O significado do Rosário da Virgem Maria

Conheça o significado do Rosário da Virgem Maria e qual a sua importância para a nossa vida espiritual.

Conhecer o significado do Rosário da Santíssima Virgem Maria faz toda a diferença em nossa caminhada de fé. No entanto, devido à riqueza dos mistérios nele contemplados, que tem como centro Jesus Cristo, é impossível esgotar as excelências desta oração mariana. Sendo assim, trataremos do significado do rosário a partir de três perspectivas teológicas.

Conheça o significado do Rosário da Virgem Maria e qual a sua importância para a nossa vida espiritual.

Nossa Senhora do Rosário de Fátima

Em primeiro lugar, a oração do Santo Rosário tem seu significado fundamentado na mais profunda e autêntica espiritualidade católica, que tem suas raízes na experiência de nossos pais na fé. Por conseguinte, o Rosário atualiza em nossas vidas a experiência de fé da Antiga e da Nova Aliança, através das meditações de passagens do Santo Evangelho. Dessa forma, meditando os mistérios de Cristo, nos deparamos com o nosso próprio mistério, que somente Ele pode nos revelar[1].

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O Rosário como contemplação de Cristo com Maria

A contemplação da Virgem Maria a respeito dos mistérios de seu divino Filho é primeiramente recordação ou memorial, que faz parte da religiosidade judaica. Esta ação de Nossa Senhora deve ser entendida no sentido bíblico da palavra memória, que em hebraico se traduz por zikaron, que significa a atualização das obras realizadas por Deus na história da salvação. As Sagradas Escrituras são formadas por vários livros, de diversos estilos e formas, que culminam na pessoa de Jesus Cristo. A princípio, os fatos narrados na Bíblia podem parecer muito distantes de nós. No entanto, estes também fazem parte da atualidade na história da salvação de todo gênero humano e, ao mesmo tempo, de cada um de nós em particular.

O memorial, ou atualização, desses acontecimentos salvíficos realiza-se de modo particular na Liturgia. O que Deus realizou desde o início da obra da Criação não estava relacionado somente com as testemunhas diretas dos acontecimentos, mas diz respeito a todos nós, à toda a humanidade, desde o princípio até o fim dos tempos. Esta atualização, de certo modo, vale também para outras formas de ligação com aqueles acontecimentos: “‘fazer memória deles’, em atitude de fé e de amor, significa abrir-se à graça que Cristo nos obteve com os seus mistérios de vida, morte e ressurreição”[2].

A Liturgia da celebração da Eucaristia, enquanto exercício do ofício sacerdotal de Jesus Cristo e culto público, é “a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força”[3]. No entanto, não esqueçamos que a participação na Santa Missa não esgota a vida espiritual. Todos nós somos chamados à oração comunitária. Devemos também orar em particular, entrar em nosso quarto e rezar a sós ao Pai (cf. Mt 6, 6). Pois, segundo ensina São Paulo, o Apóstolo dos Gentios, devemos rezar sem cessar (cf. 1 Ts 5, 17).

O Santo Rosário, com a sua particularidade, encontra-se neste quadro diversificado dessa oração contínua. Se a Liturgia, enquanto ação de Jesus Cristo e da Santa Igreja, é ação salvífica por excelência, o Santo Rosário, enquanto meditação sobre Cristo com Maria, é contemplação salutar desta ação. Ao entrarmos, de mistério em mistério, na vida de Jesus Cristo, tudo aquilo que Ele realizou, e a Liturgia atualiza, é profundamente assimilado em nós e modela a nossa existência.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre “Padre Pio e ‘la Madonna’”:

O Rosário como compêndio do Evangelho

Somos introduzidos na contemplação do rosto de Cristo quando escutamos, no Espírito Santo, a voz do Pai. Pois, “ninguém conhece o Filho, senão o Pai” (Mt 11, 27). Na confissão de fé de Pedro, o próprio Cristo nos revelou a fonte de tão clara intuição a respeito da Sua identidade: “Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus” (Mt 16, 17). Isto significa que para conhecer Jesus Cristo é necessária a revelação do alto. Todavia, para acolhê-la, é indispensável colocar-nos à escuta: “Só a experiência do silêncio e da oração oferece o ambiente adequado para maturar e desenvolver-se um conhecimento mais verdadeiro, aderente e coerente daquele mistério”[4].

O Rosário da Virgem Maria é um dos caminhos tradicionais de oração da Igreja Católica aplicado à contemplação do rosto de Cristo. Nesse sentido, disse o Papa Paulo VI a respeito do Rosário: “Oração evangélica, centrada sobre o mistério da Encarnação redentora, o Rosário é, por isso mesmo, uma prece de orientação profundamente cristológica”[5]. O elemento mais característico desta oração, que é a repetição da Ave-Maria, é um louvor incessante ao Filho de Deus, objetivo último da Anunciação do Arcanjo Gabriel (cf. Lc 1, 26-38) e da saudação de Santa Isabel a Virgem Maria: “Bendito o fruto do teu ventre” (Lc 1, 42). Diremos mais ainda: a repetição da Ave-Maria constitui o enredo sobre o qual se desenrola a contemplação dos mistérios de Cristo. A pessoa divina de Jesus que cada Ave-Maria relembra é a mesma que a sucessão dos mistérios propõe, como Filho de Deus e de Nossa Senhora.

O Rosário consolidou-se na contemplação de alguns dos mistérios da vida de Cristo. A estruturação originária desta oração adotou as 150 Ave-Marias, de acordo com o número dos Salmos, para que se configurasse como saltério dos leigos. Com todo respeito à longa tradição desta oração, o Papa João Paulo II quis reforçar o caráter cristológico do Rosário, com a inserção dos mistérios da vida pública de Jesus ou mistérios da luz. Esta inserção, longe de ser uma imposição, foi deixada à livre valorização de cada pessoa e das comunidades.

Nos mistérios luminosos, contemplamos aspectos importantes da pessoa de Cristo, como revelador definitivo de Deus. Jesus Cristo, declarado Filho amado do Pai no Batismo do Jordão (cf. Lc 3, 22), anuncia a vinda do Reino de Deus, testemunha-o com as obras e proclama as suas exigências. Nesses anos da sua vida pública, nos quais o Seu mistério se manifesta, Jesus mostra-se particularmente como mistério de luz: “Enquanto estou no mundo, sou a Luz do mundo” (Jo 9, 5).

Para que o Rosário fosse considerado mais plenamente um compêndio do Evangelho[6], é conveniente que – depois de recordar a encarnação e a vida oculta de Jesus, nos mistérios gozosos, e antes de nos deter nos sofrimentos da Sua paixão, nos mistérios dolorosos, e no triunfo da Sua ressurreição, nos mistérios gloriosos – nos concentremos na meditação sobre alguns momentos particularmente significativos da Sua vida pública: os mistérios da luz. “Esta inserção de novos mistérios, sem prejudicar nenhum aspecto essencial do esquema tradicional desta oração, visa fazê-la viver com renovado interesse na espiritualidade cristã, como verdadeira introdução na profundidade do Coração de Cristo, abismo de alegria e de luz, de dor e de glória”[7].

O Rosário, o mistério de Cristo e o mistério do homem

Ao som das palavras da “Ave-Maria” contemplamos com os olhos da alma os principais episódios da vida de Jesus Cristo. Os mistérios do Santo Rosário nos colocam “em comunhão viva com Jesus através — poderíamos dizer — do Coração de Sua Mãe”[8]. Ao mesmo tempo, o nosso coração pode incluir nas dezenas do Rosário todos os acontecimentos de nossas vidas, de nossas famílias, da nossa nação, da Igreja e da humanidade. “Assim a oração simples do Rosário marca o ritmo da vida humana”[9].

Quem contempla Jesus Cristo, os mistérios da sua vida, não pode deixar de aprender d’Ele a verdade sobre o homem. “Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente”[10]. O Rosário ajuda a abrir-nos a esta Luz, que é Cristo. Seguindo o caminho de Jesus, no qual o caminho do homem é recordado, manifestado e redimido, colocamo-nos diante da imagem do homem verdadeiro. Contemplando o nascimento do Filho de Maria, aprendemos a sacralidade da vida; olhando para a casa de Nazaré, aprendemos a verdade originária da família, segundo o desígnio de Deus; escutando o divino Mestre nos mistérios da Sua vida pública, recebemos a luz para entrar no Reino de Deus; e, seguindo-O no caminho para o Calvário, aprendemos o sentido salvífico do sofrimento. Contemplando Jesus Cristo e sua Mãe Santíssima na glória celeste, vemos a meta para a qual cada um de nós é chamado, se nos deixarmos curar e transfigurar pelo Espírito Santo. Podemos dizer que cada mistério do Rosário, bem meditado, ilumina o mistério do homem.

Ao meditar o Santo Rosário, levamos a este encontro com a humanidade de Cristo os numerosos problemas, aflições, fadigas, projetos presentes em nossas vidas, como nos diz o salmista: “Depõe no Senhor os teus cuidados, porque ele será teu sustentáculo” (Sal 55, 23). “Meditar com o Rosário significa entregar os nossos cuidados aos corações misericordiosos de Cristo e da sua Mãe”[11]. O Rosário marca o ritmo das nossas vidas para harmonizá-las com o ritmo da vida divina, na gozosa comunhão da Santíssima Trindade, destino e aspiração das nossas existências.

O Santo Rosário da Virgem Maria é oração contemplativa acessível a todos: grandes e pequenos, leigos e clérigos, doutos e pouco instruídos. O Rosário é um vínculo espiritual com Nossa Senhora, para permanecermos unidos a Jesus Cristo, para nos colocar diante d’Ele, para assimilarmos os Seus sentimentos e para nos comportar como Ele se comportava. Por fim, “o rosário é uma ‘arma’ espiritual na luta contra o mal, contra toda a violência, para a paz nos corações, nas famílias, na sociedade e no mundo”[12].

Assim, tendo conhecido um pouco mais sobre o significado e as excelências da sublime devoção do Santo Rosário, apliquemo-nos ainda mais na oração, na meditação e na contemplação dos mistérios de Jesus Cristo com a Virgem Maria, para que estes iluminem os mistérios de nossa existência.

Nossa Senhora do Rosário, rogai por nós!

Links relacionados:

TODO DE MARIA. A origem do Rosário de Nossa Senhora.

TODO DE MARIA. O Rosário, a mudança de vida e o destino.

TODO DE MARIA. O Rosário meditado de São Luiz Maria.

TODO DE MARIA. Os Papas e o Rosário de Nossa Senhora.

Referências:


[1]  Cf. CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Pastoral Gaudium et Spes, 22.

[2]  PAPA JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, 13.

[4]  PAPA JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Novo millennio ineunte, 20.

[6]  Idem, 42. Pio XII, Carta Philippinas Insulas, ao Arcebispo de Manila: AAS 38 (1946), p. 419.

[7]  PAPA JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, 19.

[8]  PAPA JOÃO PAULO II. Angelus, 29 de Outubro de 1978.

[9]  Idem.

[10]  CONCÍLIO VATICANO II. Op. cit., 22.

[11]  PAPA JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, 25.

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