Uma meditação sobre a pobreza de coração: “Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!” (Mt 5, 3).
Este artigo, no qual falaremos da pobreza de coração, é o primeiro da série que a Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus desenvolverá tem como tema as Bem-aventuranças. Nesta série, vamos meditar sobre as boas aventuras da Virgem Maria, para descobrir o que Ela quer nos ensinar. Temos o objetivo de mostrar que a maior e a melhor de todas as “aventuras” é caminhar como verdadeiros predestinados aos Céus. A Virgem Maria já fez a sua conquista sagrada. E ela quer que também alcancemos a máxima felicidade, que é a união definitiva com Deus.
Para começar a nossa reflexão, partimos de algumas perguntas: Você gosta de “aventuras”? Quando você pensa nestas, chega na sua imaginação, esportes radicais, situações de risco, de perigo? Campeonatos, jogos de “sorte e azar”? Imagine alguém atravessar abismos na “corda bamba”, escalar e pular de construções urbanas ou enfrentar uma maratona de dezenas de horas. Estas coisas você considera uma aventura?
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Qual é o sentido de nossas aventuras?
Talvez, para você possam existir outras situações que sejam aventuras… Mas, o que eu chamo à atenção, e quero que você reflita é: você já teve uma aventura? Mesmo que tenha sido um algo passageiro, esta “aventura” tinha um sentido na sua vida? As consequências desta “aventura” te guiaram para uma vida eterna com Deus?
Na história da Igreja, muitos homens e mulheres colocaram suas vidas em risco. Optaram radicalmente por Deus, a ponto de morrerem para esta vida carnal. Estes, a Igreja proclama como “mártires”. Eles tinham um ideal, um sentido religioso de não negar Deus e de permanecer fiéis aos seus mandamentos e preceitos. Tudo o que eles faziam e viviam interiormente era para conquistar a felicidade suprema de permanecer com Deus. Uma boa aventura precisa nos levar a ser Bem-aventurados (este termo bíblico está relacionado com a palavra ventura)1. Ou seja, uma aventura somente é boa se nos levar à felicidade plena, que só se alcança em Deus. Senão, a aventura perde o sentido e se torna uma desventura!
Assista programa da Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus sobre a “Pobreza de Espírito”:
As boas aventuras da Virgem Maria
Podemos dizer que a Virgem Maria viveu “grandes aventuras”, especialmente depois de receber a “Boa Nova” da Encarnação do Verbo de Deus (cf. Lc 1, 26-38). Quantas situações arriscadas ela teve que enfrentar? Nossa Senhora, sendo a Mãe de Deus, teve sofrimentos, tribulações e provações. ela passou por diversos obstáculos, mas não desperdiçou nenhuma oportunidade de demonstrar o seu amor a Deus. Com isso, conquistou a vitória.
Lembremos que a Virgem de Nazaré poderia ter sido apedrejada por estar grávida sem estar casada (cf. Lc 1, 27), conforme prescrevia a Lei judaica. ela também poderia ser presa e ter seu Filho morto quando fugia para o Egito (cf. mt 2, 13-23). Escutou ainda, que uma espada de dor transpassaria a sua alma (cf. Lc 2, 35).
Com certeza, A Virgem Maria passou por situações extremas, de limite físico e psicológico, mas em tudo ela permaneceu de pé (cf. Jo 19, 25). Ou melhor, ela, sendo “Bem-aventurada” por excelência, com o seu coração pobre e humilde, pegou um “voo livre” para o Céu. Por isso, podemos dizer que dela é o Reino dos Céus! (cf. Mt 5, 3). A Virgem Maria teve seus momentos de alegrias e de turbulências. Mas, em tudo tinha um propósito, uma esperança e uma fé que a guiava para os Céus!
As aventuras de um Coração pobre e humilde
No Sermão da Montanha, quando o Senhor Jesus fala do “coração de pobre” (Mt 5, 3), não está necessariamente focado na condição financeira daqueles que não tem riquezas materiais. Para saber o que significa ter um “coração de pobre”, pensemos na vida de Nossa Senhora. Com certeza, a Virgem Maria tinha um “coração pobre”, como tinha também, uma “condição pobre”. Quando a Sagrada família foi apresentar Jesus no templo de Jerusalém, não diz que eles ofereceram um cordeiro, mas assim encontramos no Evangelho de Lucas: “levaram-no a Jerusalém o apresentar ao Senhor […] e para oferecerem o sacrifício prescrito pela lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos” (Lc 2, 24). Esta era a oferta dos pobres, o mínimo que se podia oferecer no Templo.
O Evangelho não diz, mas, com certeza, quando Maria e José tiveram que fugir com Jesus para o Egito, passaram por muitas dificuldades: alimentação, vestuário, higiene e alojamento. Quantas carências de bens e serviços? Literalmente, eles foram excluídos socialmente. Mas toda essa pobreza era superada, pela compreensão de estarem com o essencial. Eles tinham “o Tudo e o Todo” que é Jesus.
Existe, quem queira ser rico, “materialmente” falando: ter poder terreno, encher-se das vanglórias que o mundo oferece! Mas, a nossa Mãe Santíssima, não se preocupou ou se entristeceu por ver seu Filho nascer num estábulo (cf. Lc 2, 7). Não passou por complexos por ter se esvaziado de tantas coisas. Afinal, ela não teve os “apegos” humanos. O poder que ela recebeu, por sua humildade e fidelidade, foi o poder Divino, para ser a Medianeira de Todas as Graças e para pisar na cabeça de Satanás (cf. Gn 3, 15).
Nossa Senhora nos estimula a buscar a uma pobreza e uma humildade tal, que nos faça mendigar pela graça de Deus, por sua justiça e misericórdia, por sua paz e perdão. Pois, só Deus tem a misericórdia capaz de nos restabelecer depois de nossas quedas. Mas, para receber a misericórdia divina, precisamos nos fazer pequenos, nos abandonar nas mãos de Deus.
Assista programa da Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus sobre a “Pobreza – Que o Rei se Encante com Vossa Beleza!”:
A Virgem Maria e a grande aventura da dependência de Deus
Jesus anuncia para seus discípulos uma mudança: “Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!” (Mt 5, 3). Pois, para os judeus, ser pobre, não somente materialmente, mas também intelectual, física e socialmente, era considerado uma maldição, uma desventura. Mas, através da Virgem de Nazaré, Deus mostra que seu favor não depende de poder e riqueza. Ao contrário, Ele prefere aqueles que praticam a justiça, ainda que pobres. Os “pobres de Iahweh”2, são também chamados, em hebraico, de anawim, que significa mendigos. Isto significa que, ainda que não sejamos pobres, ou mendigos, materialmente, precisamos ser mendigos da graça de Deus. A Virgem Maria, no Canto do Magnificat, já nos exortava aos valores do Reino, que estes não podiam ser baseados na opressão e exploração (cf. Lc 1, 52).
Nossa Mãe Santíssima sabe que muitos de seus filhos querem ser bem-sucedidos e se enchem de orgulho. Pensam que tem um grande potencial… Para estes a Mãe de Deus, continua a apontar para Deus, como fez naquele encontro com Isabel: “O Senhor poderoso fez em mim maravilhas” (Lc 1, 49). Nos seus dias aqui na Terra, ela acreditava nas providências de Deus, mas no Céu, ela sabe que o Espírito Santo de Deus pode encher, com a Sua graça, todos aqueles que O invocam.
As almas, quando se entregam na consagração a Jesus por Maria, pela metodologia de São Luís Maria Grignion de Montfort, assim fazem por entenderem que precisamos nos aniquilar, para depender somente de Deus. Mas veja, a graça que Nossa Senhora nos faz enxergar: Quando nos colocamos como pobres filhos de Deus, nos tornamos herdeiros do Céu. Imagine a grandiosidade! Quando entrego tudo, pela consagração monfortina, passo a ter a minha parte na herança do Pai.
Assim, enquanto há pessoas que só querem gastar e comprar constantemente, a sempre Virgem Maria, buscava se consumir e orar incessantemente pela salvação da humanidade. O que esta Mulher nos quer fazer entender é que precisamos acolher o senhorio de Jesus, pois só assim, teremos o Reino dos céus! Parafraseando os santos, devemos ter um coração de pobre: ter bens como se não possuíssemos (cf. 1 Cor 7, 30); não nos desesperar quando perdermos algo; não nos desgastar excessivamente para manter o patrimônio; saber compartilhar: que todos façam parte de minha pobreza e da minha riqueza.
Mara Maria, fundadora da Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus.
Links relacionados:
DISCÍPULOS DA MÃE DE DEUS. História da Fundação.
TODO DE MARIA. Meditações sobre as Bem-aventuranças.
TODO DE MARIA. Mara Carvalho e a Discípulos da Mãe de Deus.
Notas de rodapé:
1 A palavra mencionada neste artigo: “Bem-aventurados” (Mt 5, 3) é a tradução, do original em grego, da palavra makarioi (plural de makarios), que significa felizes, afortunados, bem-aventurados.
2 Iahweh, ou IHWH, é a transliteração do tetragrama sagrado, em hebraico יהוה, que deriva do verbo ser. Esta é forma como os judeus escreviam e continuam a escrever o nome de Deus, que foi revelado a Moisés: “Eu Sou Aquele que Sou” (Ex 3, 14).