf. 1,48), sendo que a bem-aventurança no Evangelho é qualidade daqueles que seguem a Cristo e seu Reino (cf. Mt 5,1-11; Lc 6, 20-23). Era fiel na tradição religiosa do seu povo, apresentando Jesus no templo conforme a lei de Moisés (cf. Lc 22,22-38) e o levando todos os anos para Jerusalém por ocasião da Páscoa (cf. Lc 2, 41).

Assista ou ouça ao programa do Padre Paulo Ricardo sobre “Por que nós chamamos a Virgem Maria de Rainha e de Senhora?”:

João apresenta o início dos sinais realizados por Jesus nas bodas de Caná, quando, durante uma festa de casamento, transforma a água em vinho diante da súplica de Maria (cf. Jo 2, 1-11). Como discípula, ela aponta o seguimento de seu Filho e Mestre, dizendo: “Fazei tudo o que ele vos disser!” (cf. Jo 2, 5). Neste discipulado, seguiu Cristo no Calvário até a Cruz (cf. Jo 19, 25), quando a maioria dos discípulos fugiu. João mostra que, aos pés da cruz, Jesus entrega Maria ao próprio Apóstolo e evangelista (cf. Jo 19, 26-27), indicando, a partir da pessoa dele, a maternidade de Maria sobre a Igreja nascente[2]. Este fato encontra eco nos Atos dos Apóstolos, onde Maria aparece em oração com os Apóstolos na expectativa da vinda do Espírito Santo em Pentecostes (cf. At 1, 12-14).

São Paulo menciona Maria em sua maternidade, quando afirma que Deus enviou o seu Filho nascido de uma mulher (cf. Gl 4,4). O livro do Apocalipse apresenta o sinal da mulher vestida de sol que gera um Filho varão que regeria as nações (cf. Ap 12, 1-5) e a reflexão teológica[3]  vê neste sinal não somente o antigo Israel o qual gerou Cristo, nem somente a Igreja que gera Cristo no mundo, mas também Maria que, por sua vez, é figura da Igreja[4], Novo Israel (cf. Rm 11, 17-18). A mulher aparece em um embate contra o dragão (cf. Ap 12, 3-6), identificado como a antiga serpente do livro do Gênesis (cf. Ap 12, 9), que por sua vez menciona um embate entre a descendência de uma mulher e a descendência da serpente (cf. Gn 3,15). Esta luta é vencida pela descendência da mulher; sendo Jesus a descendência da mulher, é possível ver já no Gênesis (cf. Gn 3, 15) uma figura de Maria[5].

No Antigo Testamento, as santas mulheres do povo hebreu, como Judite e Ester, também antecipam a figura de Maria, ao mesmo tempo que, sendo Maria figura da Igreja[6], se identifica com a esposa no livro do Cântico dos Cânticos, chamada de pomba sem defeito e preferida (cf. Ct 6, 9). Também o termo filha de Sião, que se refere primeiramente a Jerusalém (cf. Sf 3, 14), personifica-se em Maria, figura da Igreja, que é o Novo Israel (cf. Rm 11, 17-18).

Autor: Padre Francisco Amaral, sacerdote da Arquidiocese de Cuiabá-MT e vigário da Paróquia Santo Antônio de Várzea Grande. O Sacerdote compartilha algumas de suas homilias em seu canal do Youtube.

Bibliografia:

BÍBLIA DE JERUSALÉM. 3ª Ed. São Paulo: Paulus, 2004.
CANTALAMESSA, Raniero. Maria, um espelho para a Igreja. Aparecida: Santuário, 2012.
PAULO VI, Papa. Carta Encíclica Marialis Cultus. São Paulo: Paulinas, 1974.

Links relacionados:

TODO DE MARIA. A Bíblia e a fé de Abraão e Maria para a Igreja.
TODO DE MARIA. A crise de fé na Igreja e no mundo.
TODO DE MARIA. Fé e caridade: virtudes que não se separam.

Referências:

[1]  Cf. RANIERO CANTALAMESSA. Maria, um espelho para a Igreja. Aparecida: Santuário, 2012, p. 6.
[2]  Cf. PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, 968.
[3]  Cf. CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, 55.
[4]  Cf. idem, 63.
[5]  Cf. BÍBLIA DE JERUSALÉM. 3ª Ed. São Paulo: Paulus, 2004, p. 38.
[6]  Cf. CONCÍLIO VATICANO II. Op. cit., 63.

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