Por que Nossa Senhora é Rainha?

Saiba porque Nossa Senhora é venerada e celebrada na Igreja sob o título de Rainha.

Por que Nossa Senhora é Rainha?

Nossa Senhora Rainha

A devoção popular invoca e a liturgia celebra Nossa Senhora como Rainha. O Concílio Vaticano II, através da Constituição Dogmática Lumen Gentium, depois de recordar a Assunção da Virgem “à glória celeste em corpo e alma”, ensina que Nossa Senhora foi “exaltada por Deus como Rainha do universo, para assim se conformar mais plenamente com seu Filho, Senhor dos senhores1 e vencedor do pecado e da morte”2. O título de Rainha começa a ser atribuído a Maria a partir do século V, quase no mesmo período em que o Concílio de Éfeso3 a proclama “Mãe de Deus”4. Com o “reconhecimento da sua excelsa dignidade, o povo cristão quer colocá-la acima de todas as criaturas, exaltando a sua função e importância na vida de cada pessoa individualmente e do mundo inteiro”5.

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O Papa Pio XII, na Encíclica Ad Coeli Reginam, explica que o fundamento da realeza da Virgem Maria não é somente a maternidade divina, mas também a sua cooperação na obra da redenção: “Santa Maria, Rainha do céu e Soberana do mundo, participava no sofrimento, junto da Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”6. Nesta Encíclica, Pio XII estabelece uma analogia entre a Virgem Maria e Jesus Cristo, que nos ajuda a compreender o significado da realeza da Mãe de Deus: Jesus é Rei porque é Filho de Deus e também porque é Redentor; de modo análogo, Nossa Senhora é Rainha porque é Mãe de Deus e também porque, associada como nova Eva ao novo Adão, cooperou na obra da redenção do gênero humano.

Segundo a tradição da Igreja e a sagrada liturgia, o principal argumento que fundamenta a dignidade régia de Maria é a maternidade divina. O Filho que Maria deu à luz é o “Filho do Altíssimo e o Senhor Deus dar-lhe-á o trono de Davi, seu pai; reinará na casa de Jacó eternamente, e o seu reino não terá fim”7. A maternidade divina de Maria é confirmada e proclamada em seu encontro com Isabel, que a chama de “Mãe do meu Senhor”8. A Virgem Maria é Rainha porque deu à luz o Filho de Deus, que “no instante da Sua concepção, mesmo como homem, era Rei e Senhor de todas as coisas, pela união hipostática9 da natureza humana com o Verbo”10. Maria “tornou-se verdadeiramente senhora de toda a criação, no momento em que se tornou Mãe do Criador”11. Por isso, o arcanjo Gabriel pode ser chamado o primeiro anunciador da dignidade real de Maria. Entretanto, Nossa Senhora deve proclamar-se Rainha, não só pela sua maternidade divina, mas também pela missão singular que Deus lhe confiou na obra da salvação.

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A Virgem Maria está intimamente associada a Cristo na obra da Redenção, por isso se canta na sagrada liturgia: “Santa Maria, rainha do céu e senhora do mundo, estava traspassada de dor, ao pé da cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”12. De fato, como Cristo, que pela realização do mistério da Redenção é nosso Senhor e Rei, Maria é senhora nossa pela sua singular cooperação na obra da Salvação, “subministrando a sua substância e oferecendo voluntariamente por nós o Filho Jesus, desejando, pedindo e procurando de modo singular a nossa salvação”13.

No mistério da nossa redenção, realizou-se a “recapitulação”14, pela qual o gênero humano, sujeito à morte por causa da virgem Eva, salva-se também por meio de uma Virgem, que é Maria. Esta gloriosíssima Senhora foi escolhida para ser Mãe de Cristo e para associar-se na Redenção do gênero humano. A Virgem das Dores “ofereceu no Gólgota ao eterno Pai, sacrificando juntamente, qual nova Eva, os direitos e o amor de mãe em benefício de toda a posteridade de Adão, manchada pela sua desventurada queda”15. Por isso, da mesma forma como Cristo, o novo Adão, deve ser chamado de Rei, não só porque é Filho de Deus, mas também porque é nosso redentor, a Virgem Maria é rainha, não só porque é Mãe de Deus mas também porque, como Nova Eva, Maria associou-se ao Novo Adão.

Portanto, segundo a tradição da Igreja e a sagrada liturgia, a Virgem Maria pode e deve legitimamente ser venerada como Rainha do universo. Pois, Nossa Senhora foi a única que participou diretamente, de modo singular, na obra da Salvação da humanidade, realizada por seu Filho Jesus Cristo. Nossa Senhora é venerada sob o título de Rainha porque é Mãe do “Rei dos reis e Senhor dos senhores”16 e está associada no mistério da Redenção até a “consumação eterna de todos os eleitos”17. Maria é a Nova Eva, que deu à luz a Jesus Cristo, o Novo Adão, e associou-se na obra da Salvação, por isso, tornou-se Rainha dos corações. Nossa Senhora Rainha, rogai por nós!

Referências:

1 Cf. Ap 19, 16.

3 O Primeiro Concílio de Éfeso foi realizado em 431.

4 “Mãe de Deus”, Theotókos em grego, é o título atribuído oficialmente a Virgem Maria no século V, no Concílio de Éfeso de 431, confirmado pela devoção do povo cristão já a partir do século III, no contexto dos intensos debates daquele período sobre a pessoa de Cristo (cf. PAPA BENTO XVI, A divina maternidade de Maria, Audiência Geral de 2 de Janeiro de 2008).

5 JOÃO PAULO II. A Rainha do Universo. Audiência Geral de 23 de Julho de 1997.

6 PAPA PIO XII. Carta Encíclica Ad Caeli Reginam, 35.

7 Lc 1, 32-33.

8 Lc 1, 43.

9 União hipostática: termo técnico usado na Teologia que significa a a forma pela qual Deus e a humanidade estão unidos em Jesus Cristo (cf. PADRE PAULO RICARDO. O que é a união hipostática?).

10 PAPA PIO XII. Carta Encíclica Ad Caeli Reginam, 33.

11 SÃO JOÃO DAMASCENO. De fide orthodoxa, 1. IV, c.14, PG 94,1158s.B. In PAPA PIO XII. PAPA PIO XII. Carta Encíclica Ad Caeli Reginam, 33.

12 Festa aeptem dolorum B. Mariae Virg., Tractus. In PAPA PIO XII. Carta Encíclica Ad Caeli Reginam, 35.

13 PAPA PIO XII. Carta Encíclica Ad Caeli Reginam, 35.

14 SANTO IRENEU, Adversus haereses, V,19,1: PG 9,1175B. In PAPA PIO XII. Carta Encíclica Ad Caeli Reginam, 35.

15 PAPA PIO XII. Carta Encíclica Mystici Corporis: AAS 35(1943), p. 247. In PAPA PIO XII. Carta Encíclica Ad Caeli Reginam, 35.

16 Ap 19, 16.

17 CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, 62.

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