A Quarta-feira de Cinzas e a penitência da Quaresma

Meditemos sobre a Quarta-feira de Cinzas, a brevidade da vida e a necessidade da penitência, especialmente no tempo da Quaresma.

Os insensatos, que não creem na vida eterna, estimulam-se a passarem bem a vida com o pensamento da morte. Nós devemos proceder de maneira bem diferente, pois sabemos, pela fé, que a alma sobrevive depois da separação do seu corpo.Meditemos sobre a Quarta-feira de Cinzas, a brevidade da vida e a necessidade da penitência, especialmente no tempo da Quaresma.

Lembrando-nos de que em breve morreremos, devemos cuidar da nossa eternidade e, por meio de oração e da penitência, aplacar a justiça divina. É com este propósito que a Igreja, depois de pôr as cinzas sobre a nossa cabeça, ordena-nos o jejum da Quaresma.

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Meditemos sobre a terrível situação do corpo depois da morte

Para compreendermos o sentido destas palavras em toda a sua extensão, imaginemos ver uma pessoa que acaba de exalar o último suspiro:

Ó Deus, a cada um que vê este corpo, inspira nojo e horror. Não passaram bem nem vinte e quatro horas depois que aquela pessoa morreu e já o mau cheiro se faz sentir. É preciso abrir as janelas e queimar bastante incenso, a fim de que o fedor não infeccione a casa toda. Os parentes com pressa mandam levar o defunto para fora da casa e entregar à terra.

Metido que foi o cadáver na sepultura, vai se tornando amarelo e depois preto. Em seguida, aparece em todos os membros uma lanugem branca e repelente, donde sai um pus infecto que corre pela terra e donde se gera uma multidão de vermes. Os ratos veem também procurar o pasto neste cadáver, roendo-o uns por fora, ao passo que outros entram na boca e nas entranhas. Despegam-se e caem as faces, os lábios, os cabelos; escarnam-se os braços e as pernas apodrecidas, e afinal os vermes, depois de consumidas todas as carnes, consomem-se a si próprios. E deste corpo só restará um esqueleto fétido, que com o tempo se divide, ficando reduzido a um punhado de pó.

Eis aí o que é o homem, considerado como criatura mortal. Eis aí o estado a que tu também, meu irmão, serás, talvez em breve, reduzido: um punhado de pó fedorento. Nada importa ser alguém moço ou velho, são ou enfermo: a todos caberá a mesma sorte, o que a Igreja recorda pondo as cinzas bentas indistintamente sobre a cabeça de todos: Memento homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris — “Lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te hás de tornar” [1].

Meditemos sobre as razões e o espírito da penitência quaresmal

Os insensatos, que não creem na vida futura e consideram as verdades eternas como fábulas, estimulam-se, com a lembrança da morte, a levar vida folgada e a gozarem dos prazeres deste mundo: “Comedamus et bibamus; cras enim moriemur — Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” (Is 22, 13). Porém, Santo Agostinho diz que o cristão deve proceder de maneira bem diferente, já que, pela fé, sabe que a alma sobrevive depois da morte e que, depois da separação do corpo, terá de prestar contas rigorosíssimas de tudo quanto tiver feito. O cristão sensato, que recorda-se da brevidade da vida neste mundo, cuidará da sua eternidade e procurará aplacar a justiça divina com penitências e orações. É exatamente por isso que a Igreja, depois de colocar as cinzas sobre a nossa cabeça, ordena a seus ministros que informem os fiéis sobre o jejum quaresmal: “Canite tuba in Sion: sanctificate ieiunium — Fazei soar a trombeta em Sião, santificai o jejum” (Jl 2, 15).

Portanto, conformemo-nos com as intenções de nossa boa Mãe, a Igreja Católica, e como ela mesma ordena, sejamos “mais sóbrios em palavras, na comida, na bebida, no sono, nos divertimentos”[2] no santo tempo da Quaresma. Ademais, o que é mais necessário, afastemo-nos mais de toda a culpa, de todo pecado, por meio de uma vida recolhida e consagrada à oração, porquanto, no dizer de São Leão, “sem proveito se subtrai o alimento ao corpo, se o espírito não se afasta mais da iniquidade”[3].

Assista ou ouça ao programa do Padre Paulo Ricardo sobre a “Quarta-feira de Cinzas”:

Oração de Santo Afonso Maria de Ligório para o início da Quaresma

Ó meu amabilíssimo Redentor, consenti que eu una a minha salutar abstinência com a que Vós com tanto rigor por mim quisestes observar no deserto. Consenti também que nesta união eu a ofereça a vosso Pai Divino, como protestação de minha obediência à Igreja, em desconto de meus pecados, pela conversão dos pecadores e em sufrágio das almas santas do purgatório. Tenho intenção de renovar esta oferta todos os dias da Quaresma. “Vós, porém, ó Senhor, concedei-me a graça de começar este solene jejum com devida piedade e de continuá-lo com devoção constante” [4], a fim de que, chegada a Páscoa, depois de ter ressurgido convosco para a vida da graça, seja digno se ressuscitar também para a vida da glória. Fazei-o pelo amor de Maria Santíssima[5].

Links relacionados:

PADRE PAULO RICARDO. Como o cristão de hoje deve se mortificar?
TODO DE MARIA. A mensagem de Lourdes para a Quaresma.
TODO DE MARIA. A Quaresma e o jejum, a esmola e a oração.
TODO DE MARIA. Quaresma: tempo de penitência e conversão.

Referências:


[1]  SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Meditações para todos os dias e festas do ano: Tomo I, p. 288-289.
[2]  Hymn. Quadr.
[3]  SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Op. cit., p. 289.
[4]  Or. Fer. curr.
[5]  SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Op. cit., p. 290.

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