Os três corações de Maria e a união com Deus

Conheça a teologia de São João Eudes dos três corações e da íntima união da Virgem Maria com Deus.

Na humanidade da Santíssima Virgem Maria havia três corações em perfeita harmonia entre si e em perfeita união com Deus. São João Eudes foi o maior teólogo e santo da Igreja Católica que tratou desse tema tão caro a nós, que é o do Imaculado Coração de Maria. Este Santo viveu há 300 anos e foi contemporâneo de São Luís Maria Grignion de Montfort, o grande apóstolo da consagração a Nossa Senhora.

Conheça a teologia de São João Eudes dos três corações e da íntima união da Virgem Maria com Deus.

O Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria

São João Eudes é o grande mensageiro e promovedor da devoção ao Coração de Maria. Em sua obra, intitulada: “O Admirável Coração de Maria”, João Eudes desenvolve todo um arrazoado teológico a respeito do Coração de Maria, primeiramente, respondendo a uma pergunta: o que é que nós veneramos na devoção ao Coração Imaculado de Maria?

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A humanidade e seus três corações

Em primeiro lugar, esclarecemos que não estamos falando do coração de carne. Nós falamos de coração porque esta é a palavra que está na Bíblia. Esta é a palavra que é usada, tanto no hebraico do Antigo Testamento: לב (lev), quanto no grego do Novo Testamento: καρδια (cardia). Por trás dessa palavra, está toda uma realidade que é simbolizada pelo coração enquanto órgão corporal, físico, material.

Poderíamos dividir o coração, tanto o de Jesus como o de Maria, bem como o nosso coração, em três corações, que deveriam ser um. Em Jesus e Maria são um, mas em nós há uma divisão entre eles, por causa do pecado.

O primeiro coração é a realidade das nossas paixões, nosso coração carnal, animal, ou seja, a nossa vida interior enquanto ela é movida por amor ou por ódio, por emoções, isso é o nosso coração carnal. Evidentemente que se formos procurar um órgão no corpo que está ligado a essas paixões, estamos falando no cérebro, que repercute no coração. Pois, as batidas do coração se alteram com as nossas emoções. Por isso, desde a antiguidade, o coração simboliza essas alterações passionais.

Não temos somente esse coração, mas temos também o coração que é a nossa alma. Esta, com suas faculdades, especialmente a memória, pode dizer: eu guardei tudo em meu coração. Podemos dizer também: eu medito essas realidades no meu coração, como Nossa Senhora, que meditava os acontecimentos em seu coração (cf. Lc 2, 19.51). A alma, com a inteligência, a memória e a vontade, são este segundo coração.

Temos ainda um terceiro, que chamamos de coração divino, onde a Santíssima Trindade habita em nós. O Espírito Santo está neste coração e com Ele estão o Pai e o Filho. O Cristo ressuscitado age nesse coração quando nós comungamos bem e recebemos essas graças atuais.

A unidade dos três corações na Virgem Maria

Toda esta vida interior, esses três corações, em Nossa Senhora, era uma realidade só. Porque o seu interior não é um campo de batalha. Mas, no nosso coração carnal, as nossas paixões, puxam para um lado, enquanto Deus, Coração divino, tenta nos chamar para outro. No meio, está o nosso coração espiritual, que às vezes ouve a Deus e faz atos de virtude. Entretanto, às vezes, volta as costas para Ele e se deixa carregar pelas paixões, cometendo atos de pecado. Como nosso interior é um campo de batalha, talvez não compreendamos a profunda unidade do Coração de Jesus e do Coração de Maria. Essa unidade do coração é o que nos capacita a amar.

Se esta é a realidade interior da Virgem Maria, podemos perguntar: por que temos que ter devoção ao seu Coração? Ora, nós temos que ter devoção àquilo que está unido a Deus. Pois, todo ato de religião deve terminar em Deus. Uma coisa deve ser objeto da nossa devoção na medida em que ela está unida a Deus. Então, quanto mais unida a Deus está unida uma criatura, mais devoção nós devemos ter a ela. Quanto menos unida a Deus, menos devemos ter devoção a ela.

Os protestantes, de um modo geral, não compreendem essa realidade. Eles acham que de um lado está Deus e de outro está a criatura. As duas realidades estão separadas: ou olhamos para Deus e O adoramos, ou voltamos as costas para Ele e cometemos um ato de idolatria com uma criatura. Para um protestante, é tudo ou nada. No entanto, as coisas não são assim. O que acontece é que na criação existem coisas que se unem a Deus e, quanto mais elas se unem a Ele, mais nós devemos ter devoção a elas, porque nos levam para Deus. Essas realidades são instrumentos de nossa união com Deus.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo com o tema: “O Imaculado Coração triunfará!”:

A hierarquia da união dos corações com Deus

A primeiríssima realidade que está unida a Deus é a divina humanidade de nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus, enquanto corpo e alma, enquanto coração humano, é a realidade criada mais unida a Deus, a mais perfeita unidade criada por Ele. Não é possível imaginar uma unidade maior entre Criador e realidade criada do que na humanidade de Cristo. A essa unidade tremenda entre Deus e a humanidade nós chamamos de união hipostática.

Jesus Cristo, como diz a Carta aos Filipenses, foi elevado e recebeu um nome que está acima de todos os nomes, de tal forma que nós Céus, na Terra e nos infernos todo joelho se dobre e toda língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai (cf. Fl 2, 9-11). A humanidade de Cristo tem esse senhorio sobre toda a criação, porque está profundamente unida a Deus, de tal forma que Ele é o caminho que nos une ao Senhor. Por causa dessa unidade, devemos adorar a divina humanidade de nosso Senhor Jesus Cristo.

Na teologia católica, sabemos que no Céu existe uma hierarquia. Os anjos e os santos não estão unidos a Deus todos no mesmo grau. A honra que devemos a eles é proporcional à unidade deles com Deus, ou seja, existe maior ou menor união com Ele. Então, os anjos que estão nas hierarquias mais elevadas devem receber de nós uma admiração maior. Os anjos inferiores devem ser menos admirados, pois estão menos unidos a Deus.

De todas as realidades celestes, existe alguma criatura que está mais unida a Deus do que a Virgem Maria? Acima dela, somente a humanidade de seu Filho. Não há teólogo ou fiel verdadeiramente católico que negue que Nossa Senhora está cima até mesmo dos anjos mais elevados. Ela está acima de todos os anjos e de todos os santos e acima dela somente Jesus Cristo. Ora, se acima dela somente Jesus, então não há nenhuma criatura mais unida a Deus do que o Coração de Maria.

A unidade dos corações de Maria com Deus

A Virgem Maria está unida intimamente a Deus e, exatamente por isso, nós podemos ter devoção a ela. Toda devoção deve terminar em Deus, senão seria idolatria. Quando nós temos uma grande devoção a Nossa Senhora é porque ela é um grande instrumento para nos unir a Deus, para nos levar ao culto do Senhor.

A união entre a Santíssima Virgem e Deus é – depois da união hipostática, a união criada mais perfeita e absoluta – a mais perfeita. Nenhuma criatura está mais unida a Deus, excetuada a humanidade de Cristo, do que a Virgem Maria. Isso significa que, depois da união hipostática, a união de Maria com Deus é a maior de todas as uniões e, se é a maior de todas as uniões, deve ser a maior de todas as devoções. Pois, devemos ter devoção a tudo aquilo que está unido a Deus, àquilo que nos leva para Ele.

Em Cristo, a sua pessoa divina une a humanidade e a divindade. O que une Maria a Deus é o seu Coração, porque na essência de sua alma foram derramadas todas as graças, de tal forma que ela está unida, pelo Espírito Santo, ao seu divino Filho. Dessa forma, essa unidade se dá no Coração de Maria. Por conseguinte, a unidade entre o Coração de Jesus e o Coração de Maria não poderia ser maior. São Paulo diz na Carta aos Gálatas: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20). Se São Paulo pode dizer que é o Cristo que vive nele, muito mais pode dizer a Virgem Maria que Cristo vive nela. Nos Atos do Apóstolos está escrito que os cristãos eram um só coração e uma só alma (cf. At 4, 32). Se os cristãos, pela caridade que os unia, eram um só coração, como não dizer que Maria era um só Coração com Jesus?

Na unidade do Coração de Maria nós podemos dizer que não havia um único movimento passional, mas havia uma perfeita sintonia com o Coração de seu Filho, que foi aperfeiçoada no Céu. Podemos dizer que o coração de Maria é um reflexo do Coração de Cristo. Por isso, ela merece a nossa mais sublime e elevada devoção, de forma que o culto prestado a Maria tem um nome especial. O culto prestado a Jesus é de adoração e a Maria, de hiperdulia. Ou seja, o culto prestado a Nossa Senhora deve ser maior do que qualquer culto prestado aos anjos e aos santos.

Fonte: PADRE PAULO RICARDO. O Imaculado Coração triunfará!

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