A Virgem Maria e a sua singular participação nas três vindas de Jesus Cristo, este Deus que vem sempre ao nosso encontro.
A Santíssima Virgem Maria tem o seu ser intimamente ligado com as vindas de Nosso Senhor Jesus Cristo, este Deus que veio, que vem e que virá. Para entender a presença de Maria nas vindas de Jesus, primeiramente precisamos entender a realidade profunda deste “Deus-que-vem” ao encontro do gênero humano. A antífona 1 da celebração da primeiras vésperas do 1º Domingo do Advento apresenta-se como abertura desse tempo e ressoa como antífona de todo o ano litúrgico: “Transmiti aos povos este anúncio: eis que vem Deus, o nosso Salvador”1. No início do Tempo do Advento, “a liturgia convida a Igreja a renovar o seu anúncio a todos os povos e resume-o com duas palavras: ‘Deus vem’”2. Nesta expressão tão sintética, que tem em si uma força de sugestão sempre nova, não se usa o passado Deus veio, nem o futuro Deus virá, mas sim o presente: “Deus vem”. Trata-se de um presente contínuo, de uma ação sempre em ato: “aconteceu, acontece agora e voltará a acontecer”3. A todo momento, “Deus vem” ao nosso encontro. “O verbo ‘vir’ aparece aqui como um verbo ‘teológico’ e mesmo ‘teologal’, porque diz algo que se refere à própria natureza de Deus. Por conseguinte, anunciar que ‘Deus vem’ equivale simplesmente a anunciar o próprio Deus, através de uma sua característica essencial e qualificadora: o seu ser o Deus-que-vem”4.
Jesus Cristo, este Deus que vem, veio ao mundo pela primeira vez no ventre virginal de Maria Santíssima. Nele, Jesus “achou as suas delícias durante nove meses, operou as suas maravilhas e ostentou as suas riquezas com a magnificência de um Deus”5. Pois, “a Santíssima Virgem é o verdadeiro Paraíso Terrestre do Novo Adão”6, do qual o antigo paraíso não era mais que a sua imagem. “Respira-se neste lugar o ar puro e incontaminado de pureza; nele brilha o dia belo e sem mancha da santa humanidade; irradia o Sol jucundo e sem sombras da Divindade; arde a fornalha ardente e contínua da Caridade, em que todo ferro que é lançado abrasa-se, transformando-se em ouro; nele há um rio de humildade, que brota da Terra, e, dividindo-se em quatro braços, banha este lugar encantado: são as quatro virtudes cardeais”7, pelas quais a Mãe da Igreja orienta os seus filhos. A Virgem Maria é “a Porta Oriental, por onde o grande sacerdote Jesus Cristo entra e sai do mundo8: por Ela entrou a primeira vez, por Ela virá a segunda vez”9.
Deus quis começar e terminar as suas maiores obras pela Virgem Santíssima e não mudará Seu procedimento em todos os séculos10. Pois, “Ele é Deus e não muda nem nos Seus sentimentos nem na sua conduta”11. A Virgem de Nazaré “deu Jesus Cristo ao mundo a primeira vez, e há de fazê-lo resplandecer também segunda vez”12. O Senhor começou a salvação do mundo por Maria, e é por ela que a terminará. “Na primeira vinda de Jesus Cristo, Maria quase não apareceu, a fim de que os homens, ainda pouco instruídos e esclarecidos sobre a pessoa de seu Filho, não se afastassem da verdade, apegando-se muito intensa e grosseiramente a Ela”13. Porém, “na segunda vinda de Jesus Cristo, Maria tem de ser conhecida e, por isso, deve ser manifestada pelo Espírito Santo. Por Ela, fará Conhecer, Amar e Servir Jesus Cristo, uma vez que já não subsistem as razões que o levaram a ocultar, durante a vida, a sua Esposa, e a revelá-la só muito pouco, desde a pregação do Santo Evangelho”14. Principalmente nos últimos tempos, Nossa Senhora será mais conhecida e amada pelos fiéis, e terrível para o Demônio e seus sequazes, como um exército disposto em linha de batalha15. Pois, Satanás intensificará todos os dias seus esforços e combates contra nós, pois sabe bem que pouco tempo lhe resta16 para perder as almas. O Inimigo “suscitará em breve cruéis perseguições, e armará terríveis emboscadas aos servos fiéis e verdadeiros filhos de Maria, pois lhe são precisos mais esforços para vencer estes do que os outros”17.
Deus veio ao mundo por Maria na Encarnação de Jesus Cristo e virá por ela na Parusia, na sua segunda e definitiva vinda. Entretanto, entre estas duas vindas existe uma terceira, que São Bernardo chama “intermédia” e “oculta”. Esta vinda intermediária de Jesus acontece em nossas almas e lança como que uma “ponte” entre a primeira e a última18. Na primeira, Cristo foi a nossa redenção e na última, Ele se manifestará como a nossa vida: nela encontraremos o nosso descanso e a nossa consolação. Na vinda de Cristo em nossas almas, nesta “encarnação espiritual” do Filho de Deus em nós, o arquétipo, enquanto “Ideia” realizada de forma perfeita e inigualável19, é sempre Maria. Como a Virgem Maria conservou no seu coração o Verbo que se fez carne, do mesmo modo somos chamados, em nossa peregrinação terrena, “a esperar Cristo que vem e a acolhê-lo com fé e amor sempre renovados”20.
Assim, nesta expectativa de Jesus Cristo, este Deus que veio, que vem e que virá, deixemo-nos orientar por Maria, Mãe de Deus e Mãe da Esperança. Pois, foi pela Virgem de Nazaré que o Menino Jesus veio ao mundo, é por ela que Ele reina mais perfeitamente em nossos corações e é também por Maria, a Mulher do Apocalipse, que o Senhor Jesus virá em sua glória no fim dos tempos. Especialmente no Advento, acolhamos com muita fé e amor o Cristo, este Deus que vem ao nosso encontro na oração, nos Sacramentos e nos mais pobres e necessitados. Que a Imaculada Conceição, que celebramos há poucos dias, nos conceda a graça de ser “encontrados santos e puros no amor, quando vier nosso Senhor Jesus Cristo, a quem, com o Pai e com o Espírito Santo, sejam dados louvor e glória por todos os séculos. Amém”21. Virgem Maria, Mãe do Belo Amor, rogai por nós!
Referências:
1 PAPA BENTO XVI. Homilia de 2 de Dezembro de 2006. In: Liturgia das Horas I: Tempo do Advento e Natal. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Paulinas; Paulus; Ave-Maria, 1999, p. 108.
2 Idem.
3 Idem.
4 Idem.
5 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 261.
6 Idem, ibidem.
7 Idem, ibidem. As quatro virtudes cardeais são: prudência, temperança, fortaleza e justiça.
8 Cf. Ez 44, 2-3
9 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 262.
10 Cf. Rm 11, 29
11 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 15.
12 Idem, 13.
13 Idem, 49.
14 Idem, ibidem.
15 Ct 6, 3.9
16 Cf. Ap 12, 12.
17 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit.,50.
18 PAPA BENTO XVI. Homilia de 2 de Dezembro de 2006.
19 Cf. CARDEAL JOSEPH RATZINGER; HANS URS VON BALTHASAR. Maria, Primeira Igreja. Coimbra: Coimbra, 1997, p. 143.
20 PAPA BENTO XVI. Homilia de 2 de Dezembro de 2006.
21 Idem.