Saiba como se dá a configuração a Jesus Cristo e o anúncio do Evangelho através do Santo Rosário da Virgem Maria.
O Santo Rosário da Santíssima Virgem Maria tem particular importância na nossa configuração a nosso Senhor Jesus Cristo e no anúncio do Evangelho. Pois, ao contemplarmos o rosto de Cristo na oração do Rosário, configuramo-nos gradativamente a Ele. Além disso, o Rosário é um itinerário de anúncio e aprofundamento da fé, no qual somos formados, em companhia da Virgem do Rosário. Mas, podemos nos perguntar: o que significa configurar-nos a Cristo? Como se dá essa configuração através do Rosário?
Papa São João Paulo II
A espiritualidade católica tem como característica fundamental o empenho de configurar-nos sempre mais com o nosso Mestre (cf. Rm 8, 29; Fl 3, 10.21). A efusão do Espírito Santo no Batismo nos introduz como ramo na videira, que é Cristo (cf. Jo 15, 5), constitui-nos membros do seu Corpo místico (cf. 1 Cor 12, 12; Rm 12, 5). Entretanto, esta unidade inicial com Cristo deve continuar em um caminho de assimilação progressiva a Ele, que oriente sempre mais o nosso comportamento de discípulo, conforme a “lógica” de Cristo: “Tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus” (Fl 2, 5); ou seja, é necessário, segundo as palavras de São Paulo, revestir-nos de Cristo (cf. Rm 13, 14; Gal 3, 27).
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Configurar-se a Cristo com Maria
No caminho espiritual do Rosário, fundado na incessante contemplação do rosto de Cristo na companhia de Maria, alcançamos este ideal exigente de configuração a Ele, através de um trato, podemos dizer, de profunda amizade. Esta nos introduz de modo natural na vida de Cristo e faz com que tenhamos os Seus sentimentos. A este respeito, o Beato Bartolo Longo nos diz:
Tal como dois amigos, que se encontram constantemente, costumam configurar-se até mesmo nos hábitos, assim também nós, conversando familiarmente com Jesus e a Virgem, ao meditar os mistérios do Rosário, vivendo unidos uma mesma vida pela Comunhão, podemos vir a ser, por quanto possível à nossa pequenez, semelhantes a Eles, e aprender destes supremos modelos a vida humilde, pobre, escondida, paciente e perfeita[1].
Neste processo de configuração a Cristo através do Rosário, confiamo-nos, de modo particular, à ação maternal da Virgem Santíssima. Aquela que é Mãe de Cristo e pertence à Igreja como seu “membro eminente e inteiramente singular”[2] é, ao mesmo tempo, a “Mãe da Igreja”[3]. Como tal, “gera” continuamente filhos para o Corpo místico do Filho, mediante a intercessão, implorando para eles a efusão inesgotável do Espírito. Dessa forma, ela é o perfeito ícone da maternidade da Igreja.
O Rosário da Virgem Maria e a consagração a Jesus Cristo
A meditação do Santo Rosário transporta-nos misticamente para junto da Virgem Maria, totalmente dedicada a acompanhar o crescimento humano de seu Filho Jesus Cristo, na humilde casa de Nazaré. Esta união mística permite-lhe educar-nos e plasmar-nos, com a mesma solicitude, até que Cristo esteja plenamente formado em nós (cf. Gl 4, 19). Esta ação de Nossa Senhora, profunda e totalmente fundada sobre a ação de Cristo e a esta radicalmente subordinada, “não impede minimamente a união imediata dos crentes com Cristo, antes a facilita”[4]. Este é o princípio luminoso, expresso pelo Concílio Vaticano II, que o Papa São João Paulo II provou com tanta força na sua vida a ponto de colocá-lo na base do seu lema episcopal: “Totus Tuus”, que foi inspirado na doutrina de São Luís Maria Grignion de Montfort, que assim explica o papel de Maria no processo de configuração a Cristo de cada um de nós:
Toda a nossa perfeição consiste em sermos configurados, unidos e consagrados a Jesus Cristo. Portanto, a mais perfeita de todas as devoções é incontestavelmente aquela que nos configura, une e consagra mais perfeitamente a Jesus Cristo. Ora, sendo Maria entre todas as criaturas a mais configurada a Jesus Cristo, daí se conclui que de todas as devoções, a que melhor consagra e configura uma alma a Nosso Senhor é a devoção a Maria, sua santa Mãe; e quanto mais uma alma for consagrada a Maria, tanto mais será a Jesus Cristo[5].
Em nenhuma outra devoção o caminho de Cristo e o de Maria aparecem unidos tão profundamente como na oração do Rosário. Pois, a Virgem Maria só vive em Cristo e em função de Cristo!
Assista palestra do Padre Paulo Ricardo com o tema “O Papa de Maria!“:
Ouça palestra do Padre Paulo Ricardo com o tema “O Papa de Maria!“:
O Rosário e o anúncio de Cristo com Maria
O Santo Rosário é um itinerário de anúncio e aprofundamento da fé, no qual o mistério de Cristo é continuamente oferecido aos diversos níveis da experiência cristã. Trata-se de uma apresentação orante e contemplativa do Terço, que visa plasmar o discípulo segundo o Coração de Cristo. De fato, se na recitação do Rosário todos os elementos para uma meditação eficaz forem devidamente valorizados, – especialmente na celebração comunitária nas paróquias e nos santuários – este torna-se uma significativa oportunidade catequética que devemos saber aproveitar, especialmente os Pastores de almas. Dessa forma, a Virgem do Rosário continua também a sua obra de anúncio de Cristo.
A história do Rosário mostra como esta oração foi muito importante num momento difícil para a Igreja, por causa da difusão da heresia. Como outrora, hoje encontramo-nos diante de novos desafios. Por isso, ouçamos o que nos diz o Papa São João Paulo II: “Porque não retomar na mão o Terço com a fé dos que nos precederam? O Rosário conserva toda a sua força e permanece um recurso não descurável na bagagem pastoral de todo o bom evangelizador”[6].
Nossa Senhora do Rosário, rogai por nós!
Obs.: Este artigo é a segunda parte da resposta à mensagem de Paulo Glicério de C. Reis, que tem uma dúvida teológica sobre o Santo Rosário. A primeira parte e a terceira podem ser acessadas nos seguintes links:
TODO DE MARIA. O Terço é uma oração mariana ou cristológica?
TODO DE MARIA. O Rosário, a súplica a Cristo com Maria e a meditação.
Links relacionados:
TODO DE MARIA. A origem do Rosário de Nossa Senhora.
TODO DE MARIA. Nossa Senhora e o santíssimo Rosário.
TODO DE MARIA. Um homem transformado pelo Rosário.
Referências:
[1] BEATO BARTOLO LONGO. Os Quinze Sábados do Santíssimo Rosário, 27, ed. Pompeia, 1916, p. 27. In PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, 15.
[2] CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, 53.
[3] PAPA PAULO VI. Exortação Apostólica Marialis Cultus.}
[4] CONCÍLIO VATICANO II. Op. cit., 60.
[5] SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, 120.
[6] PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, 17.
